Descrição de chapéu Escolha a escola

Parcerias ajudam escolas a ampliar currículo para implementar novo ensino médio

Instituições contratam mais professores e oferecem disciplinas em conjunto com universidades para ampliar currículo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Luciana Alvarez
Lisboa

Escolas particulares de São Paulo fecham parcerias com outras instituições e contratam novos docentes para diversificar o currículo e atender a exigências da reforma do ensino médio que entra em vigor no próximo ano.

Aprovada em 2017, a diretriz prevê que as mudanças comecem a ser aplicadas para os estudantes do 1º ano e avance gradualmente até 2024.

A reforma aumenta a carga horária mínima obrigatória de 2.400 para 3.000 horas ao longo dos três anos e a divide em dois blocos: 60% deve ser para o currículo geral básico e 40% para itinerários formativos específicos, a escolha dos estudantes.

Para as instituições privadas, a mudança de carga horária tem pouco efeito, porque a maioria já oferece 3.000 horas ou mais. Algumas também já vêm testando modelos com disciplinas eletivas e trilhas de aprendizado, muitas vezes com ajuda de parceiros.

O colégio Pentágono, por exemplo, já oferece quatro itinerários aos alunos do 1º ano: vida e natureza; ciências e matemática; artes e linguagens; negócios e empreendedorismo. “A gente começou a planejar no início de 2020 para implantar em 2021 e seguimos o plano na pandemia”, diz Bruno Alvarez, coordenador pedagógico do colégio.

Ao optar por um itinerário, o aluno se matricula em um pacote de disciplinas, mas pode cursar outras fora da área.

Segundo o coordenador, a proposta vem sendo bem recebida e vai continuar para o próximo ano. “Oferecemos 30 eletivas e para 11 delas temos parceiros, como a Fundação Getulio Vargas, o Ibmec e o Instituto Europeu de Design.”

O grupo Bahema Educação, dono de 14 escolas em cinco estados, também optou por uma parceria, mas para ajudar na preparação para o vestibular, explica Sonia Barreira, diretora pedagógica.

“Fizemos um acordo com um cursinho de São Paulo. Isso não desresponsabiliza a escola de trazer os conteúdos, mas ela pode se concentrar no desenvolvimento de competências e habilidades. A parte de treinamento para os exames fica com o cursinho.”

Dessa forma, explica Barreira, cada colégio pode organizar seu próprio currículo, de acordo com o projeto pedagógico e o perfil dos alunos.

“Algumas escolas já trabalhavam com eletivas e partiram dessa experiência. Outras tinham certos dispositivos como semanas de atividades diversificadas ou propostas integradas voltadas a projetos com várias disciplinas. O que fizeram foi avançar”, diz.

O cursinho é opcional e é preciso pagar uma taxa pelo material didático. Com aulas 100% virtuais em 2021, além dos alunos das escolas da Vila e Viva, de São Paulo, também foram atendidos estudantes de outros estados. Em 2022, a intenção é aumentar o número de colégios participantes.

Muitas redes, porém, estão buscando soluções internamente, usando seu próprio quadro de professores e fazendo contratações pontuais.

“Tentamos manter a estabilidade da equipe e fazer uma boa distribuição de aulas. Com a oferta de quatro itinerários, vamos trabalhar com grupos menores de alunos. Para escolas maiores, isso deve ser mais fácil de lidar”, diz Gustavo Laranja, gestor da escola Augusto Laranja, na zona sul de São Paulo, que tem cerca de 45 estudantes em cada ano do ensino médio.Laranja garante que a mudança para o novo ensino médio vai ser tranquila.

“Há três anos estamos nos preparando, fizemos algumas modificações que nos ajudam nessa transição. A carga horária já é maior que a necessária, a oferta de eletivas ajudou a construir uma cultura de escolha do aluno”, explica.

A escola Móbile tem disciplinas eletivas no ensino médio desde 2013, antes da aprovação da reforma, mas, a partir do ano que vem, as escolhas ganham um peso maior no currículo. “Eles vão ter a possibilidade de selecionar 50 disciplinas ao final de três anos. Não é a escolha só de um itinerário”, diz Wilton Ormundo, diretor-geral da instituição.


Os jovens também terão de participar de atividades mais livres, como clubes de leitura, grupos de debates, teatro e música. “O estudante pode inclusive propor um projeto para a gente. Ele faz o itinerário de humanidades, mas quer criar um clube de investimentos. Ou propõe um clube de leitura específico sobre ficção científica”, exemplifica.

O novo ensino médio exigiu uma reforma na estrutura física do colégio, porque haverá mais atividades práticas para pequenos grupos. “Estamos no processo de contratação de alguns professores, ainda a depender de quantas turmas teremos. Mas fazendo tudo de forma responsável.”

Superintendente do Itaú Educação e Trabalho, braço da Fundação Itaú, Ana Inoue destaca a ausência de itinerários profissionalizantes nos planos das instituições privadas.

“O ensino profissionalizante dentro do ensino médio tem enormes vantagens por articular teoria e prática, trazer desafios concretos. Mas nossa sociedade desvaloriza o trabalho, acredita que ensino técnico é só para os mais pobres. É um equívoco contrapor a universidade ao técnico; eles são complementares.”

Em relação ao ensino público, na opinião de Inoue as redes estão se preparando de forma adequada. “A reforma trouxe grande complexidade, mas os estados estão se planejando, promoveram discussões para construir seus currículos”, afirma ela.

O Itaú Educação e Trabalho tem atuado como parceiro de 18 estados para preparar a oferta de ensino técnico.

Por mais que avalie as mudanças da reforma como positivas, Inoue acha difícil prever seus efeitos na melhoria do aprendizado dos estudantes nos próximos anos.

“Não temos um céu de brigadeiro. Os estados estão lidando com os efeitos da pandemia sobre as aprendizagens, com o desafio de trazer alunos de volta para a escola, de garantir um retorno seguro ao presencial. É um momento muito difícil.”

De acordo com Cláudio Furtado, secretário estadual de educação da Paraíba, o principal obstáculo do novo ensino médio na rede pública é a falta de verba. “A maior dificuldade é o gasto adicional com professores”, afirma.

Mais de 50% da rede estadual da Paraíba já funciona em um modelo em tempo integral e tem currículo com disciplinas eletivas variadas, de acordo com o projeto de vida dos estudantes de cada unidade.

Mesmo assim, uma parcela dos jovens deve continuar sem poder fazer escolhas dentro da grade. “Pela quantidade de professores, cidades menores vão ter um itinerário só”, diz o secretário.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.