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Governo de SP lança documentário autoelogioso sobre aulas remotas

Série com quatro episódios foi patrocinada pela Unesco; exibição será em escolas estaduais a partir do dia 4, e há negociação com Cine Sesc e streaming

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São Paulo

A Secretaria da Educação de São Paulo lançará um documentário sobre as aulas online durante a pandemia de Covid-19. "Escolas Remotas" terá pré-estreia nesta quinta (31) para convidados, no Cine Marquise, do Conjunto Nacional, na avenida Paulista, região central da capital, e, a partir de segunda-feira (4) será exibido em todas as escolas da rede estadual.

O governo negocia a exibição em salas do Cine Sesc da capital e do interior, além de espaço em alguma plataforma de streaming, antes de liberar o conteúdo na internet.

O documentário tem quatro episódios de cerca de 25 minutos cada um. O tom é institucional, elogioso à atuação do governo na área da educação durante a crise sanitária. Traz, por exemplo, o momento em que o governador e pré-candidato à Presidência João Doria (PSDB) anunciou, em 9 de junho de 2021, a antecipação do início de vacinação para professores, sendo aplaudido de pé por convidados do evento organizado pela Secretaria da Educação no Memorial da América Latina.

O secretário de Educação, Rossieli Soares, acompanha começo do ano leito em escola da zona sul de São Paulo
O secretário de Educação, Rossieli Soares, acompanha começo do ano leito em escola da zona sul de São Paulo - Karime Xavier - 2.fev.22/Folhapress

O secretário da Educação, Rossieli Soares, fala por longos minutos para a câmera do próprio documentário, além de aparecer dando entrevistas para a imprensa ou em reuniões em escolas.

No primeiro episódio, dos 27 minutos, cerca de dez são ocupados por ele e seus assistentes. Henrique Pimentel, chefe de gabinete da secretaria, está entre os que ganham generoso espaço nos episódios para falar das ações do governo. Ao comentar as lives feitas por Rossieli com professores, ele diz: "O secretário foi muito corajoso de se colocar para a rede".

Bruna Waitman, coordenadora do Centro de Mídias, fala em detalhes do trabalho de produção de aulas online do estado.

No segundo episódio, abre-se espaço à crítica, e feita pela maior adversária política da Secretaria da Educação paulista, a deputada petista Professora Bebel, presidente da Apeoesp, o principal sindicato de professores do estado. A ela, opositora ferrenha da reabertura das escolas na pandemia, o filme reserva pouco mais de um minuto. A deputada fala do aumento da desigualdade na educação e diz que o Centro de Mídias de SP, ainda que seja uma ferramenta, é "muito aquém" para atender todos os alunos.

O documentário foi produzido em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que concedeu uma verba de R$ 88 mil ao projeto, idealizado por Rossieli e dirigido pelo fotógrafo Luca Jardim.

A série começou a ser filmada em outubro de 2020, quando as escolas de São Paulo reabriram parcialmente, e as gravações se encerraram no final de 2021, com 60 entrevistas, em um total de 30 horas de conteúdo. Além do secretário e de seus assessores, há o depoimento de estudantes, entre eles os de uma escola indígena, e de profissionais da educação, como professores, coordenadores pedagógicos, diretores e merendeiras.

O governador João Doria (PSDB) acompanha vacinação de funcionários da educação na escola Raul Brasil, em Suzano, na Grande SP - Mathilde Missioneiro - 10.abr.21/Folhapress

Há bons depoimentos, entre os quais o de uma merendeira, afirmando que tenta dar apoio emocional aos estudantes.

Outros relatos interessantes são o de um professor, que se reinventou para dar aulas online de forma criativa, e o de outro dizendo que, mesmo quando não estava bem, se esforçava para passar boa energia aos alunos no vídeo.

Ao falar da busca ativa, como é chamada a procura de alunos feita pelas escolas a fim de reduzir a evasão escolar, uma coordenadora pedagógica conta que enfrentou pais batendo a porta em sua cara e o risco de ser mordida por cachorros.

Uma diretora lembra que alguns estudantes, vítimas de violência doméstica no confinamento, ficavam na porta da escola pedindo para voltar às aulas.

O potencial que essas histórias têm de gerar emoção e reflexão, no entanto, é pouco explorado no filme.

Também não há informações ou dados inéditos, nem uma revisão mais aprofundada das decisões do governo durante a pandemia, inclusive, em relação ao fechamento prolongado das escolas ao longo de 2020 e 2021.

A exceção fica por conta da secretária executiva, a pedagoga Renilda Peres de Lima, a segunda na hierarquia, abaixo de Rossieli. Ao comentar os prejuízos ao aprendizado e à saúde mental causados pela suspensão das aulas presenciais, ela diz: "Sempre defendi que a escola não deveria ter sido fechada totalmente, a gente deveria ter garantido alguma coisa". Isso, inclusive, considerando a contaminação pela Covid, porque "as pessoas saem de casa [no confinamento], e, na escola, com protocolos de segurança, estão mais seguras".

No encerramento, o filme registra um comentário poético de uma aluna que, de máscara, fala da esperança com a educação em sua comunidade, na periferia. "Minha rua tem casas, comércios e, no final, a escola. É como uma luz no fim do túnel."

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