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Reforma em colégio de Suzano alvo de massacre é concluída, mas pandemia adia inauguração

Escola Estadual Raul Brasil só reabrirá após retorno das aulas presenciais; obra é mais um passo para colégio virar a página do atentado

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São Paulo

O colégio que foi alvo do maior atentado contra uma unidade pública de ensino da rede paulista ganhou cara nova.

As obras na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, cidade da Grande São Paulo, duraram seis meses e terminaram no final do mês de abril.

Os alunos e os professores, porém, não conhecerão as novas estruturas porque as aulas presenciais no estado estão suspensas por causa da pandemia do novo coronavírus.

O cronograma inicial previa a entrega do colégio reformado no final do mês de março, o que não aconteceu, segundo Rossieli Soares, secretário de Educação da gestão Doria (PSDB), por causa das chuvas.

Nova Raul Brasil, em Suzano, após seis meses de reforma
Nova Raul Brasil, em Suzano, após seis meses de reforma - Divulgação

Mesmo com inauguração prevista só para quando a comunidade escolar puder voltar em segurança, o governador João Doria e Rossieli fizeram visita ao prédio na tarde desta terça-feira (26).

"Foi a cena mais triste que eu vi na minha vida. Corpos no chão ensanguentados diante de uma tragédia de dois jovens tresloucados e armados que atentaram contra a vida de alunos, professores e funcionários da escola", disse Doria.

Doria usou o episódio para criticar a política de armamento da população defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "Não é municiando com armas a população brasileira, nem jovens e nem não jovens, que nós teremos um clima de paz e entendimento no nosso país. Aquilo [atentado] foi um exemplo do que é a violência gratuita, maldosa e assassina que nós vivenciamos", afirmou.

A Folha esteve no canteiro de obras em março, quando os trabalhos estavam 90% concluídos. Além de novos blocos, de arquitetura típica de escola pública, a reforma buscou dar uma nova roupagem aos espaços nos quais alunos e professores foram mortos a tiros.

Naquele 13 de março de 2019, o ex-aluno Guilherme Taucci, 17, e Luiz Henrique de Castro, 25, entraram no colégio armados e executaram o atentado no estilo dos ocorridos nos Estados Unidos.

Eles aproveitaram o intervalo das aulas e mataram a tiros cinco estudantes e duas funcionárias; antes de chegarem à escola, haviam matado um empresário, tio de Guilherme.

Ao final do massacre e percebendo a chegada da polícia, Guilherme matou seu comparsa e se suicidou. Outros 11 estudantes saíram feridos do massacre.

A principal mudança ocorreu no portão de entrada dos alunos. A antiga estrutura, por onde os atiradores tiveram acesso à escola pela rua Otávio Miguel da Silva, foi desativada.

Após a reforma, os estudantes terão acesso ao colégio pela rua José Garcia de Souza. Outro corredor foi construído ao lado para uso exclusivo de quem não for da comunidade escolar.

O movimento de alunos, professores e pessoas de fora da escola será monitorado por agentes de segurança e por um sistema de câmeras.

Já na entrada, os alunos encontrarão a quadra esportiva coberta, do lado esquerdo. E, do lado direito, o novo prédio da secretaria, com salas ampliadas para o trabalho pedagógico dos professores e para os serviços de atendimento psicológico.

Ao lado dessa nova construção, outra, com estrutura multiuso, foi erguida para dar lugar a mais salas de aula. A reforma também atingiu o refeitório do colégio, um dos locais em que os atiradores fizeram mais vítimas. A cantina foi construída do zero e mudou de lugar. A cozinha e os banheiros foram ampliados.

O projeto também contemplou a existência de uma ampla área aberta de convivência, com bancos e árvores.

No bloco por onde os atiradores tiveram acesso ao colégio, além de o portão de entrada ter sido desativado foi construída uma biblioteca com espaço para um número maior de obras literárias e com capacidade para abrigar mais estudantes.

Também foi erguido um laboratório maker, de 70 m2, equipado com 24 notebooks, aparelho de TV e impressora 3D.

Para a reforma acontecer, os cerca de 1.072 estudantes foram alocados em salas de aula do campus da Faculdade Piaget, distante a cerca de 1 km da Raul Brasil, ou 16 minutos de caminhada. A secretaria de Educação arcou apenas com o aluguel e os custos de água e energia elétrica do campus —orçados em R$ 44 mil por mês.

A captação dos recursos para a reforma da Raul Brasil ficou sob o guarda-chuva do Instituto Ecofuturo, mantido pela Suzano, companhia do segmento de papel e celulose.

Além da Suzano, as empresas International Paper do Brasil, John Deere, Komatsu do Brasil, MRV Engenharia, Nadir Figueiredo, Paradise Golf Resort de Mogi, PCN Suzano, Qualical e a Sanofi investiram R$ 2,7 milhões nas obras. Outros R$ 400 mil saíram dos cofres públicos.

Os projetos de paisagismo e arquitetura foram assinados pelos escritórios de Roberto Riscala e Meg Valau. A reforma foi tocada pela Athié Wohnrath, empresa de arquitetura que também executa obras.

PÓS-MASSACRE

Em entrevista à Folha na época em que o massacre completou um ano, Rossieli disse que a pasta da educação trabalha em duas frentes após o episódio violento: na escuta dos alunos e na aplicação de projetos pró-segurança.

Um questionário respondido por 1 milhão de estudantes da rede em novembro de 2019 detectou, por exemplo, que o maior problema enfrentado por crianças e adolescentes é o cyberbullying, um assédio virtual praticado contra uma pessoa por meio de plataformas online.

Os demais resultados da pesquisa, ainda não divulgados, servirão de base para estruturar o Conviva SP, programa que prevê atacar ocorrências de automutilação e suicídio entre os estudantes.

Pensando na saúde mental dos professores, a secretaria planeja contratar 85 psicólogos que já atuam na rede estadual como professores nos programas de formação. "Não temos dinheiro para colocar um psicólogo em cada uma das 5.400 escolas", disse o secretário.

Para o secretário, o maior erro de sua gestão na condução do massacre da Raul Brasil foi, justamente, a demora na contratação de psicólogos para atender à população de Suzano abalada pela violência, que foi estimada em 24 mil pessoas, segundo a prefeitura da cidade. "A burocracia atrapalhou."

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