Alunos equilibram preparo para o vestibular com vida de influencer

Jovens compartilham rotinas de estudos; educadores questionam uso das redes

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São Paulo

Conteúdos como cronogramas, resumos, dicas de sites para simulados e relatos de experiências com vestibular estão se popularizando nas redes sociais, com perfis de jovens que compartilham a rotina de estudos e somam milhares de seguidores.

No TikTok, a #StudyTok, que une o verbo estudar, em inglês, ao nome da rede, tem postagens que chegam a mais de 11 bilhões de visualizações. Os influenciadores que compartilham a rotina de estudos nas redes são conhecidos como "studygrammers".

Na foto, vemos Jessica Ellen Silva, 20, sentada em frente a uma luz de led circular e com o celular em um tripé. AL lado, está uma mesa com materiais de estudo em cima, folhas, lápis e cadernos
Jessica Ellen Silva, 20, ela é criadora de conteúdo e tem um perfil no TikTok (@jessi.ellen) que dá dicas para quem vai prestar vestibular - Leo Caldas/Folhapress

A criação de conexões digitais entre vestibulandos mostra protagonismo e apropriação da linguagem da internet, explica Daniela Costa, coordenadora da TIC Educação, pesquisa do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) que mapeia o uso de tecnologias da informação nas escolas.

"Vejo com bons olhos esse movimento, mostra empoderamento do estudante", diz.

Jessica Ellen, 20, estuda há cinco anos para entrar no curso de medicina da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Moradora de Abreu e Lima (PE), ela compartilha sua rotina de estudos no TikTok (@jessi.ellen), acompanhada por mais de 530 mil pessoas.

Ela diz que busca mostrar como é o dia a dia de preparação e fugir da imagem de "produtividade tóxica", que exclui momentos de descanso. "Demorei a perceber a necessidade de tirar tempo para mim."

Jessica, que estuda por conta própria, assiste a aulas e segue cronogramas pela internet. No mês anterior às provas, conta, evita estudar novos conteúdos e faz só revisão. Uma semana antes, não estuda mais nada, para "descansar a mente para a maratona".

Retrato de Débora Aladim, 24, criadora de conteúdo para pré-vestibulandos. Na foto ela está sentada no chão, encostada em uma parede com um notebook no colo
A mineira Débora Aladim, 24, usa as redes sociais para das dicas de história e redação pré-vestibulandos. Seu perfil no TikTok (@dedaaladim) conta com mais de 1,6 milhões de seguidores - Divulgação

Hoje o TikTok se tornou um negócio, afirma, com a venda de agendas e parcerias para publicidade, que ela administra com a ajuda da mãe.

Durante os intervalos de estudo, grava vídeos e responde postagens. "Tornou-se minha válvula de escape", diz, sobre a interação com os seguidores.

A paraense Brenda Camilla, 23, compartilha o sonho de cursar medicina —desde 2018 tenta uma vaga na USP. Com quase 60 mil seguidores no Instagram (@futurojaleco), ela começou a postar sobre seus estudos após sair do cursinho presencial, em 2020. "Sentia-me muito sozinha estudando em casa."

Ela também se encontra por videochamada com um grupo, criado na internet, para discutir questões e dúvidas.

Os estudos começam cedo, às 4h. Das 9h às 18h, dedica-se às redes e à administração de uma loja virtual. Em seguida, volta aos livros até as 22h. O descanso, ela diz, fica para os fins de semana.

As redes sociais são parte importante da formação da identidade dos jovens, diz Daniela, do CGI.br. "É lá que estão o grupo da família, os amigos, as celebridades, o mundo desse estudante está ali."

Por outro lado, diz, as plataformas não foram criadas para a educação. Por isso, deve haver debate com familiares e professores sobre o papel da internet nos estudos, para estimular o pensamento crítico.

Daniela indica comparar textos e fontes para formar redes de informação confiáveis.

"Muita gente posta com interesse comercial, e não de passar informação", afirma Maria de Lourdes da Cunha, professora de literatura no cursinho Objetivo, em São Paulo. Para ela, o imediatismo que as redes proporcionam é um atrativo, com vídeos curtos e promessas de macetes para questões do vestibular.

"É importante ter vídeos que explicam um livro com linguagem cotidiana, mas ter o texto do livro e refletir sobre ele também", diz, acrescentando que as práticas devem ser complementares e, se possível, discutidas em grupo.

A mineira Débora Aladim, 24, formada em história pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), compartilha curiosidades sobre a disciplina, dicas de redação e cronogramas de estudo com 1,6 milhão de seguidores no TikTok (@dedaaladim) .

Ela conta que o gosto por ensinar surgiu na escola, quando começou a postar resumos. "Compartilhava só com os amigos em épocas de prova, mas as postagens foram crescendo. Quando entrei na faculdade já via a internet como trabalho."

Para ela, a conexão com os seguidores —cerca de 80% deles vestibulandos— vem do fato de ela mesma já ter passado pela dificuldade de conciliar estudo e trabalho. "Sou eu quem faço o conteúdo, gosto mais de ser professora do que empresária", diz ela, que hoje tem uma equipe de comunicação para administrar as redes.

Além de acompanhar canais de outros professores, ela segue o calendário escolar e usa comentários que recebe para planejar as postagens.

Hábitos saudáveis de estudo

Fonte: Fabiano Moulin, médico especialista em neurologia da cognição

  • Tempo

    O uso de telas sobrecarrega mais o cérebro que o contato ao vivo. Para melhorar o desempenho, o tempo de estudo deve ser dividido, com pausas para descanso

  • Desligar a câmera

    Em videochamadas, reduzir o número de pessoas na tela e desligar a própria câmera reduz o cansaço mental

  • Manter-se ativo

    Alimentação balanceada e atividade física contribuem com a memória

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