Global MIL Week celebra práticas de educação midiática mundo afora

Evento da Unesco discute a alfabetização midiática como bem público indispensável ao exercício da cidadania

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Bruno Ferreira

Assessor pedagógico do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

São Paulo

Em outubro de 2020, uma experiência brasileira de educação pública foi internacionalmente reconhecida como projeto bem-sucedido de educação midiática. O professor Carlos Alberto Mendes de Lima, gestor do Programa Imprensa Jovem, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, foi o vencedor do GAPMIL Awards, prêmio que encerra a Global MIL Week, importante evento mundial de alfabetização midiática e informacional promovido pela UNESCO que, desde 2011, convida iniciativas de várias partes do mundo a compartilhar suas práticas em uma semana especialmente dedicada ao tema.

Neste ano, em que a Global MIL Week completa dez anos, o tema do evento é "Alfabetização midiática e informacional para o bem público". Basta realizar um rápido cadastro no site da UNESCO e, depois disso, logar na sala das conferências virtuais para acompanhar as discussões.

Em um momento de complexificação do ecossistema informacional, de excesso de circulação de conteúdos em diferentes plataformas, entre os quais desinformação e fake news, além do acirramento da polarização política em várias partes do mundo, refletir sobre educação midiática como pilar para o pleno exercício da cidadania no mundo conectado é indispensável.

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Temas como liberdade de expressão, acesso à informação, combate à desinformação e aos discursos de ódio e a necessidade de desenvolver a criticidade frente às mensagens midiáticas orientam os debates online que integram a programação desse encontro mundial de pesquisadores, formuladores de políticas públicas e representantes de organizações dedicadas à questão.

Apesar deste evento completar uma década em 2021, a relação da sociedade com as mídias e os provedores de informação já eram tema de interesse para a Unesco há muito tempo. Quando ainda nos anos 1960 intelectuais latino-americanos estavam preocupados com os efeitos das mensagens midiáticas sobre crianças e adolescentes –entendimento que, à época, criou barreiras à aproximação entre mídias e educação–, a Unesco procurava estimular outro pensamento a respeito dos meios de comunicação.

Nos anos 1980, a organização pautou a Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação (Nomic), na América Latina, difundindo o entendimento de que as mídias são condição essencial para o desenvolvimento.

Paulatinamente, desde então, as iniciativas de educação midiática, em vez de enfatizar o caráter denuncista de tendências manipulatórias das mídias na escola, passaram a praticar a conciliação com os meios de comunicação, de modo a utilizá-los como aliados dos processos educativos, seja para problematizar suas abordagens e visões sobre a realidade, seja para incorporar seus conteúdos como parte das estratégias pedagógicas.

Desde então, a educação midiática avança. Na América Latina, sua trajetória se dá no contexto do legado da educomunicação e da chamada "comunicação participativa", com o uso de mídias em processos de emancipação de fortalecimento da identidade cultural de grupos sociais excluídos e marginalizados, e mais recentemente com políticas públicas que fomentam o uso de mídias e tecnologias na educação formal.

Para que a educação midiática seja uma práxis cada vez mais cotidiana, arraigada à cultura de redes de ensino, organizações, movimentos sociais e outras instâncias socializadoras, é preciso conhecer suas referências históricas, além das inovações e desafios presentes. A Global MIL Week representa, portanto, uma oportunidade de se inserir e contemplar uma rica rede de experiências e reflexões comprometidas com a justiça social e com a democracia.

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