Apostila da gestão Doria com erros chama Inglaterra de 'Ingraterra'

Mesmo com revisão, publicação voltada a alunos do ensino fundamental tem outros erros, como em palavras cruzadas

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São Paulo

A gestão do governador João Doria (PSDB) distribuiu às escolas estaduais de São Paulo material didático com diversos erros ortográficos e de revisão.

O que mais chamou a atenção de professores foi uma tabela que mostra a origem dos navios negreiros na época da escravidão no Brasil, na apostila para os alunos do sétimo ano do ensino fundamental. Nela, a Inglaterra aparece grafada como Ingraterra.

Os materiais integram a coleção Currículo em Ação, elaborada pela própria secretaria, que começou a ser distribuída às escolas neste mês, segundo relatos de professores.

O secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, participa de evento sobre currículo
O secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, participa de evento sobre currículo - 24.abr.20/Governo do Estado de São Paulo

O objetivo é apoiar a implementação do currículo paulista, documento que norteia o conteúdo a ser ensinado, homologado em 2019.

Outro erro que chamou a atenção dos docentes está na apostila voltada ao primeiro ano do ensino fundamental.

Nela, uma atividade de palavras cruzadas pede para o aluno escrever o nome de frutas a partir do desenho de cada um delas. Mas não é possível completá-la.

Não há correspondência entre as letras que formam as palavras pera e abacaxi e as adjacentes.

O mesmo aparece em outra atividade de palavras cruzadas, de animais.

Já na apostila para o nono ano, na área de ciências da natureza, um gráfico informa que 69,8% da água no mundo faz parte das "calotas populares" —em vez calotas polares.

O expediente do material informa que ele foi elaborado pela coordenadoria pedagógica e indica que houve revisão do material.

Sob gestão Rossieli Soares, a Secretaria da Educação da gestão Doria costuma enfatizar sempre o caráter técnico de seus programas.

O secretário foi um dos primeiros a defender a volta presencial às escolas e a divulgar resultados mostrando a enorme perda de aprendizagem dos alunos na pandemia.

O caráter técnico das decisões da secretaria foi colocado em dúvida em setembro de 2019, quando Doria mandou a pasta recolher apostila de ciências que falava em identidade de gênero. Ao justificar a medida, um aceno ao público conservador, o tucano usou o termo "ideologia de gênero", não reconhecido por pesquisadores nem de educação nem de gênero.

"Fomos alertados de um erro inaceitável no material escolar dos alunos do 8º ano da rede estadual", escreveu o governador. "Solicitei ao secretário de Educação o imediato recolhimento do material e apuração dos responsáveis. Não concordamos e nem aceitamos apologia à ideologia de gênero."

Em 2011, senadores do PSDB fizeram uma representação à Procuradoria Geral da República por causa de um livro distribuído pelo MEC, então sob gestão Fernando Haddad (PT), que apontava preconceito linguístico nas críticas a quem falava com erro de concordância.

OUTRO LADO

Em nota, a Secretaria da Educação da gestão João Doria (PSDB) afirmou lamentar os erros no material didático e disse que eles já estão sendo corrigidos.

Em um dos casos, uma errata foi enviada em comunicado para toda a rede em 5 de novembro.

Segundo a pasta, os materiais são revisados por profissionais da área e também por professores da rede que foram contratados para isso.

"Vale ressaltar que das mais de 44 mil páginas de material didático, poucos erros de digitação e diagramação foram encontrados", afirma a secretaria.

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