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Coronavírus

As aulas estão voltando, e agora?

É fundamental que as aulas voltem, e para isso cabe a todos exigir das autoridades e gestores transparência, proteção e investimento

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Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo

Natalia Pasternak

Presidente do Instituto Questão de Ciência e coautora do livro Ciência no Cotidiano, da editora Contexto

Esta semana marca a volta às aulas em escolas públicas e privadas em boa parte do Brasil. Estudantes passam a frequentá-las, alternando aulas presenciais e remotas.

Houve prejuízo aos estudantes com o fechamento das escolas em 2020. Sofreram, especialmente, os mais vulneráveis. Ainda assim, há muitas dúvidas sobre o retorno, em um cenário em que a pandemia de Covid-19 não está controlada. Como saber se não estamos numa disputa entre os direitos à educação e à vida?

O primeiro passo é simples e envolve cuidados pessoais e na família: lavar as mãos regularmente, usar máscara, evitar aglomerações e encontros com pessoas além do núcleo familiar que mora na mesma casa. No caso daqueles que não podem ficar em casa por motivos profissionais, é fundamental procurar locais bem ventilados, com espaçamento adequado entre pessoas e, se possível, evitar o horário do rush em casos de uso do transporte coletivo.

As escolas precisam se preparar para uma longa convivência com o vírus. Nossos índices de vacinação são baixíssimos, e as vacinas protegem contra doença, não contra infecção: o vírus segue circulando, sujeito a mutações.

Lidar com esses fatos requer mais do que álcool em gel, água e sabão. É preciso que estudantes e professores utilizem máscara em todos os ambientes, trocando-as periodicamente, manter o distanciamento de 1,5 m entre todos, evitar atividades que possam promover contato físico e o compartilhamento de materiais, e ter espaços adequados para que as refeições sejam feitas respeitando o distanciamento.

Hoje sabemos que o vírus se espalha predominantemente pelo ar, o que exige atenção à ventilação das salas de aula. A transmissão por superfície também deve ser considerada, mas não é o principal foco. A comunidade escolar deve adotar mais atividades ao ar livre e a troca regular de filtros de ar em escolas nas quais esse equipamento é utilizado. Com melhor planejamento, escolas com salas mal ventiladas poderiam ter buscado acordos com espaços públicos ao ar livre que pudessem ser aproveitados para atividades pedagógicas.

Onde a totalidade dos alunos foi capaz de acompanhar as atividades remotas, o ideal é que, após as medidas de acolhimento e sociabilização, haja uma revisão do ano anterior. Nos casos em que os estudantes não tiveram a mesma oportunidade, é necessário que os professores estejam - coletivamente - preparados para mapear a real situação de cada estudante.

Os pais, professores e funcionários têm o direito de saber como a escola estará organizada. Quais as estratégias para os momentos presenciais? O que será realizado a distância? O que será proposto para quem não puder frequentar a escola? No caso das redes públicas, como se garantirá o acesso dos estudantes que não têm computadores e internet? A escola têm algum plano para o caso de novo fechamento?

Para evitar a contaminação a caminho da escola, seria interessante que o poder público adotasse horários alternativos, fora dos picos de demanda do transporte coletivo e, em escolas maiores, alternar horários para evitar aglomeração de responsáveis, profissionais e estudantes.

Estudos realizados em 2020 demonstram que a transmissão entre alunos e de alunos para professores no ambiente escolar é mais baixa do que em outros locais de trabalho. Mas a escola não é uma ilha, isolada da cidade, e mesmo os melhores protocolos não serão suficientes se a mobilidade geral urbana aumentar irresponsavelmente. A solução para isso é óbvia: outros setores devem diminuir suas atividades. Se seguirmos priorizando shopping em vez de escolas, de nada serve debater medidas preventivas.

É fundamental que as aulas voltem e que não precisemos escolher entre saúde e ensino. Para isso cabe a todos exigir das autoridades e gestores que esse retorno seja marcado por transparência, proteção e investimento na formação dos profissionais da educação. Todos somos responsáveis pela segurança e pela educação de nossas crianças e adolescentes, e juntos podemos pensar em soluções viáveis para cada realidade.

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