Jovens de periferia de SP concorrem a prêmio da ONU com ação de empoderamento

Com R$ 4 mil para implementação, eles concorrem em etapa mundial para receber US$ 20 mil

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São Paulo

​Por que a violência contra a mulher acontece? Qual seria o lugar da mulher? Por que a vítima continua na relação e, às vezes, se culpa?

A partir desses questionamentos e de um caso de violência contra a mulher próximo a sua realidade, as jovens Karen Samyra, 17, e Kauanne Patrocinio, 16, ao lado de Paulo dos Santos Sousa, 17, criaram um projeto para abordar a questão com jovens de escolas públicas do bairro União de Vila Nova, na periferia de São Paulo.

Karen Samyra, 17, e Paulo Sousa, 17, com jovens durante oficina de projeto sobre empoderamento feminino e violência contra a mulher que concorre em edital internacional do Unicef
Karen Samyra, 17, e Paulo Sousa, 17, com jovens durante oficina de projeto sobre empoderamento feminino e violência contra a mulher que concorre em edital internacional do Unicef - Divulgação

A abordagem é dividida em três momentos: performance teatral no primeiro encontro, seguida de roda de conversa; uma segunda roda só com meninas; e uma terceira reunião com oficinas de autoconhecimento e autoestima que culminam numa carta escrita para mulheres agredidas e num ensaio fotográfico.

"A violência doméstica está muito normal", afirma Karen sobre a escolha do tema. "Vimos que era importante fortalecer essas meninas", complementa a jovem.  "É importante que as meninas entendam quem são para entender a violência doméstica."

O foco em jovens meninas que estão no ensino médio está nesse fortalecimento. Por isso também a segunda etapa é feita numa conversa apenas com Karen e Kauanne. "A temática é muito sensível e não queremos ser invasivos. É para ser natural", explica Karen.

Pelo projeto, os jovens foram selecionados entre 58 equipes do Brasil em um edital do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) para receber R$ 4 mil para implementação, que começou no início de fevereiro.

Após este período, eles concorrem também na etapa mundial, com representantes de 16 países. O vencedor ganhará US$ 20 mil (R$ 74,9 mil) para dar continuidade ao projeto.

Kauanne Patrocinio, que idealizou a Cia Em Quadro com Karen Samyra, 17, e Paulo Sousa, 17
Kauanne Patrocinio, que idealizou a Cia Em Quadro com Karen Samyra, 17, e Paulo Sousa, 17 - Divulgação

Unidos na criação da Cia Em Quadro, a escolha da principal abordagem do tema não poderia ser outra se não o teatro. "É o jeito de falar com o que ficamos incomodados", diz Kauanne.

As duas jovens, além de primas, foram educandas do Centro Social Marista Irmão Justino, no bairro onde moram. Entre as oportunidades oferecidas, descobriram o teatro. Ao saírem de lá, no entanto, não encontraram onde poderiam dar continuidade à expressão de seus pensamentos. Foi quando se juntaram a Paulo para fundar a companhia.

Para os três, o ponto alto das performances, entre elas o projeto que concorre no edital internacional, é a comunicação feita de jovem para jovem. Em especial, por terem também nascido e vivido no território onde vão atuar, conhecendo de perto a realidade.

"Somos três jovens e poderíamos trabalhar em como ser feliz, mas precisamos falar: 'Parem de matar as mulheres'", diz Karen. "Em 20 anos, espero que não precise ter companhias de teatro que venham com um tema desse, mas que tenha outros temas", complementa Paulo.

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