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Bem-intencionada, ideia de aumentar diversidade na escola particular traz desafio para escola pública

Discussão foi desencadeada pelo movimento antirracista, de pais de escolas particulares de São Paulo

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São Paulo

A ideia de aumentar a presença de estudantes negros nas escolas particulares de elite é um debate bem-vindo, desencadeado pelo movimento antirracista (grupo formado por famílias de colégios particulares).

Hoje, não brancos estão praticamente fora desse círculo educacional que forma boa parte da elite econômica, intelectual e política do país.

Mas essa ideia de migração para o sistema privado carrega um efeito colateral, que precisa também ser encarado: como fica a escola pública nisso?

Esse aluno negro que pode vir a ser atendido num colégio privado está hoje no sistema público —que é onde estão cerca de 80% dos estudantes do país.

Alunos da escola pública que conseguem migrar para as particulares de elite, em geral por meio de bolsas, são os de melhor desempenho.

Imaginando que haja sucesso no aumento de diversidade na rede particular, o movimento será às custas de retirar do ensino público parte de seus melhores alunos. Piorando o sistema onde está a massa dos jovens do país.

Como defesa para essa migração, pode-se entender que ela daria muitas oportunidades para um aluno promissor, que provavelmente ficaria escondido e com poucas perspectivas num sistema que tem desempenho inferior. Isso se comparado com as escolas privadas de elite, porque se comparado o geral das particulares com as públicas, a diferença não é tão grande.

Outro efeito positivo dessa migração seria colocar no mesmo espaço brancos e negros, aprendendo uns com os outros.

O problema é que essa diversidade também é importante para o ensino público. Esses alunos de maior desempenho da rede pública podem ajudar e "puxar" os colegas de menor desempenho.

Estudo da OCDE (organização dos países desenvolvidos), com base no Pisa, indicou que estudantes com mais dificuldades perdem ainda mais nota se retirados colegas de alto desempenho.

Acompanhando mensagens do movimento antirracista, é notável que seus integrante têm essa contradição em mente. Mas esse é um debate que invariavelmente será posto para mais atores, caso o grupo comece a ser extremamente exitoso.

Porque, no fundo, a pergunta maior é: como melhorar a educação do país? É ajudando mais rapidamente, e de forma assertiva, os estudantes mais talentosos do ensino público, tornando também nossas elites menos brancas?

Ou é tentando criar uma grande mobilização para melhoria da escola pública, que teria efeito mais amplo na população? Só que, mesmo que exitosa, levaria provavelmente décadas para se concretizar.

O debate sobre diversidade escolar acontece também nos EUA, notadamente em Nova York. Chamado de "desegregation" (dessegregação), o movimento visa misturar mais o perfil dos estudantes nas escolas, pois hoje umas tendem a atender basicamente brancos, outras negros, outras latinos, de forma apartada.

O exemplo nova-iorquino mostra o tamanho do desafio. O movimento começou nos anos 1960, até hoje sem grandes efeitos.

Isso num sistema em que, ao menos em tese, pode ser um pouco menos complexo de haver a integração, pois todos estão na rede pública.

A divisão ocorre pela região em que a família mora. Um bairro majoritariamente branco terá escola com esse público, pois é considerada a proximidade da casa com o colégio.

Os defensores da dessegregação querem que haja mudanças nessas distribuições, para que uma escola hoje majoritariamente branca passe a atender estudantes de outras comunidades vizinhas. Por outro lado, parte desses brancos passem a cursar colégio que hoje é majoritariamente negro ou latino.

Uma mudança nessa segregação foi defendida pelo prefeito de Noka York, o democrata Bill de Blasio. Mas ele chega ao fim do mandato sob críticas do movimento, por ter sucumbido às famílias brancas que se opuseram às alterações.

O exemplo de fora pode ser desencorajador. Mas a discussão aberta pelo movimento antirracista é uma boa deixa para finalmente encararmos a questão.

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