Escolas de SP reabrem com aulas híbridas para o ensino médio

Frequência dos alunos deve ser opcional; por isso, escolas precisam continuar oferecendo ensino remoto

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São Paulo

Com um terço da turma em sala e o restante em casa, colégios de São Paulo retornaram nesta terça-feira (3) as aulas presenciais para o ensino médio. É a primeira liberação para aulas regulares depois de mais de sete meses de suspensão.

Pela orientação das secretarias municipal e estadual de educação, a frequência dos alunos deve ser opcional para as famílias; por isso, as escolas precisam continuar oferecendo aulas remotas.

No colégio Vital Brazil, no Butantã, zona oeste da capital, o ensino híbrido exige agora que os professores deem aula ao mesmo tempo para quem está na escola e quem está em casa. Com uma câmera de vídeo em frente à lousa, transmitem o que estão ensinando. ​

Marcelo Barão, professor de Física, dá aula ao mesmo tempo para alunos em sala e em casa
Marcelo Barão, professor de física, dá aula ao mesmo tempo para alunos em sala e em casa - Zanone Fraissat/Folhapress

Na primeira aula desta terça para uma turma de 3º ano do ensino médio, o professor de física Marcelo Barão se adaptava ao novo formato com o desafio de dar atenção e motivar quem está na sala e em casa. “Vocês entenderem? Pessoal da sala? Pessoal em casa?”, perguntava ao final das explicações.

Segundo ele, o modelo de aulas híbridas vai exigir uma nova adaptação aos professores. “Passei a aula toda tentando me lembrar de olhar também para a câmera, não só para os alunos que estão aqui. É preciso esse cuidado para não abandonar quem está em casa."

Segundo Suely Corradini, diretora da escola, metade das famílias do ensino médio optou pelo retorno presencial. Para ela, muitos pais ainda têm medo por morar com pessoas de risco ou pela dificuldade de uma nova mudança na rotina familiar a poucos meses do fim do ano letivo.

Gabriela Cavalcante, de 17 anos, disse ter convencido os pais a retornar para as aulas presenciais por ter tido dificuldade de se concentrar nas atividades online nas últimas semanas. “Funcionou bem por um tempo, mas em casa falta motivação, estímulo. Não estava mais conseguindo prestar atenção”, diz.

Para ela, os colegas que acompanham em casa podem ter ainda mais dificuldade a partir de agora, quando todas as aulas serão transmitidas ao vivo. Antes, havia atividades gravadas ou que não envolvesse vídeo.

Apesar da autorização do prefeito Bruno Covas (PSDB), muitas escolas optaram por não retornar às aulas presenciais. Colégios como o Bandeirantes, Móbile, São Domingos, Santa Maria e Santa Cruz decidiram manter o formato remoto e só ter atividades extracurriculares de forma presencial.

Mauro Aguiar, diretor do Bandeirantes, diz que a decisão de não voltar com as aulas regulares presenciais foi por conta do pouco tempo para o fim do ano letivo. Em setembro, o diretor criticou Covas por adiar o retorno.

A autorização da prefeitura a menos de dois meses para o fim do ano iria atrapalhar a organização de alunos, professores e famílias. “Essa coisa de ficar mudando de política e de orientação a cada semana não funciona. Temos um planejamento e é melhor seguirmos assim”, diz.

Mesmo sem aulas regulares, o colégio está oferecendo atividades extracurriculares, especialmente para os alunos do 3º ano do ensino médio, com reforço e recuperação. Segundo Aguiar, a dificuldade com o modelo de ensino híbrido também influenciou a decisão.

“Fazer o professor dar aula ao mesmo tempo e nos dois modelos (ao vivo e online) não me parece uma boa opção. Nem para o professor e nem para o aluno. Vamos ter de achar ainda um novo formato para o próximo ano.”

Foi a mesma avaliação do colégio Santa Cruz, que comunicou aos pais considerar que haveria prejuízo às atividades extracurricular já previstas para as últimas semanas de aula com a volta regular presencial.

“Levando em conta nosso calendário letivo e essa avaliação de que o momento não favorece a retomada das atividades regulares presenciais, decidimos continuar oferecendo atividades optativas e preservar o planejado”, diz carta enviada aos pais.

Mesmo com o pouco tempo para as aulas, a direção do colégio Rio Branco avaliou que era importante começar a testar o retorno híbrido e oferecer o suporte presencial para os alunos ainda neste ano. Na unidade, os professores também passaram a dar aula ao vivo e online.

No caso de professores do grupo de risco que permaneceram em casa, os alunos assistem em sala a aula transmitida em um telão. Para Renato Júdice, diretor do colégio, será preciso um tempo de adaptação para mais essa mudança no formato do ensino.

“É a segunda mudança na forma de dar aula em menos de um ano. Aprendemos a dar aula online. Agora, temos de aprender a fazer o online junto com o presencial e acredito ser ainda mais desafiador”, disse.

Segundo ele, ainda é um desafio para os professores conciliar as demandas dos alunos a distância e dentro da sala. “Acredito que vamos nos adaptar, porque o estudante que está na escola ajuda o professor, estimula quem está em casa a participar.”

Nas escolas da rede municipal, Covas decidiu que todas as unidades com turmas de ensino médio terão de reabrir. Para as demais etapas, os conselhos escolares é que estavam decidindo sobre o retorno.

Segundo a prefeitura, apenas nove escolas municipais atendem o ensino médio, com 2.400 estudantes, o que representa 0,6% de todos os jovens matriculados nessa etapa de ensino na cidade.

Na rede estadual, onde estudam mais de 317 mil alunos do ensino médio (79% das matrículas), as aulas presenciais também foram liberadas. No entanto, o governo estadual não informou quantas escolas se programaram para a volta.

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