A primeira fase da Fuvest, neste domingo (12), trouxe questões relacionadas à Covid, à cloroquina e às fake news.
Os candidatos que fizeram a prova V do vestibular, ao abrir o caderno de perguntas, depararam-se, logo na primeira pergunta, com uma citação à cloroquina "ou primaquina, drogas amplamente prescritas por médicos no tratamento da malária".
O remédio foi amplamente usado na pandemia contra a Covid, apesar da ausência de evidências e dos contínuos estudos que apontavam que a droga não tinha efeito sobre a doença. O presidente Jair Bolsonaro (PL) incentivou, por diversas vezes, o uso dessa e de outras drogas ineficazes contra o Sars-CoV-2.
Tal pergunta, porém, não tinha relação com a pandemia. Ela tratava da deficiência na enzima G6PD, passível de diagnóstico por meio do teste do pezinho expandido.
Mas a pandemia não ficou de fora da prova, como ocorreu no Enem deste ano. A Fuvest trouxe três questões diretamente ligadas à Covid-19. Uma delas falava sobre o pedido de ficar em casa durante a pandemia.
Outra relacionava, com ajuda visual de mapas da cidade de São Paulo, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o percentual de pessoas com duas doses da vacina contra a Covid e a mortalidade da doença. A última relacionava taxas de incidência de doenças tropicais negligenciadas e o PIB (Produto Interno Bruto) per capita de países.
A crença em fake news também foi abordada no vestibular que dá acesso à USP. "Por mais bem informado que você possa ser, não dá para baixar a guarda. Mas por que as notícias falsas —mesmo aquelas mais improváveis— parecem tão convincentes para tantas pessoas?", iniciava a questão, que falava ainda sobre a rejeição de fatos que ameaçam o senso de identidade e a busca por informações que confirmam nossas crenças.
A prova ainda, em duas questões, fez menção ao Pantera Negra, em uma delas falando diretamente sobre a história em quadrinhos e o filme de 2018, e, na outra, citando a música de mesmo nome do rapper Emicida.
O meio ambiente também não ficou de fora. Houve perguntas relacionadas ao uso sustentável de água, prática de queimadas —mas controladas— no cerrado e às manchas de óleo que atingiram principalmente o Nordeste do Brasil em 2019.
Segundo Daniel Perry, diretor do curso Anglo, a prova foi atual, consistente e conseguiu trazer aspectos da cultura pop, como as questões do Pantera Negra.
"Sem ser panfletária, [a prova] deixou claro o seu posicionamento de defesa dos valores democráticos e da ciência", afirma Perry.
Vera Lúcia Antunes, coordenadora pedagógica do Objetivo, disse que a prova seguiu tipicamente o padrão Fuvest, com questões interdisciplinares. "O aluno bem preparado está feliz", diz Antunes. "[Uma prova] sem a preocupação de exigir que o aluno soubesse o tema em si. Mas ele tinha que ter conhecimentos da disciplina."
A coordenadora também diz que os enunciados estavam claros, sem dificuldade para interpretação.
O diretor do Anglo diz que a dificuldade foi um pouco superior à do ano anterior, principalmente por causa da prova de matemática, o que pode reduzir a nota de corte para cursos mais concorridos.
Marcelo da Silva Melo, professor de matemática do curso Objetivo, afirma que a prova foi exigente para os candidatos, com questões exequíveis, mas com algumas difíceis.
As questões de geografia também foram destacadas por cursinhos preparatórios para a prova, exatamente pela citação a acontecimentos recentes, como o bloqueio do canal de Suez por um navio, e pelo uso em questões interdisciplinares.
Segundo Edmilson Motta, coordenador-geral do grupo Etapa, geografia "comparativamente, foi a disciplina mais difícil da Fuvest".
Nas questões de física, o Etapa e Objetivo apontam erro que pode levar à anulação de uma questão em que fala sobre força magnética. Na pergunta, falta a letra "v", de velocidade, na alternativa indicada como correta.
Segundo o Etapa, em outra questão de física houve a troca da palavra "fótons" por "elétrons".
A 1ª fase da Fuvest, prova de conhecimentos gerais, teve abstenção de 13,7%, o que equivale a 15.252 pessoas ausentas na prova. Ao todo, houve 110.773 inscrições para o vestibular. O número de abstenções é bem próximo ao do ano anterior, que foi de 13,2%.
Os candidatos tiveram que responder a 90 questões de múltipla escolha.
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