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Felipe Neto muda papel dos influenciadores digitais

Posicionamento político e referências a temas quentes no país entram no radar dos influenciadores

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Mariana Mandelli

Coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

São Paulo

É difícil definir Felipe Neto hoje. YouTuber, empresário, produtor de conteúdo, empreendedor e comediante são algumas possibilidades. Os adjetivos também são vários e passam por controverso e polêmico. Mas talvez a mais apropriada seja mesmo a alcunha de influenciador, e não apenas aquele que tem milhões de inscritos em suas redes sociais e ganha cachê para anunciar novos produtos, mas sim a de influenciador do debate público.

Somando mais de 63 milhões de seguidores no YouTube, Twitter e Instagram, audiência essa formada especialmente por jovens, Felipe protagonizou alguns episódios que reforçam esse epíteto nos últimos dois anos. Entre os mais relevantes talvez estejam a publicação de um vídeo no site do New York Times em que critica mordazmente a atuação do governo brasileiro na pandemia e a compra e distribuição de 10 mil livros de temática durante a Bienal do ano passado, quando a prefeitura do Rio de Janeiro censurou o gibi “Vingadores - A Cruzada das Crianças”.

Esse tipo de ação fez com que Felipe se tornasse alvo de uma campanha de difamação nas plataformas digitais, com montagens e hashtags mentirosas –como acusações de pedofilia– e, consequentemente, de ameaças reais (inclusive na frente da sua residência). Suas postagens mais recentes vêm tratando desse tema no âmbito da discussão do PL 2630/2020, apelidado de “PL das fake news”, em tramitação no Congresso.

No último domingo, em entrevista à GloboNews, seu engajamento na discussão sobre o combate à desinformação ficou evidente quando destacou a importância de se olhar para a “educação digital” da população brasileira. Também caracterizou o momento do país como "negacionista" e "obscurantista" no que tange à valorização da ciência e de fatos históricos, e afirmou que orienta os seus seguidores a não responderem comentários com ódio e a sempre priorizarem o diálogo.

Tais declarações vão ao encontro da mudança de posicionamento nos conteúdos produzidos pelo influenciador e seu irmão Luccas Neto, uma vez que vídeos antigos de ambos incluíam discursos preconceituosos e palavrões —vídeos estes que já foram apagados ou etiquetados com restrição de idade.

Reconhecer o papel que Felipe Neto vem desempenhando não só nas redes sociais, mas principalmente fora delas, não é uma maneira de glorificá-lo ou imunizá-lo de críticas, mas sim de usá-lo como exemplo a favor de uma comunicação mais responsável nas plataformas, que preze pela defesa da diversidade e que refute ofensas e discursos de ódio.

É urgente que mais influenciadores se conscientizem da importância de mitigarmos a desinformação, os ataques à reputação, os “cancelamentos”, os linchamentos virtuais e a disseminação de conteúdos tóxicos para vivermos em uma sociedade mais saudável que defenda e valorize a democracia.

Por mais que tenhamos de ter cuidado com análises prévias de situações correntes, o cenário pandêmico, somado aos protestos antirracistas nos Estados Unidos, já vêm apontando para uma tendência de mudança no marketing de influência, uma vez que a audiência estaria mais crítica, cobrando mais empatia e menos superficialidade de quem ganha dinheiro com as plataformas digitais.

De qualquer modo, a clareza do seu poder de influência é necessária a todos que detêm relevância nas redes, e por relevância entende-se não somente um volumoso séquito de seguidores, mas também comunidades engajadas que acompanham e debatem tudo o que esses influenciadores produzem e promovem, de marcas a opiniões.

Pautar conversas que reforcem a cidadania por meio da educação midiática tornou-se indispensável para a própria existência das plataformas sociais e, claro, para a convivência dos usuários nelas. É imprescindível que mais pessoas acompanhem essa discussão e usem a sua influência para defender o diálogo e uma comunicação não violenta, que preze pela responsabilidade e criticidade ao lidar com pessoas dentro e fora das redes sociais.

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