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Neil Young joga holofote em debate sobre fake news

Boicote ao Spotify gera discussão importante sobre as responsabilidades de cada um no combate à desinformação

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Daniela Machado

Coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

Qual deve ser o papel das plataformas e redes sociais no combate às chamadas fake news? E como artistas e influenciadores capazes de mobilizar centenas de milhares de pessoas devem se envolver nesse assunto? Não há resposta simples para essas perguntas, mas certamente temos alguma coisa a aprender com o episódio recente em que Neil Young exigiu a retirada de suas músicas do Spotify.

O astro do folk-rock anunciou o boicote após reclamar do principal podcast transmitido pelo canal de streaming: o "Joe Rogan Experience", que tem um contrato milionário de exclusividade com o Spotify.

As críticas ao programa de Joe Rogan não são de hoje nem exclusivas de Neil Young, mas certamente ganharam uma nova dimensão a partir de seu posicionamento. Médicos e cientistas já haviam se mostrado incomodados (e preocupados) com a disseminação de discursos antivacina sobre a Covid-19, principalmente por entrevistados do podcast.

Joe Rogan em cena de seu show na Netflix "Joe Rogan: Triggered."
Joe Rogan em cena de seu show na Netflix 'Joe Rogan: Triggered' - Miikka Skaffari/Netflix

Depois que Neil Young colocou os holofotes sobre o assunto, outros artistas (com destaque para Joni Mitchell) prometeram fazer o mesmo, provocando debates acalorados nas redes sociais sobre desinformação e liberdade de expressão.

Joe Rogan tem uma trajetória curiosa, levando um programa de bate-papo praticamente "caseiro" ao grupo dos podcasts mais ouvidos do mundo em poucos anos. Ganhou "vez e voz" com a revolução digital que abriu caminho para que todos com acesso à internet possam ser também produtores de conteúdo, e não apenas consumidores do que é selecionado e transmitido por alguns poucos veículos de comunicação. Não há dúvida de que essa mudança é muito poderosa — mas também desafiadora.

Quais as responsabilidades de quem tem tamanha audiência? Em um vídeo compartilhado no Instagram, que já conta com mais de 7 milhões de visualizações, Rogan alega que "apenas" entrevistou médicos com pontos de vista diferentes daqueles tidos como consenso sobre a Covid-19, pensando na liberdade de expressão. Diz ainda que, após as críticas, está mais aberto a convidar especialistas diversos, que "equilibrem" as discussões sobre os assuntos considerados mais controversos.

Tais comentários merecem algumas reflexões de todos nós, que dependemos de dados confiáveis para tomar decisões importantes em nossa vida (especialmente durante uma pandemia): qual a fronteira entre liberdade de expressão e o risco de disseminar informações contestadas pela maioria na comunidade científica? É desejável que se dê tamanho palco a quem está na contramão do que sustentam as principais autoridades em saúde do planeta? Seria suficiente que o apresentador ao menos deixasse claro para seus ouvintes o que outros médicos e autoridades da área de saúde afirmam? Até onde vai a responsabilidade dele sobre o que seus entrevistados dizem?

E qual é o papel que todos nós temos na hora de filtrar e analisar de forma reflexiva os diferentes tipos de conteúdo a que estamos expostos?

São perguntas que incomodam (e que nem sempre encontram uma resposta rápida e pronta), mas sobre as quais precisamos refletir.

O Spotify, por sua vez, anunciou algumas medidas para tentar responder às críticas sem abrir mão do podcast. Entre as ações estão a inclusão de um alerta em todos os programas que mencionarem a Covid-19, direcionando os ouvintes a uma página com informações "orientadas por dados, informação atualizada e compartilhada por cientistas, médicos, acadêmicos e autoridades de saúde pública ao redor do mundo, assim como links para fontes confiáveis".

Combater a desinformação é um caminho longo. Ainda que a postura de Neil Young não seja a solução para todos os males (ou tenha até sido criticada por alguns), é importante reconhecer que jogou mais luz sobre um problema que precisa constantemente da nossa reflexão.

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