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A Educação precisa respirar

Decotelli tem currículo para o cargo, e sua nomeação despertou esperança de fim da guerra contra educadores

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Hubert Alquéres

É membro da Academia Paulista de Educação, da Câmara Brasileira do Livro e do Conselho Estadual de Educação.

Abraham Weintraub foi o joelho no pescoço da Educação, impedindo sua respiração. O novo ministro Carlos Alberto Decotelli da Silva representa a possibilidade da volta à normalidade, retirando-a dos aparelhos. Reconheça-se, Decotelli tem currículo para o cargo. Sua nomeação despertou esperança de que tenha fim o estado de guerra permanente contra educadores e que se encontre um terreno comum para o bem do futuro de nossos jovens, duramente comprometido por esses tempos de pandemia.

Esse sentimento é compartilhado por figuras profundamente comprometidas com o setor, como a professora Dorinha, presidente da bancada federal da Educação, ou Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação. O fato do novo ministro ser um conservador não é óbice, até porque a pasta já teve outros ministros conservadores ao longo de sua história que se saíram muito bem. Basta Lembrar de Esther Figueiredo Ferraz, a primeira mulher à frente do MEC.

O presidente Jair Bolsonaro, nomeia o professor, Carlos Alberto Decotelli da Silva para o cargo de Ministro da Educação. - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Oxigenar o ministério implica antes de tudo restabelecer o diálogo, partindo da premissa de que professores, gestores e instituições universitárias não são inimigos. Ao contrário, são parceiros, assim como o Conselho de Secretários Estaduais de Educação (Consed). Também se faz necessário reconstruir pontes com o Parlamento, dinamitadas neste um ano e meio de gestões ideológicas no ministério. E também com o Judiciário, até para evitar a judicialização da Educação, como aconteceu na era Weintraub.

A despeito das visões diferenciadas, há um largo consenso nacional sobre questões inadiáveis sobre as quais o ministro deveria concentrar suas energias. A mais urgente urgentíssima é a articulação das voltas às aulas, apoiando as redes públicas. Como definiu o educador Mozart Ramos, será necessário trocar o pneu com o carro andando, tais são os desafios.

O mesmo deve se dizer em relação à renovação do Fundeb, fonte fundamental para o financiamento da educação básica, cuja vigência encerra-se no final do ano. Seu antecessor simplesmente se furtou de ter qualquer protagonismo em relação ao novo Fundeb. É hora de o MEC voltar a desempenhar o seu papel de protagonismo e liderança para que o ensino de milhões de jovens não fique comprometido por falta de financiamento.

As primeiras declarações de Decotelli mostram que ele tem consciência dessas duas questões, bem como da importância do Enem. O ministro explicitamente se define como um homem do diálogo e essencialmente técnico. Se for por esse caminho, será apoiado pelo setor e respaldado pelo Parlamento e pela sociedade.

Não se pode ignorar, porém, adversidades que independem de sua boa vontade. No governo Bolsonaro, o Ministério da Educação foi transformado em um bunker do olavismo em sua guerra contra o “marxismo cultural”. Se essa turma continuar em postos estratégicos, o MEC pode cair na paralisia em função de uma guerra interna. Nesse caso, os olavistas atuarão como uma espécie de quinta coluna, torpedeando as mudanças imprimidas pelo novo ministro.

Tudo depende, portanto, do respaldo político que Carlos Alberto Decotelli terá. A cabeça e o coração do presidente Bolsonaro pendem para o núcleo ideológico, que conta ainda com o apoio entusiástico do clã familiar. Entretanto, o grau de isolamento do governo o obriga a rever sua estratégia, até por instinto de sobrevivência.

A escolha de Decotelli é produto desse movimento, ou seja, do fortalecimento do núcleo militar em aliança com o Centrão recém adentrado no governo. No momento, a correlação de forças é favorável a esse polo.
A conferir se o novo ministro terá as mãos livres para concretizar o que anuncia. Mas desde já ele é a possibilidade da Educação respirar um ar menos poluído.

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