Nas últimas semanas, os Estados Unidos foram sacudidos por uma poderosa onda de protestos liderada por adolescentes exigindo maior controle de armas e ações efetivas que coloquem fim aos atentados armados que já vitimaram dezenas de estudantes no país. O movimento, em muitos aspectos, lembra o da ocupação das escolas pelos secundaristas que aconteceu no Chile, no Brasil e na Argentina nos últimos anos.
O que mais chama a atenção em todos estes movimentos é a capacidade dos adolescentes para criar novas formas de organização, trabalhar em equipe em um formato de liderança compartilhada, expressar real empatia pelo outro e produzir mudanças positivas no mundo.
As imagens dos adolescentes liderando multidões com discursos consistentes e propostas efetivas contrastam fortemente com a visão mais comum, a de causadores de problemas ou apáticos.
A adolescência, invenção da modernidade, é o período em que os seres humanos já estão física e intelectualmente prontos para compreender os valores sociais, produzir riqueza e reproduzir a espécie, mas, por ainda não terem a maturidade emocional e a experiência social necessárias, são mantidos sob a tutela dos adultos.
Essa situação, que por si só já é de difícil gerenciamento, sobretudo para os pais, torna-se ainda mais desafiadora nos tempos atuais, em que os adolescentes estão constantemente conectados nas redes sociais, acessando informações vindas de todos os lados do planeta em tempo real, e também com acesso bastante facilitado a drogas de diversos tipos e, cada vez mais, receitadas por psiquiatras.
Vários estudos vinculam as taxas crescentes de ansiedade e depressão juvenil ao uso continuamente intenso da tecnologia e de drogas.
Contribui para este estado de coisas a permanência de um modelo educacional que mantém os estudantes na passividade. Os jovens percebem que o mundo atual está mudando velozmente e que os adultos formados neste modelo não estão conseguindo lidar com as mudanças. Isso, claro, aumenta e fundamenta sua ansiedade.
A melhor forma de superar a ansiedade extrema da adolescência nos dias de hoje –e suas consequências de alto risco, como a depressão e o abuso de drogas– é o jovem efetivamente experimentar sua potência, viver a experiência de transformar o mundo, como estão fazendo os estudantes americanos agora e como fizeram os estudantes latino-americanos antes.
Quando um jovem tem a experiência de participar da criação de um novo projeto, de uma equipe formada em torno de uma proposta para mudar algum aspecto de seu contexto, ele percebe sua potência, sente-se incluído na sociedade, não mais um tutelado, mas sim agente, autor.
Nesse processo, o jovem desenvolve as aprendizagens necessárias para atuar positivamente no mundo contemporâneo. Nada traz mais saúde e felicidade do que a experiência de contribuir para o mundo, o sentimento de pertencimento e o reconhecimento social.
Isso exige que escolas e organizações educativas em geral se tornem comunidades que estimulam a capacidade transformadora de seus membros. É isso que muitos empreendedores sociais e estabelecimentos de ensino que colocam os adolescentes no comando de projetos e equipes demonstram.
A Viração, por exemplo, criada por Paulo Lima há 15 anos, tem desenvolvido, no Brasil e na Itália, um trabalho de engajamento e empoderamento dos jovens por meio da comunicação e da expressão.
Já Luke Dowdney levou para vários países sua experiência na favela da Maré, no Rio, com jovens em risco de envolvimento com o tráfico de drogas. Por meio das artes marciais, a ONG Lutas pela Paz traz de volta jovens que haviam evadido da escola e não só os engaja no esporte, transformando seu cotidiano, como também os forma para fazer parte da equipe e apoiar outros jovens a retomarem suas vidas.
Orientar um adolescente em um mundo em constante transformação não é fácil. Mas temos a nosso alcance uma ferramenta muito poderosa: a capacidade de o próprio adolescente de empatizar, engajar e criar. Eles podem querer mudar as leis de seu país, a organização de suas escolas ou ainda a vida em sua comunidade.
O que importa é o despertar de sua capacidade transformadora. À medida em que os adultos acompanhem os jovens nesta experiência única de transformação, estarão, também, contribuindo para tornar o mundo melhor.
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