Instituições particulares devem manter vestibular digital mesmo após pandemia

Universidades públicas seguem com modelo tradicional e registram queda de inscritos

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São Paulo

As restrições impostas pela pandemia devem mudar para sempre o processo seletivo das universidades. O modelo tradicional, no qual o aluno vai até a instituição e faz a prova no papel, não existirá mais em algumas instituições particulares.

A ESPM, por exemplo, que no ano passado adotou para seu processo seletivo um modelo de entrevistas acompanhado por uma redação, feita de maneira remota, manterá a fórmula neste ano.

"A gente já tinha a pretensão de fazer a seleção virtual antes da pandemia. Queríamos entrevistar todos os candidatos, e muitos não são de São Paulo, então não dá para ser presencial. Antes da Covid, a aceitação de algo remoto não era tão grande. A pandemia acabou acelerando isso", afirma Alexandre Gracioso, vice-presidente acadêmico.

Segundo ele, para o ano que vem o modelo pode até sofrer alguma alteração, mas não voltará a ser como era no pré-pandemia, com avaliações presenciais, de papel. As inscrições para a prova da ESPM vão até dia 16.

Já o Insper, apesar de aplicar a prova remotamente, tal qual em 2020, abre também possibilidade para que, se assim desejar, o candidato possa fazê-la presencialmente —mas também online, nos computadores do instituto. E esse pode ser um formato para as futuras provas.

"Buscamos um caminho do meio. O problema de realizar uma prova só em casa é que temos de gerenciar 5.000 pessoas ao mesmo tempo. Nosso plano é ter pontos de aplicação pelo Brasil. Mais da metade dos alunos hoje não são paulistanos", diz Guilherme Martins, diretor de graduação da instituição.

As inscrições para o processo seletivo no Insper vão até 13 de novembro. A exceção é quem quiser prestar vestibular para ciências da computação, curso novo, que pode se inscrever até 28 de janeiro.

Outras universidades, como a Mackenzie, cogitam, para o ano que vem, dar ao aluno a opção de fazer a prova remotamente ou de maneira tradicional, na instituição. Neste ano, o vestibular será completamente remoto.

A FGV, por sua vez, afirma que pretende manter sua prova de ingresso online daqui em diante e lembra que, em breve, a tecnologia 5G deverá revolucionar a transmissão de dados no Brasil. A instituição ressalta, porém, que um modelo híbrido, com alguns alunos fazendo o vestibular presencialmente e outros de casa, também pode ser uma opção.

Já nas universidades públicas, que mantêm provas presenciais, uma mudança trazida pela pandemia e seus impactos sociais é a queda no número de candidatos.

Na USP (Universidade de São Paulo), a quantidade de vestibulandos inscritos no processo seletivo atual, que começa em 12 de dezembro e tem sua segunda fase nos dias 16 e 17 de janeiro, caiu 15,4% em relação a 2020 —de 130.525 inscritos para 110.383. É a maior redução em 20 anos.
Entre os candidatos oriundos de escolas públicas, a queda ainda é maior, 25,7% (de 31.164 para 23.131 inscritos).

Belmira Bueno, diretora-executiva da Fuvest —responsável pelo vestibular da instituição—, atribui essa redução principalmente ao desalento dos estudantes após mais de um ano e meio de pandemia.

"Suponho que a falta de entusiasmo venha de uma quase ausência da escola. Muitos alunos também foram trabalhar no período para ajudar as famílias e se deram conta de que não estão preparados para o vestibular."

Bueno diz que viu desde 2020 sinais de que a redução aconteceria. O mais relevante deles foi a diminuição dos inscritos para uma iniciativa que a universidade toca desde 2017 com escolas públicas do estado, chamada Cuco (Competição USP de Conhecimentos). Trata-se de uma prova que dá aos bem colocados isenção na taxa de inscrição para a Fuvest. Neste ano, 2.625 estudantes foram premiados.
Em 2019, quase 140 mil alunos se inscreveram para tentar a isenção via Cuco. No ano seguinte e em 2021, o número ficou entre 60 e 65 mil.

"Antes da pandemia, o contato e o convívio com os colegas era muito importante. Na escola eles iam sendo formados e informados. Quando ela não funciona, tudo cai por terra. Foi um peso muito grande ter a escola fechada quando pensamos em vestibular", afirma Bueno.

Já na Unicamp, a redução de inscritos foi de 18,5% —77.653 no processo seletivo passado contra 63.297 no atual.

Para José Alves de Freitas Neto, diretor da Comvest, órgão responsável pela organização da prova, a queda também era esperada.

"Há um contexto de desmobilização estudantil e uma forte crise, o que faz com que muitos adiem sua preparação ou mesmo o ingresso numa universidade pública. A queda de inscritos no Enem e a diminuição de pedidos de isenção de taxas foram indícios que apontaram para isso."

A primeira fase do vestibular da Unicamp ocorre neste domingo (7), e a segunda entre 9 e 10 de janeiro.

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