Evento debate contribuição do investimento social privado para sociedade

Economistas, executivos e pessoas ligadas ao tema participam do 10º Congresso Gife, em SP

Patricia Pamplona
São Paulo

Com R$ 2,9 bilhões investidos em 2016, o investimento social privado tem um papel importante na sustentabilidade de organizações da sociedade civil. Para discutir gestão, inovação, horizontes e o que pode ser feito, o 10º Congresso Gife reúne economistas, executivos e pessoas ligadas ao tema desde esta quarta-feira (4), em São Paulo.

“O Gife, como participante ativo da história da redemocratização do Brasil, construindo espaços para cidadania a partir da sociedade civil, criou uma rede plural de organizações com múltiplos perfis”, disse a presidente do conselho da instituição, Neca Setúbal, durante a abertura.

Fazem parte do Gife institutos e fundações familiares de peso, como a Fundação Roberto Marinho e a Fundação Arymax. Os representantes desses e outros associados participaram de uma reunião antes da abertura oficial do congresso para discutir propósito e governança.

Um dos pontos da conversa foi a diferença de gestão percebida entre as novas gerações e as anteriores e como elas enxergam o propósito da organização. "É preciso considerar as raízes [da família], mas não ficar agarrado a isso", afirmou Beatriz Johannpeter, presidente do Conselho de Governança do Gife. "Os mais velhos agarrados a esses valores, garantindo que isso seja perpetuado, mas é preciso atender também as necessidades sociais."

"As gerações mais velhas têm de ouvir as novas gerações. O legado é a cultura daquela família, seu capital intelectual e cultural", disse Neca. "É muito complexo chegar a um propósito. O foco da fundação tem que estar conectado com o contexto brasileiro contemporâneo."

Para a gestora executiva da Fundação Arymax, Ruth Goldberg, o que as organizações procuram está na intersecção entre o propósito e a conjuntura. "Como unir o que faz bater mais forte o coração, brilhar o olho ao contexto? É o equilíbrio perfeito, o que a gente mais busca."

Qual Brasil?

Na sequência da abertura oficial do congresso, os participantes acompanharam o debate "Qual Brasil? Olhares para Além do Agora". O momento atual de ebulição –com reflexos da Operação Lava Jato, FlaxFlu ideológico e ano eleitoral– permeou as falas dos participantes.

"Cada época desses últimos 30 anos apresentou desafios centrais para sociedade brasileira", afirmou Eduardo Gianetti, economista, sobre a redemocratização dos anos 1980 e o Plano Real na década de 1990. "Hoje, qual é o grande acontecimento dessa importância? É a Operação Lava Jato. Ela escancarou a deformação patrimonialista do governo brasileiro."

Ele finalizou sua participação falando que 40% da renda nacional transita pelo setor público. "Cadê? [Esse dinheiro]."

Na sequência, Luiza Trajano, fundadora da rede varejista Maganize Luiza, disse que a divisão tem puxado o país para trás. "Só acredito que o Brasil vai dar certo quando a gente parar de dividir direita e esquerda, pobre e rico."

Já Djamila Ribeiro, ativista negra, trouxe o racismo para a pauta. "Pensar a questão do racismo é pensar de fato que esse país foi criado com base na exploração de certos grupos que não foram incluídos na divisão da riqueza", afirmou. "É importante o Brasil conhecer o Brasil."

Parte desse Brasil e também de grupos historicamente excluídos, André Baniwa trouxe a perspectiva indígena, iniciando sua fala com uma saudação na língua de sua tribo. "Todos os dias estamos brigando contra a diminuição dos direitos indígenas. Nesse evento, vi que estão fazendo isso com os direitos de todos os brasileiros."

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