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Decisão de tornar a frequência presencial obrigatória nas escolas em SP é acertada

Resultado, porém, depende muito de como será essa implementação no dia a dia

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Priscila Cruz

Mestre em administração pública pela Harvard Kennedy School (EUA), é presidente-executiva e cofundadora do movimento Todos Pela Educação

A decisão de tornar a frequência presencial obrigatória nas escolas é acertada, ainda que seu resultado, por óbvio, dependa muito de como será essa implementação no dia a dia.

Apresento aqui alguns argumentos que sustentam meu apoio. O primeiro é de que o retorno vem acontecendo de forma gradual desde o começo do segundo semestre, propiciando tempo e experiência às escolas, bem como aos professores, estudantes e suas famílias para a reorganização de seu cotidiano. Preparar um retorno sanitariamente seguro, pedagogicamente efetivo e socialmente acolhedor não acontece da noite para o dia.

O segundo argumento diz respeito à cobertura vacinal, pressuposto para o retorno seguro. São Paulo tem 97% de seus profissionais de educação com vacinação completa e 90% dos alunos acima de 12 anos com pelo menos a primeira dose. Tendo em vista que a rede estadual é formada por turmas de anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e ensino médio, temos quase todos os alunos das escolas estaduais já vacinados.

Sala de aula da escola estadual Estadual Thomaz Rodrigues Alckmin, no Itaim Paulista, na zona leste - Rivaldo Gomes - 7.out.2020/Folhapress

O terceiro é a ponderação entre riscos diversos. Claro que não é possível afirmar que o retorno não acarretará em aumento de transmissão da doença, que precisa ser constantemente monitorada para as ações de prevenção e combate à pandemia. Mas não estar na escola significa maior chance de evasão escolar, de não ter o direito à aprendizagem efetivado (e, portanto, o não rompimento do ciclo de exclusão e pobreza), de adoecimento mental, de lacunas no desenvolvimento de competências socioemocionais.

Tomar decisões no meio de uma pandemia é difícil, especialmente desta natureza. Mas precisam ser tomadas. Quando a Covid chegou ao país, os governadores e prefeitos decidiram acertadamente suspender as aulas presenciais; a hora agora é do retorno.

O quarto argumento é o da preparação e investimento nas escolas para que pudessem reabrir. Elas receberam R$ 2,7 bilhões pelo PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) para reformas na infraestrutura escolar e compra de equipamentos de segurança e higiene. Isso significa que tudo está em perfeitas condições? Logicamente não. Mas a demanda deve ser no sentido de cobrarmos mais investimentos e melhores condições, não o imobilismo.

Por fim, as experiências internacionais e nacionais mostram que a resistência ao retorno presencial aconteceu de forma generalizada, em maior ou menor grau, e que famílias, alunos e professores se sentem mais seguros conforme voltam a frequentar o espaço escolar.

A comunicação com as famílias teve problemas no estado de São Paulo e é preciso corrigi-la para que a adesão ao retorno seja menos por obrigação e mais por convicção.

Mas foi dado mais um passo no enfrentamento da desigualdade educacional aprofundada durante a pandemia. Os estudantes que ainda não retornaram às escolas são justamente aqueles que acumulam mais vulnerabilidades e, portanto, riscos de várias naturezas.

A falta de conectividade, de acesso a equipamentos ou de um ambiente domiciliar adequado aos estudos e física e emocionalmente seguro afeta os alunos mais pobres e aqueles que já são mais expostos à violência doméstica e das ruas e à insegurança alimentar.

Precisamos de um olhar mais generoso e condizente com a realidade em que vivem esses jovens, ainda que envolva decisões difíceis como esta.

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