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Empreendedorismo social é um movimento transformador massivo

Negócios de impacto solucionam desafios de uma forma que governo e empresa não conseguem

James Marins
Curitiba

O professor Klaus Schwab lembra que, quando criou, em 1998, a Fundação Schwab para o Empreendedorismo Social, teve dificuldades para registrar sua instituição na Suíça.

Ele precisava traduzir o termo empreendedorismo social para os idiomas alemão e francês, mas essa expressão não existia em seus léxicos.

Já em 2002, ainda por iniciativa de Schwab, o tema fez parte do Fórum Econômico Mundial, com uma sessão denominada “Venha Conhecer os Empreendedores Sociais”.

Hoje, passados apenas 20 anos, esse campo está muito mais difundido. Figuras conhecidas como Bill Drayton (fundador da Ashoka), Jeff Skoll (fundador do e-Bay e da Fundação Skoll para o Empreendedorismo Social) e Muhammad Yunus (Prêmio Nobel da Paz e criador da Yunus Negócios Sociais) representam a força desse movimento.

Universidades de referência como as americanas Stanford, Berkeley, Harvard, Yale, a britânica Oxford e muitas outras já contêm destacados programas em empreendedorismo social. 

No Brasil, a Folha de S.Paulo criou há 14 anos o Prêmio Empreendedor Social, em parceria com a Fundação Schwab. Há seis anos, o Instituto Legado patrocina o Prêmio Legado de Empreendedorismo Social.

A tradicional FAE Business School, no Paraná, iniciou há dois anos o programa de pós-graduação em Empreendedorismo e Negócios Sociais. A PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), reconhecendo a transversalidade dessa matéria, está oferecendo a disciplina de Empreendedorismo Social e Inovação para todos os alunos de graduação de todas as áreas de conhecimento.

O empreendedorismo social é uma linguagem de aproximação entre o mercado e as necessidades sociais, conecta o empreendedorismo com o social e o social com o empreendedorismo.

Essa linguagem está alinhada com as propostas de importantes teóricos que propõem a reinserção da ética na teoria econômica, como Joseph Stiglitz e Amartya Sen, economistas laureados com o Prêmio Nobel.

Esse conceito requalifica o papel do empreendedor assim como a sustentabilidade requalificou o papel do desenvolvimento.

O mercado, enquanto eticamente neutro, não resolve suas externalidades negativas. Na verdade, tende a agravá-las. As empresas sociais e os empreendedores sociais, extremamente inovadores e dotados de elevado senso de propósito ético, descentralizam a solução de complexos problemas sociais e ambientais de uma forma que governos, corporações e universidades não conseguem fazer.

Um aplicativo inovador chamado Be My Eyes (Seja Meus Olhos), criado por empreendedores sociais, formou uma comunidade que tem 931 mil voluntários inscritos que auxiliam remotamente mais de 65 mil pessoas com deficiência visual –e essa rede cresce a todo momento.

No Brasil, dois garotos de ensino médio de uma escola pública que participaram de um programa de empreendedorismo social denominado Waas (Somos Todos Inteligentes, na sigla em inglês) ganharam uma competição da Nasa (agência espacial americana) com um projeto para prevenir incêndios detectados por satélites, transmitindo alertas por rádio. Estão entre os cinco melhores projetos selecionados pela agência em todo o mundo.

São centenas de milhares de iniciativas socioempreendedoras protagonizadas por jovens espalhados pelo planeta. Por isso o empreendedorismo social ou socioambiental deve fazer parte de programas de políticas públicas, tanto no campo do empreendedorismo como no campo da educação.

Os negócios sociais, também chamados negócios de impacto, e as finanças sociais, ou investimentos de impacto, são categorias novas que ainda não foram objeto de adequada disciplina legal.

É o também denominado setor 2.5, que navega no inseguro limbo legislativo entre o segundo e terceiro setores. Essa área tem necessidade urgente de seu marco legal, tanto sob o ponto de vista societário e financeiro como fiscal.

No campo da educação, justamente quando estão previstas importantes alterações na carga horária e no conteúdo e metodologias para o ensino médio, a inclusão do empreendedorismo social entre as disciplinas humanas é um imperativo da contemporaneidade, tanto na rede pública como particular,  presencial ou à distância.

Seus transformadores conceitos combinam empreendedorismo, autoconhecimento, humanismo, capacidade crítica, gestão e tecnologia e podem ser um fator importante para evitar que 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos permaneça fora de nosso desestimulante ensino médio. Jovens que têm a capacidade inédita para operar, por meio do mundo virtual, alterações concretas na realidade.

Esses alunos –nativos digitais– poderiam ser apresentados a esses conceitos através de metodologias de aprendizagem ativa, de aprendizagem por projetos, por voluntariado empreendedor, em sistema de ensino à distância baseado em novas ferramentas tecnológicas, utilizando plataformas de gestão –não há como reverter essa tendência.

Jamais na história da humanidade os jovens tiveram tanta capacidade de realização, mas precisam ser apresentados a essa possibilidade, presencial ou digitalmente.

Como bem sintetizado por Bornstein e Davis: “Mudanças históricas produziram urgentes e complexos problemas enquanto simultaneamente aumentaram a capacidade das pessoas ao redor do mundo para resolver esses problemas”.

O empreendedorismo social é um movimento transformador massivo, contemporâneo, amplo, cívico, democrático, transversal, descentralizado, inovador e exponencial. Não temos como ficar fora dele.

Pós-doutor em direito do estado pela Universitat de Barcelona (Espanha) e co-criador e professor do Programa de Pós-Graduação em Empreendedorismo e Negócios Sociais da FAE Business School, é presidente do Instituto Legado de Empreendedorismo Social, em Curitiba

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