Descrição de chapéu Escolha a escola

Pauta socioambiental entra para o currículo de escolas de São Paulo

Iniciativas vão desde viagem a Manaus até a criação de empresas responsáveis

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Luciana Alvarez
Lisboa

Conteúdo sobre ecossistemas, ecologia e ciclo da água sempre fizeram parte das aulas de ciências, mas colégios têm buscado ampliar as discussões e, para isso, estão criando projetos e disciplinas em que abordam o meio ambiente sob o ponto de vista da responsabilidade socioeconômica.

Na rede de escolas Luminova, de São Paulo, o trabalho começa no primeiro ano do ensino fundamental, dentro da disciplina relações sociais. No começo, as crianças aprendem sobre suas relações com colegas e familiares, mas as discussões chegam ao contexto social mais amplo com o passar dos anos.

"A gente pede para eles pensarem o que seria um mundo ideal e o que gostariam de mudar. Para a escola, eles pediram uma horta, e nós criamos uma. Na pandemia, os alunos fizeram uma campanha contra a fome", diz Carla Lyra Jubilut, coordenadora pedagógica.

A horta e a campanha de arrecadação de alimentos foram iniciativas da unidade da Escola Luminova de Vila Prudente (zona leste de São Paulo).

Embora o foco da disciplina seja social, o lado ambiental nunca fica de fora. "O cuidado consigo e com o outro acaba sendo um cuidado com o planeta também", diz Carla.

A partir do sexto ano, há experiências como da escola bilíngue Brazilian International School - BIS, no Planalto Paulista (zona sul de SP), que oferece uma matéria chamada perspectivas globais, na qual os estudantes fazem projetos sobre os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU.

"Estudamos o ODS 6 (água potável e saneamento) e eles queriam mostrar os estágios da purificação da água com maquetes, mas se estamos alertando sobre um colapso ambiental, a produção tinha de ser sustentável. Todo o material das maquetes era reutilizado", diz José Aparecido dos Santos Junior, professor.

Ainda que existam disciplinas do gênero desde o início do fundamental, é no ensino médio que elas se tornam mais comuns. Além dos conteúdos obrigatórios, a etapa prevê que uma parte do currículo seja diversificada, o que a transformou em campo fértil para novas abordagens.

No colégio Gracinha, Paulos Crispin, professor de história, é um dos responsáveis pelo projeto Jornada Amazônica, que leva os alunos para Manaus e promove uma interação entre os estudante, a cidade e a floresta - Jardiel Carvalho/Folhapress

Viagens também passam a integrar os currículos. Na Escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, no Itaim Bibi, há um projeto que leva os alunos do terceiro ano do ensino médio para um estudo de campo em Manaus (AM).

"A gente quer que eles ampliem a perspectiva de mundo e de Brasil. A ida a Manaus, onde conhecem floresta e cidade, é importante, porque traz aprendizagem pela experiência", diz o professor Paulo Crispim. O projeto envolve conteúdos de história, geografia, sociologia e biologia.

Crispim defende que a questão ambiental e seus desdobramentos sejam centrais. "É o debate do século. No projeto, a gente busca enfatizar as potencialidades, o que dá certo, que mantém floresta em pé, respeita biodiversidade e povos locais", afirma.

Mais do que uma viagem, o projeto envolve meses de preparação antes e um processo de divulgação do que foi aprendido depois. Todos fazem uma parte do projeto. A viagem não é obrigatória, mas a adesão é quase total.

No Colégio Equipe, em Higienópolis, a escolha tem sido trazer para dentro da escola outros atores sociais. A instituição tem parceria com uma produtora cultural de hip hop do Jardim Ângela (zona sul).

Os produtores vão semanalmente ao colégio durante um bimestre e viram professores dos alunos do ensino médio. Há passeios para explorar a cidade.

"Eles vêm conversar sobre as perspectivas do que é ser adolescente e jovem no contexto do desenvolvimento da cultura hip hop, da cultura urbana de resistência", explica o professor Silvio Hotimsky.

Outra parceria é com lideranças da Terra Indígena Tenondé Porã, em Parelheiros, no extremo sul da capital paulista.

Há escolas que optam por abordagens com um cunho mais empresarial. O Colégio Pentágono, com unidades em Alphaville, Perdizes e Morumbi, tem uma parceria com a escola de negócios Ibmec para oferecer ao ensino médio uma eletiva chamada globalização, empresas e sustentabilidade.

Os estudantes participam de aulas práticas e estudos de caso para entender a importância do desenvolvimento sustentável, o que inclui também responsabilidade social e direitos humanos.

Na mesma linha, o Colégio Porto Seguro tem um projeto de empreendedorismo em que os alunos de ensino médio se reúnem em grupo para criar empresas responsáveis.

"Este ano o tema é cidades inteligentes. Cada grupo desenvolve planejamento estratégico para resolver um problema de mobilidade urbana, nos ambientes de trabalho ou nas moradias. Eles planejam com detalhes como tudo que vão produzir pode afetar o meio ambiente e como reduzir o impacto", diz Paulo Rogério, professor responsável.

Há ainda modelos como clubes estudantis, de presença livre, como na escola Carandá, onde um grupo de cerca de 20 alunos se reúne de 15 em 15 dias para discutir e propor ações de sustentabilidade.

"A escola já tem uma cultura de coletivos, como o coletivo feminista. O grupo surgiu por motivação dos estudantes e as discussões incluem o social e o econômico além do ambiental", diz Juliana Chinellato Giannella, professora que coordena o grupo.

Uma das ações foi fazer uma festa junina sustentável, sem venda de plásticos descartáveis. "Tudo tinha que ser biodegradável. Eles também recolheram alimentos, roupas e materiais de higiene para doar."

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