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Menos de metade dos alunos da rede estadual de SP acessa ensino online na quarentena

Há duas semanas, governo disponibiliza aulas por app, TV e apostila; aplicativo é única plataforma completa

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São Paulo

Após pouco mais de duas semanas oficialmente no ar, o aplicativo lançado pelo governo de São Paulo para ensino online durante a pandemia de coronavírus foi acessado por 1,6 milhão de alunos, menos da metade dos 3,5 milhões da rede estadual paulista (47%).

A questão pode se colocar como um problema grave, dado que o estado, por ora, não prevê rever o ano letivo. A rede estadual responde por 35% de todos os alunos no estado.

O dado de 1,6 milhão se refere ao número de estudantes que já fizeram login na plataforma. Não significa que, após se logar, eles estejam de fato assistindo a todas as aulas que deveriam acompanhar.

A dificuldade de incluir todos os alunos em uma estrutura de ensino remoto montada em pouco tempo é generalizada no país.

Assim como em outros estados, a Secretaria da Educação de São Paulo disponibiliza, além do conteúdo online, aulas pela televisão e material didático impresso —"para que nenhum aluno fique para trás", diz a pasta.

O aplicativo é o único meio que possibilita saber, de forma individualizada, quais alunos estão tendo acesso a aulas. Ele é ainda a ferramenta mais completa para o acompanhamento do conteúdo didático, por ter outras funcionalidades que a TV não comporta, como armazenamento das aulas e possibilidade de interação por chat.

Para driblar as dificuldades de conexão de parte da população à internet, o governo paulista patrocina os dados necessários para o uso do aplicativo. Ele não cosome o pacote do usuário; só é preciso estar ligado à rede para baixá-lo.

“Este app irá auxiliar para que os professores estejam o mais próximos possíveis de cada um dos nossos 3,5 milhões de estudantes. Isso vai acontecer graças à tecnologia, que deve ser cada vez mais uma grande aliada da educação”, afirmou o secretário da Educação, Rossieli Soares, no lançamento da plataforma.

Apesar da gratuidade dos dados, alunos ouvidos pela Folha nas últimas semanas relataram falta de informação sobre as formas de acesso ao conteúdo. Parte deles, por exemplo, não sabia que havia aulas sendo transmitidas pela TV.

Segundo levantamento citado pela Secretaria da Educação, feito pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), 97,4% dos domicílios no estado de São Paulo têm televisão.

Sem saber exatamente o que os alunos estão de fato conseguindo aprender no ensino remoto, o governo paulista já prevê fazer uma avaliação das lacunas de conteúdo na volta das atividades presenciais, ainda sem data definida, e iniciar um programa de reforço.

A Secretaria projeta ainda a necessidade de um grande programa de busca ativa para reinserir alunos que podem deixar a escola para trabalhar devido à crise econômica.

A evasão é uma preocupação também em outros estados. Por trás dela, está um desafio das redes de ensino durante a pandemia: por um lado, é importante monitorar o acesso à educação e avaliar o aprendizado; por outro lado, é preciso tomar cuidado para que a dificuldade em cumprir as exigências não desestimule o estudante.

“É muito importante garantir a aprendizagem, mas tem um direito anterior, que é o da permanência na escola. Hoje a maior preocupação é a manutenção do estudante na escola. Se ele entender que não tem mais chance de passar de ano, o desencantamento pode se transformar em desistência”, diz Rogers Mendes, secretário-executivo de Ensino Médio e Profissional da pasta da Educação do Ceará.

Assim como São Paulo, o estado oferece atividades por internet e aulas pela televisão, mas, justamente pelo acesso desigual a recursos tecnológicos, definiu como principal plataforma o livro didático.

Também decidiu por um ritmo mais lento de execução do currículo no momento, priorizando habilidades socioemocionais, e orienta as escolas a manter um contato constante com o máximo possível de alunos.

“O distanciamento [do estudante em relação à escola] talvez seja o mais preocupante, porque a educação tem um papel importante na construção de um imaginário de esperança, de ver o futuro com algum otimismo”, diz Mendes.

O temor da evasão e do desestímulo dos alunos levou sistemas educacionais como os da itália, Espanha e o de Nova York a decidir por não reprovar os alunos no atual ano letivo. Na mesma linha, o Chile optou por enxugar o currículo.

O registro da frequência do aluno também não é a principal preocupação atualmente em Pernambuco, que tem o terceiro melhor ensino médio do país entre as redes estaduais.

O estado planeja reposição de conteúdo após o retorno das atividades presenciais.

Outros estados preveem fazer o controle de frequência do período da pandemia, mas também só com o retorno às aulas presenciais, por meio da entrega de atividades dos alunos. É o caso de Paraíba, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Já o Paraná, assim como São Paulo, disponibiliza aulas pela televisão, internet e por material impresso.

O aplicativo da rede paranaense tem uma pergunta chave que possibilita a verificação de presença dos alunos, que, atualmente, está no patamar de 60%.

Cerca de 30% dos estudantes, segundo a Secretaria da Educação, estão apenas pegando material impresso. A pasta irá reforçar a tentativa de inclusão dos que não estão acessando conteúdo com conversas diretas com os pais.

A orientação é individualizar o atendimento às necessidades das famílias em situações mais delicadas. Um exemplo recente aconteceu na cidade de Rebouças, a 173 km de Curitiba.

Após serem informados pela escola de que três crianças de uma família estavam sem acesso ao conteúdo remoto, funcionários do núcleo regional de educação responsáveis pela área identificaram um aparelho de televisão sem uso no local. Decidiram levar o aparelho à residência. Chefe do núcleo, Marcelo Fabrício Chociai Komar conta que vizinhos se ofereceram para ajudar a instalar. Será a primeira TV da família.

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