De 642 mil alunos, 69% relatam sintomas de depressão e ansiedade em SP

Pesquisa ouviu estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública estadual

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São Paulo

Um mapeamento feito pela Secretaria da Educação de São Paulo identificou que 69% de mais de 642 mil estudantes da rede estadual relatam ter sintomas ligados à depressão e ansiedade.

Ao todo são 443 mil estudantes de 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio que relataram sintomas, como dificuldade de concentração, esgotamento e problemas com o sono. O questionário foi respondido pelos estudantes no fim do ano passado após quase dois anos sem aulas presenciais regulares por causa da pandemia de Covid-19.

Os dados foram apresentados nesta sexta-feira (1º) e fazem parte de estudo realizado pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com a Secretaria da Educação da então gestão João Doria (PSDB).

Estudantes em escola estadual no Jardim Miriam, na zona sul de São Paulo, em fevereiro deste ano - Karime Xavier/Folhapress

O trabalho inicialmente era para levantar a percepção dos estudantes sobre uma série de competências socioemocionais, nome dado a características como empatia, foco, confiança, persistência, entre outras, mas foram incluídas também perguntas sobre saúde mental. O questionário foi aplicado em 2021 de forma censitária pela primeira vez em 5.056 escolas e mais de 642 mil estudantes.

"É um pedido de socorro que estamos recebendo. E esse não é um problema da escola, mas da sociedade. É um problema da escola, do sistema de saúde pública, das famílias, de todos nós", disse Rossieli Soares, então secretário de Educação.

Essa foi a última agenda pública de Soares à frente da secretaria. Ele deixou o cargo na tarde desta sexta para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados nas eleições de outubro.

Segundo o mapeamento, 33% dos alunos relataram ter dificuldades de concentração em nível alto ou moderado. Outros 18,8% disseram se sentir esgotados e sob pressão, e 18,1% afirmaram perder totalmente o sono em decorrência de preocupações.

"Isso não é um problema da escola, a falta de escola é que piorou isso", disse o secretário.

Ele contou também, mais uma vez, sobre a depressão do filho durante a pandemia. "Eu passei por isso em casa também, com meu filho, que graças a Deus tem melhorado muito. Eu vivi isso num nível de depressão muito alto do meu filho."

Para Tatiana Filgueiras, do Instituto Ayrton Senna, a dificuldade de concentração, que atinge um terço dos estudantes, tem impacto direto no aprendizado. Ela diz que os professores precisam compreender essa situação e buscar estratégias para ajudar os alunos.

"O professor precisa ter consciência dessa situação, mas, assim como qualquer competência, pode ajudar o aluno a desenvolvê-la. É um processo que vai acontecer aos poucos", afirma.

A pesquisa também indicou que 5,7% dos estudantes relataram presenciar violência psicológica com muita frequência. Outros 3,8% afirmaram presenciar violência física em casa com muita frequência. A incidência foi maior entre os estudantes mais jovens, do 5º ano do ensino fundamental.

Sobre a autoavaliação dos alunos sobre suas competências socioemocionais, a pesquisa mostrou uma piora na autopercepção dos estudantes na comparação com 2019, quando o questionário foi aplicado pela primeira vez na rede estadual.

O mapeamento identificou que 67% dos estudantes se declaram nada ou pouco capazes de exercitar a competência "tolerância à frustração", ou seja, que têm dificuldades para controlar raiva e irritação.

Os dados também mostram que aumentou a proporção de alunos que sentem ter desenvolvido pouco as habilidades socioemocionais. Por exemplo, 43,8% dos estudantes disse ter pouca curiosidade para aprender. Em 2019, eram 37,8%.

Outros 43,3% avaliam que têm pouca responsabilidade, e 37,6%, pouca determinação. Além disso, 41,8% dos alunos disseram ter desenvolvido pouco a empatia.

"É preciso muito que a escola olhe para isso, porque as perdas socioemocionais foram muito grandes durante a pandemia. Não é verdade que empatia e responsabilidade não se ensinam na escola. Se ensinam, sim. A gente pode trazer o desenvolvimento dessas habilidades para dentro do processo educacional", disse Soares.

Segundo a secretaria, as estratégias para lidar com a atual situação dos estudantes já foram implementadas. A pasta diz que uma das ações é o Projeto de Convivência, que prevê uma aula semanal de 45 minutos para os alunos do 1º ao 5º ano para trabalhar competências socioemocionais.

Também afirma ter o programa Conviva, em que psicólogos atendem estudantes e professores. Segundo Soares, são 1.050 profissionais da área nas 91 diretorias de ensino da rede para atender cerca de 3 milhões de estudantes.

Ao ser questionado pela Folha se considera o número de psicólogos suficiente para atender a demanda dos estudantes neste momento, ele disse que ainda não é possível avaliar.

"É importante dizer que os psicólogos não estão lá para fazer atendimento clínico. Esse tipo de atendimento quem faz são os equipamentos de saúde. Eles estão ali para dar suporte aos professores, formação. Estamos aprendendo com eles", disse.

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