Cadeirante diz que voltou a andar ao realizar entregas sustentáveis

Com cadeira de rodas adaptada, ciclista da Courrieros conseguiu sair do desemprego

Cristiano Cipriano Pombo Patricia Pamplona
São Paulo

Leonardo Lins ficou quatro anos desempregado, após sair do banco Santander em 2014. Além da crise econômica, ele precisava desafiar o preconceito contra pessoas com deficiência na hora de conseguir um trabalho. "Muitas pessoas recusam aceitar cadeirante como empregado."

Leonardo Roberto de Souza Lins, 37, posa em uma cadeira de rodas adaptada como bicicleta
Leonardo Lins é ciclista-entregador da Ecolivery Courrieros, negócio social que realiza delivery com bikes em São Paulo - Renato Stockler

Neste ano, conseguiu garantir uma renda de R$ 1.300 como ciclista-entregador da Ecolivery Courrieros, negócio social que realiza delivery com bikes em São Paulo e é uma das iniciativas finalistas do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2018.

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A cadeira é adaptada pelo Kit Livre, que a transforma em um triciclo. "Todo mundo fica olhando por onde eu passo", conta Lins. "Ficam perguntando: 'Você trabalha assim, fazendo entrega? Legal, parabéns'." Apesar dos percalços de ser ciclista na capital paulista, ele ressalta o lado bom. "Ajuda a não poluir a cidade, é uma entrega sustentável."

 

Trabalhei no banco Santander por quase quatro anos. Aí fiquei sem trabalhar desde 2014. Fiquei sabendo da Courrieros pela internet, que estavam contratando cadeirante e comecei a mandar currículo uma vez por semana até que eles me chamaram para fazer entrevista. 

Para mim era novidade. No começo fiquei meio com medo dessas ruas loucas de São Paulo. No dia a dia vai pegando o ritmo de dirigir [a bicicleta adaptada], aí fica tranquilo, dá para ir de boa para todo lugar.

Muitas pessoas recusam aceitar cadeirante como empregado. Desde 2014, foi meu primeiro emprego. Aí que você não vê mesmo o dia de chegar para receber o salário da sua luta, da sua determinação.

Agora, voltei a andar sozinho, graças à Courrieros. Para mim é bom demais, liberdade total. Vou aonde quero sem pedir ajuda para ninguém. É uma independência que nós cadeirantes precisamos ter, uma sensação boa.

Andar pela rua como ciclista é uma experiência única, eu nunca tive. Estou vendo como é ser ciclista. Tem que arriscar, se não arriscar, não vai. É só tomar cuidado, prestar atenção que a maioria respeita.

Todo mundo fica olhando onde eu passo. É motoqueiro, motorista de ônibus. Passo e ficam perguntando: 'Você trabalha assim, fazendo entrega? Legal, parabéns'.

[O trabalho] Ajuda a não poluir a cidade, é uma entrega sustentável. De tanto trânsito e carro que tem, ajuda a reduzir a poluição do ambiente. Essa ideia foi dez. Eles estão de parabéns e eu agradeço pela oportunidade. De coração mesmo.

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