'A política não é o político, somos nós', diz consultora legislativa

Analista da Alesp destaca relevância de jogos do Fast Food da Política para retomada do papel cidadão

Ana Paula Franzoia Cristiano Cipriano Pombo
São Paulo

O primeiro contato da consultora Tânia Mendes com o Fast Food da Política se deu durante um evento na Alesp (Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo). Ali, onde a política é o assunto principal, ela constatou que um jogo lúdico pode ensinar muito mais sobre o assunto do que horas de sessões plenárias.

E Tânia sabe o que está falando. Foi analista legislativa por 30 anos e coordenadora do Portal da Alesp por 12 anos. “Adorei o jogo de cara, as pessoas começam a jogar e de repente estão falando de política sem nem perceber, questionando suas próprias posições“, relata. “Ele desmonta uma armadilha perigosa, que é o comportamento de torcida de futebol.” 

A empreendedora à frente da iniciativa, Júlia de Carvalho, 24, é uma das finalistas do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2018 e concorre também na categoria Escolha do Leitor, que está com votação aberta.

A qualidade do conteúdo também chamou a atenção da consultora. “Fui checar e vi que é muito sério, bem feito”. A admiração acabou se tornando uma parceria, e Tânia contribui hoje com seu conhecimento e experiência para a construção do conteúdo dos jogos.

A consultora legislativa Tânia Mendes
A consultora legislativa Tânia Mendes - Renato Stockler/Folhapress

 

Conheci o Fast Food durante um evento chamado Virada Feminina, em maio de 2017, na Assembleia Legislativa. Nós estávamos preparando uma discussão sobre justiça e cidadania e sentimos a necessidade de ter algo menos acadêmico para aquecer o debate. 

Foi então que me apresentaram um dos jogos, o Molho Especial. Adorei logo de cara, pois vi nele a possibilidade de mudar a forma de discutir política, porque com o jogo não tem briga, as pessoas começam a jogar e de repente estão falando de política sem nem perceber, questionando suas próprias posições.

É inovador. Mesmo quem acha que sabe sempre aprende. O jogo toca nas questões fundamentais e desarma o sectarismo.

Fiquei impressionada durante uma ação que acompanhei na avenida Paulista. Os que já tinham candidato não conseguiam jogar porque não se abriam para outras possibilidades. Demoraram para aceitar o jogo, pois precisavam ver que existiam outros candidatos na brincadeira.

Acho que o jogo desmonta uma armadilha perigosa, que é a de torcida de futebol, de bolha, de eu só converso com quem concorda comigo. Todo mundo pode jogar, crianças, adultos, quem não sabe nada pode jogar, todos irão aprender no meio do caminho. E é aberto, é possível baixar do site.

O trabalho do Fast Food é muito sério, todas as informações que estão ali –e eu fui lá checar porque eu sou chatinha– são vigorosamente pesquisadas. Não são opiniões de terceiros, procura-se pela fonte primária. Existe muito trabalho de captação de informações, além de análise do conteúdo, formatação, checagem.

Esse conhecimento, toda essa retaguarda que eu chamo de carpintaria, é o que falta por aí. O Fast Food reúne esse conteúdo e traduz de forma lúdica para que todos possam interagir e compreender. Se você consegue traduzir, você consegue ensinar. 

Acredito que o que mais precisa ser explicado para as pessoas é o poder da política. A política não é o político, somos nós. O cidadão precisa entender que é o sujeito desse processo, e não o objeto. A relação dele com a política não é a de fé, e eu acho que isso deve ser explicado à população.

E é o que o jogo faz, ele desperta as pessoas, inclusive aquelas que têm fé em determinadas lideranças. Porque o ponto mais importante é a pessoa entender que política é compartilhada, comum a todos, coletiva. Perceber que o cidadão é quem manda.

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