Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Especialista indica 2 pontos que 3º setor deve estar atento no novo governo

Diretora da Ink Inspira aconselha organizações a se prepararem para mudança de paradigma

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São Paulo

O governo de Jair Bolsonaro (PSL) já afirmou e demonstrou que o contexto em que organizações da sociedade civil atuam irá mudar no Brasil.

Logo após o primeiro turno das eleições em 2018, o então candidato do PSL afirmou que iria colocar um ponto final no ativismo do país. E no fim da primeira quinzena do ano, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, suspendeu por 90 dias os contratos com ONGs.

Ele chegou a recuar, mantendo as parcerias em vigor. O movimento, no entanto, levou Carla Damião, diretora-executiva da Ink Inspira, organização especialista em gestão de projetos e parceira do Prêmio Empreendedor Social, a pensar os dois principais pontos que o terceiro setor deve estar preparado para a gestão Bolsonaro.

“Estamos vendo um movimento que não temos como afirmar que as mudanças vão acontecer nesse sentido, mas olhamos também para as evidências que estão acontecendo.”

avaliação

O primeiro deles é a avaliação de impacto social. “Percebemos que existe uma necessidade de comprovação maior do que anteriormente havia”, explica Damião.

A ferramenta vem como uma demonstração da validade do trabalho das organizações em um momento que pode ocorrer questionamentos e cortes de verba, segundo ela. Atualmente, a avaliação de impacto é vista como um diferencial pelas instituições, que optavam por focar seus recursos no beneficiário e no projeto em si.

“Repensar esse modelo pode ser muito importante para que elas sobrevivam caso tenham necessidade de comprovar o impacto e o resultado”, diz a diretora-executiva da Ink Inspira, que passou a ter uma maior procura pela ferramenta no fim de 2018, após as eleições.

Para se preparar para a avaliação de impacto social, Damião sugere algumas diretrizes. 

1- Diferenciar impacto de resultado

“Dentro das organizações, elas costumam ter as avaliações de resultado anual. Resultado não é impacto”, diferencia.

Ela explica que compreender melhor o que é necessário para medir o impacto já será suficiente para coletar os dados para uma comprovação mais sólida. Os indicadores qualitativos e uma avaliação se a organização está indo bem são os dois indicadores mais comuns nas organizações, de acordo com Carla Damião.

2- Autoconhecimento

A partir dos dados coletados, que Carla Damião recomenda serem relativos, no mínimo, aos últimos três anos, é preciso que a organização os analise e descubra para quais continua fazendo as mesmas perguntas.

3- Comparação

O próximo passo é a organização se comparar a uma outra instituição que tenha o mesmo trabalho, e assim saber que mudanças foram feitas em uma e que não foram feitas na outra. “Uma boa medição de impacto precisa ter um comparativo que chamamos de grupo de controle”, diz a diretora-executiva.

“Realmente perguntar a uma organização como você se destaca e compreender esse destaque porque ele vai ser sua fortaleza.”

4- Solidez

A partir desses levantamentos, a organização poderá iniciar uma média de ter indicadores mais sólidos. “E então montar o primeiro momento da organização, pegar todos esses indicadores que já tem hoje, buscar novos e fechar esse primeiro momento que, a partir de agora, vai ter sempre que fazer a mensuração com esses novos indicadores.”

5- Avaliação externa

Para fechar um bom relatório de avaliação de impacto social, Carla Damião indica que, se não for feito por uma organização externa, ele passe por uma análise de uma pessoa que tenha um nome mais forte e que seja da confiança da organização. Esse tipo de auditoria já é exigido por editais atualmente.

Orientação

Para ajudar as organizações, o Insper, também parceiro do Prêmio Empreendedor Social, disponibiliza online um Guia de Avaliação de Impacto que constantemente passa por atualizações.

sustentabilidade financeira

O segundo ponto de atenção, de acordo com a diretora-executiva, está relacionado à sustentabilidade financeira. “As organizações hoje ainda estão dependentes de editais ou de uma doação específica e não têm uma variedade muito grande de financiadores, doadores ou formas de receber financiamento.”

Como forma de diversificação, Carla Damião indica que as organizações avaliem migrar para o setor 2,5 –aquele que alia o propósito de ter um impacto positivo na sociedade com a obtenção de lucros.

“Seria bem interessante que as instituições ficassem atentas a isso porque, caso necessitem, não serão pegas de surpresa pensando nisso pela primeira vez.”

Outra maneira é ter como meta uma divisão 30-30-30: 30% de financiadores públicos, 30% de doadores empresas e 30% de doadores pessoas físicas. 

Para aquelas que pensam em migrar para o setor 2,5, Carla Damião também dá alguns conselhos.

1- CNPJ

A diretora-executiva explica que o melhor não é transformar o CNPJ da organização sem fins lucrativos para o de uma empresa. O ideal, nesse caso, é abrir um novo registro. “Essa empresa pode doar para a organização e ser um doador eficiente, comprometido.”

2- Visão empresarial

Outro ponto a ser levado em consideração é que, ao criar uma empresa, a organização poderá levar uma visão mais empresarial inclusive a serviços que já realiza, como um brechó ou a venda de bolos.

“Isso pode dar um pico de lucro grande para a empresa porque o foco do marketing vai ser diferente, vai se poder falar sobre dinheiro e sobre os preços daquele produto mais abertamente”, destaca Carla Damião. “Como empresa, ela consegue ter uma forma de falar sobre isso de forma mais estratégica.”

3- Plano de negócios

Como última recomendação, mas que deve ser feito já no início do processo, a diretora-executiva indica o uso de uma ferramenta adotada por todos os empresários: um plano de negócios.

Um modelo é facilmente encontrado em uma busca na internet e ele traz perguntas como qual é o produto, quanto custa, por que custa esse valor para que possa se desenhar uma estratégia para o aumento de lucro.

“Esse aumento de lucro, na verdade, significa uma margem de receita para se doar a mais para a própria organização, que pode ser bem importante para ela conseguir ser sustentável”, conclui Carla Damião.

preparação

A diretora-executiva da Ink Inspira destaca que é preciso começar a pensar e se preparar para uma mudança de paradigma, ainda que nenhuma atitude seja tomada a priori. “Vai ser um movimento que não pode ser feito em formato de pânico. Você não avalia resultado de uma hora para outra sem pensar nisso estrategicamente.”

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