Como será a escola em 2021?

Online ou presencial, a educação precisa preparar crianças e jovens para uso fortalecedor das mídias

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São Paulo

Um debate acalorado marca o início do ano letivo: as escolas deveriam ou não reabrir para aulas presenciais? A resposta é complexa e tem que levar em conta argumentos sólidos dos dois lados. Mas, independentemente de como será a retomada, o fato é que a exposição de crianças e adolescentes às telas ao longo de 2020, sua presença na internet e o uso intensivo de tecnologias digitais é um caminho sem volta que a educação não pode mais ignorar.

A pandemia que trancou as escolas no Brasil ainda no primeiro semestre do ano passado escancarou carências e desigualdades pré-existentes e reforçou a necessidade de transformarmos a escola em um ambiente mais concatenado com a realidade dos estudantes — estejam eles fisicamente nas instituições de ensino ou não.

Um primeiro desafio é óbvio: garantir que todos tenham acesso aos equipamentos necessários para participar da sociedade conectada em que vivemos, o que inclui aparelhos como celulares ou tablets e acesso a internet de qualidade. Sua importância vai além do fato de serem o meio pelo qual escola e aluno mantêm contato em um cenário extremo como o imposto pela Covid-19. São também ferramentas de autoexpressão com as quais todos podemos aprender.

Precisamos avançar muito nesse campo. Ainda assim, já é tempo de nos preocuparmos com o que vem depois. Uma vez conquistado o acesso, como podemos garantir que crianças e jovens tenham as habilidades necessárias para usar as telas de maneira fortalecedora? Como estimular que tenham voz nas discussões e decisões que lhes dizem respeito, por meio de sua presença em redes sociais? Como fazer com que, desde cedo, as crianças entendam o enorme poder (e a consequente responsabilidade) de falar para audiências reais na internet?

A lista de competências que precisam ser construídas é longa e seu alcance extrapola os muros da escola. Não se trata apenas de aprender a usar o computador para fazer aula online, mas de entender as linguagens específicas de cada ambiente digital para ser ouvido pelo maior número de pessoas. Também não se trata somente de usar um buscador para fazer a pesquisa de ciências, mas sim de ser capaz de avaliar a confiabilidade da informação encontrada. Em outro exemplo, além de conhecer importantes movimentos sociais da história, os estudantes precisam analisar o poder atual das hashtags e delas fazer uso.

Por isso, independentemente de a volta às aulas ser presencial ou online, gestores e educadores devem estar abertos a novas práticas que levem em conta o potencial das telas. Ao contrário do que alguns chegaram a acreditar, a tecnologia não substitui o professor —estes têm um papel ainda mais relevante na era de superabundância de informações, como curadores e mediadores.

Nesse cenário em constante evolução, em que a tecnologia abre espaço para o exercício de novas competências, é essencial que se invista na formação continuada dos educadores.

Há muitos caminhos possíveis para o que chamamos de educação midiática. E o mais importante: todos podem ser incorporados no dia a dia das escolas de maneira transversal e em diversos momentos. A aula é sobre doenças infecciosas? Temos, então, uma ótima oportunidade para conversar sobre fake news e o uso consciente das redes sociais. O currículo impõe uma discussão sobre a corte portuguesa no Brasil?

É um bom momento para ampliar o debate analisando grupos monarquistas nas redes sociais e, por tabela, conhecer as formas digitais de mobilização da sociedade. Sua área é matemática? Aproveite para discutir como números, dados e tabelas podem ser manipulados para desinformar.

As tecnologias digitais e novas formas de comunicação são, cada vez mais, parte de nossa vida. É um direito do aluno que a escola também o prepare para usá-las de maneira rica e transformadora.

Daniela Machado

Coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

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