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Palavra Aberta

O jornalismo e as perguntas que incomodam

Tentativas de intimidação contra a imprensa também são ameaças ao direito à informação

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Patricia Blanco

Presidente-executiva do Instituto Palavra Aberta

São Paulo

Não é de hoje que o papel da imprensa tem sido altamente questionado e colocado em xeque. Também não é de hoje que nos deparamos com exemplos cada vez mais comuns de ameaças contra jornalistas no exercício da sua atividade profissional. Ameaças de todos os tipos, de xingamentos, ofensas, ataques virtuais, campanhas de difamação, até agressões que, infelizmente, transcendem as redes sociais a passam a representar risco real de violência física que, em casos mais graves, resultam até em mortes.

O jornalista é o mensageiro. Não se hostiliza nem se mata o mensageiro. Esse código de ética existe e é respeitado desde a mais remota antiguidade. Mas não é o que tem prevalecido nos nossos dias. A truculência contra esses profissionais tem sido uma constante.

Ameaças e tentativas de intimidação contra jornalistas são também ameaças ao nosso direito à informação, pois é por meio da imprensa que a sociedade se informa, se manifesta, emite opiniões, vigia, denuncia e cobra dos poderes e das instituições o funcionamento daquilo que entendemos como democracia.

É o ambiente democrático, garantido pela Constituição de 1988, que permite também que o jornalista exerça uma das suas principais funções: a de fazer perguntas incômodas a quem quer que seja, desde que tenha como pressuposto básico o interesse público. O interesse da sociedade deve estar sempre em primeiro plano. Nesse sentido, perguntas incisivas fazem parte do rol de atividades de todo profissional que atue seguindo critérios éticos e métodos profissionais e transparentes, mesmo que tais perguntas causem desconforto e possíveis conflitos.

A escalada de ataques à imprensa revela também um fator ainda mais preocupante. Por muito tempo, acreditou-se que os leitores e consumidores de informação entendiam como funcionava a prática jornalística, desde a pauta, apuração, redação, edição até a publicação. Mas o que tem ficado cada vez mais claro é a falta de conhecimento sobre a real função da imprensa e do jornalismo independente, que por todo esse tempo ignorou esse contexto.

Mostrar o passo a passo, os critérios adotados, os manuais criados pelos veículos, quem são os autores das matérias, quem são os proprietários das empresas e quem financia os veículos, de forma transparente, passou a ser fundamental para que o funcionamento e a importância da imprensa fiquem, enfim, evidentes.

Mais fundamental ainda é reforçar a todos e todas que a liberdade de imprensa não é um bem do veículo de comunicação ou do jornalista, mas de toda a sociedade, sem exceção. E cabe à sociedade, ou seja, a todos nós, defender esse direito de toda e qualquer ameaça, sob o risco de, ao admitir que intimidações passem a ser normais, estarmos sendo coniventes com práticas autoritárias que venham desaguar em graves restrições ao direito de informar e ser informado, ao direito ao acesso a informações de interesse público e, em última instância, ao próprio direito à livre manifestação do pensamento.

Como bem disse a Ministra Cármen Lúcia: “As normas garantidoras da liberdade de informar e ser informado, na base da qual se tem a liberdade de imprensa, estão em vigor. Há que se cuidar de preservá-las e mantê-las sempre efetivas. A tarefa é contínua e ininterrupta. Mas a democracia sempre vale a pena. Sem ela é a uniformidade que desiguala, o silêncio que ensurdece, a desinformação que angustia”.

Ministra do STF Carmen Lúcia durante palestra no 7º Fórum Liberdade de Imprensa e Democracia, em Brasília, em 2015
Ministra do STF Carmen Lúcia durante palestra no 7º Fórum Liberdade de Imprensa e Democracia, em Brasília, em 2015 - Pedro Ladeira/Folhapress
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