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Por uma cultura de não violência

Educação pode contribuir para comportamentos responsáveis dentro e fora da internet

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Daniela Machado

Coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

Episódios de violência como os vistos recentemente em escolas exigem ações pontuais e imediatas. Mas não podemos perder a chance de discutir caminhos mais duradouros para uma cultura de paz, em que crianças e jovens sejam acolhidos e preparados para uma postura mais saudável e responsável dentro e fora da internet.

A violência —seja ela retórica (que aparece, por exemplo, em ameaças e boatos de atentados), seja física (com casos concretos de ataques)— só será efetivamente enfrentada a partir de um conjunto amplo de iniciativas, envolvendo agentes públicos, a sociedade de maneira geral e as escolas, em especial. A construção de uma cultura de não violência precisa passar pela sala de aula, a partir da incorporação de temas ligados ao universo midiático e questões socioemocionais ao currículo.

Alunos da Escola Estadual Henrique Dumont Villares leem o jornal Joca, destinado a crianças - Danilo Verpa/Folhapress

Muitos fatores têm o potencial de criar condições para um ambiente violento e radical e, entre eles, está a maneira como nos conectamos com o mundo e dele participamos por meio das redes sociais. Daí a importância de tratar desse assunto também nas escolas.

A retórica violenta e discriminatória pode começar de maneira localizada e aparentemente pontual, sob a forma de posts, piadas e memes desrespeitosos, que perpetuam preconceitos ou reforçam desigualdades.

O perigo desse tipo de comportamento será tanto maior quanto maior for o desconhecimento de como todos nós temos responsabilidades ao criar e compartilhar conteúdos. Por isso, a escola precisa incluir em seu dia a dia novos letramentos que ajudem crianças e adolescentes a entender fenômenos como o das câmaras de eco, que amplificam retóricas de ódio contra grupos da sociedade, glorificam a violência ou geram boataria e insegurança.

A educação para o uso consciente, ético e saudável das mídias pode ser incorporada ao currículo das escolas e redes, de maneira transversal em todas as disciplinas, não somente para discutir e combater discurso de ódio mas também desinformação, mensagens persuasivas e representação. Esses são temas diretamente relacionados à cultura digital, já previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e que, portanto, compõem uma política pública.

Assim, a educação midiática, entendida como o conjunto de competências para que toda a sociedade possa consumir e produzir informações de forma mais crítica e responsável, é aliada importante na construção de uma cultura de não violência. Entre os temas que propõe para a escola estão o entendimento da comunicação no ambiente digital, os limites da liberdade de expressão, o papel da imprensa ao não "recompensar" autores de ataques com a exposição de nomes e imagens que incentivam cópias, a natureza do discurso de ódio e a reflexão sobre como mensagens podem violar direitos.

Importante também incorporar à cultura escolar a valorização de um ambiente acolhedor e saudável, em que os estudantes tenham espaço para o diálogo e a autoexpressão, participando do debate público sobre temas importantes para a sociedade e com impacto direto em sua vida, como o da própria violência.

Com usuários mais conscientes e responsáveis, as mesmas redes sociais em que ódio e exaltação à violência são compartilhados poderão, quem sabe, serem veículos de mobilização e disseminação de uma cultura de paz.

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