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Daniela Machado

Um pacto pela educação midiática

Responsabilidade com a informação é tema que precisa ir além dos muros da escola

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Daniela Machado

Coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

São Paulo

A sociedade ganha quando o acesso a informações confiáveis ajuda a população a tomar decisões mais conscientes. A sociedade se beneficia quando a comunicação é responsável e aberta ao debate respeitoso de ideias. A sociedade progride quando há liberdade de imprensa e o jornalismo pode contar os fatos que ajudam a reforçar a democracia.

Se todos nós temos algo a ganhar com um ambiente informacional mais saudável, por que alguns ainda resistem à ideia de que criar tais condições é também responsabilidade de todos? É claro que há um papel importantíssimo a ser desempenhado na educação, por exemplo, ao desenvolver em crianças e jovens habilidades para ler o mundo de uma maneira mais reflexiva e produzir ou compartilhar conteúdos com responsabilidade. Mas já passou da hora de reconhecermos que esta é uma missão que precisa ir além dos muros da escola —deve ser abraçada por toda a sociedade.

Não à toa, a Unesco faz nesta semana um convite para que a educação midiática e informacional seja um compromisso “para todos e por todos”. A entidade celebra, anualmente, os esforços globais para equipar os cidadãos com conhecimento, competências, valores e práticas que permitam o pensamento crítico e a participação fortalecedora no cenário de super abundância de informações em que vivemos. É a Global MIL Week.

Em uma sala de aula, crianças leem jornal
Alunos da Escola Estadual Henrique Dumont Villares leem o Jornal Joca destinado a crianças - Danilo Verpa/Folhapress

O evento de 2020 tem como tema “Resisting Disinfodemic: Media & Information Literacy for everyone & by everyone” —um chamado para que toda a população resista à desinformação e também aprenda a lidar com um fenômeno que ficou conhecido como infodemia. O termo foi apresentado no início deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que apontou a urgência de nos preocuparmos não só com a pandemia do novo coronavírus mas também com a infodemia, ou seja, o excesso de informações sobre a doença que circulam rapidamente e nem sempre são confiáveis.

Para a Unesco, a educação midiática e informacional empodera os cidadãos e os ajuda a navegar pelos mares turbulentos da desinformação, a saber como e onde buscar fontes confiáveis para os fatos que têm impacto em sua vida e opiniões embasadas que ampliam o debate público. “Cada vez mais, somos todos —indivíduos, grupos ou instituições— parte do ambiente entrelaçado de informações, mídias e tecnologia, com nossas mensagens, valores e possibilidades de criar. É por meio de nossa atuação e o potencial de nos tornarmos criadores ativos de soluções digitais que podemos enfrentar a desinformação e alcançar um um nível de desenvolvimento positivo e inclusivo”, acrescenta a organização.

É nesse contexto que faz sentido chamar para a conversa sobre educação midiática também quem não é educador. De influenciadores a divulgadores científicos, de jornalistas a filósofos, de médicos a youtubers… Todos têm sua responsabilidade. Como parte das celebrações da Global MIL Week, o Instituto Palavra Aberta e seu programa de educação midiática —EducaMídia— discutiram o tema com o médico Drauzio Varella e o influenciador digital Felipe Neto.

Drauzio Varella tem sido uma voz ativa em defesa de informações de qualidade, baseadas em fatos científicos, na área da saúde. Apesar de inúmeras fake news sobre a covid-19, ele destaca que o amplo acesso a dados na internet é positivo e que a educação midiática ajudará a preparar os cidadãos para extraírem o melhor da rede. “Não houve ainda tempo para que a gente tivesse uma educação sobre a internet. [Com o tempo] vamos ganhando mais experiência com ela, mais gente acessa, começa a conviver e a entender como identificar as notícias falsas.”

Depende de nós, enquanto sociedade, encurtar esse caminho. Que tal um pacto pela educação midiática? O que você pode fazer, ainda hoje, em prol de um ambiente informacional mais saudável, inclusivo e fortalecedor?

Conforme alerta Paolo Celot, especialista no tema junto à Comissão Europeia, hoje não é mais uma vantagem ser midiaticamente educado; é uma “desvantagem debilitante” não ser.

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