Saúde, proteção e educação de crianças de 0 a 6 anos pioram na pandemia

Estudo com apoio do Unicef alerta para o risco de prejuízos à geração que cresce nessas condições

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São Paulo

Indicadores nacionais de saúde, educação, proteção e segurança alimentar de crianças de 0 a 6 anos pioraram desde o início da pandemia de Covid-19. O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) alerta para os riscos de prejuízos para o desenvolvimento infantil de toda uma geração que nasceu nessas condições.

A conclusão é de um estudo feito pela FMCSV (Fundação Maria Cecília Souto Vidigal), com o apoio do Unicef e Itaú Social, que comparou dez indicadores da qualidade de vida de crianças no período da primeira infância. O levantamento foi divulgado nesta quarta-feira (21).

O estudo mostra que os riscos às crianças foram ampliados antes mesmo de nasceram, já que os indicadores de saúde materna no país pioraram neste período.

Crianças brincam no CEI Bela Vista, na região central de São Paulo
Crianças brincam no CEI Bela Vista, na região central de São Paulo - Rubens Cavallari/06.mai.22 Folhapress

A razão de mortalidade materna no país, que se mantinha praticamente estável de 2015 a 2019, com 60 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos, passou a 113,6 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos, em 2021. Mais da metade dos óbitos maternos ocorridos no ano passado foi devido à infecção por Covid-19 (53,4%).

Também houve queda nas taxas de acompanhamento pré-natal nesse período. Antes da pandemia, 72,9% dos bebês nascidos tinham nascido de mães que fizeram mais de sete consultas de pré-natal. Em 2021, essa taxa caiu para 72,2%

Os dados mostram ainda que a cobertura pré-natal ocorre de forma desigual no país. Entre as mulheres brancas, mais de 80% fizeram sete ou mais consultas. Já entre as mulheres pretas, pardas ou indígenas, a taxa cai para 65%.

"A pior assistência médica para mulheres negras no Brasil expõe o racismo e desigualdade históricas país e as perpetua, já que os filhos dessas mulheres ficam mais expostos a riscos no início da vida", diz Marina Fragata, diretora de conhecimento aplicado da FMCSV.

O estudo também mostra a queda de cobertura vacinal nos dez imunizantes específicos da primeira infância no período de 2019 a 2021. A BCG, por exemplo, tinha uma cobertura de 86,6%. Em 2021, ela caiu para 68,6%. Já a poliomielite caiu de 84,1% para 69,4%. Em 30% dos municípios consultados no levantamento com os gestores, as famílias deixaram de levar as crianças de até 6 anos aos postos de saúde para tomar uma ou mais vacinas.

Em educação, o estudo identificou a perda ao direito constitucional de acesso à escola entre as crianças pequenas. De 2019 a 2021, houve diminuição de quase 338 mil matrículas nas creches.

"Os primeiros seis anos de vida das crianças são considerados a principal janela de oportunidade para o aprendizado e desenvolvimento. Muitas crianças no país, principalmente as mais pobres e negras, tiveram essa oportunidade perdida nesse período", diz Maíra Souza, oficial de primeira infância do Unicef.

O levantamento também identificou o impacto da crise econômica na nutrição infantil. Os dados mostram que o percentual de crianças de 0 a 5 anos que estavam muito abaixo do peso passou de 1,1%, em março de 2020, para 1,7%, em novembro de 2021 - o que corresponde a cerca de 324 mil crianças.

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