Jovens são centro de todo movimento de sucesso, diz diretor de ONG

Yashveer Singh veio ao Brasil lançar programa para reconhecimento de jovens transformadores

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São Paulo

Como construir uma sociedade mais justa e sustentável? Há muito tempo, pessoas hoje reconhecidas como empreendedores sociais têm trabalhado para isso. E, desde 1981, a Ashoka tem reunido e conectado esses líderes de iniciativas de impacto ao redor do mundo.

Os desafios, no entanto, continuam nos quatro cantos do planeta. "Não é suficiente ter alguns empreendedores sociais no mundo, porque Ashoka apoia 4.000 empreendedores sociais e ainda há muito problemas, todos podemos concordar", disse Yashveer Singh, diretor da área de Jovens Transformadores da ONG na Índia, em entrevista exclusiva à Folha.

E, para avançar, o indiano acredita no poder dos jovens e, por isso, criou o programa Ashoka Young Changemakers. "A visão de apenas apoiar empreendedores sociais passou a ser imaginar um mundo onde cada criança cresça aprendendo essas habilidades transformadoras."

Yashveer Singh, um dos idealizadores do programa Ashoka Young Changemakers
Yashveer Singh, um dos idealizadores do programa da Ashoka Young Changemakers - Patricia Pamplona/Folhapress

Changemaker, literalmente executor da mudança, para a ONG é aplicado a indivíduos que têm ideias transformadoras. E esse é o ponto-chave, segundo Yashveer, para a construção de uma sociedade mais sustentável.

"Esse é o lançamento de um movimento de todos serem indivíduos transformadores. Queremos ideias. Como se constrói um movimento? Trazendo cada vez mais integrantes para o time. É assim que todos os grandes movimentos no mundo começaram, e o centro de todo movimento de sucesso são os jovens."

 

Como você entrou para o empreendedorismo social? Quando era criança na Índia, cresci em uma área rural e vi muita desigualdade em minha volta. As pessoas não tinham acesso a conhecimento, boa educação etc. E isso fazia com que aquelas vivessem o mesmo ciclo de pobreza para o resto de suas vidas.

Tive sorte de ganhar algumas bolsas de estudos, ir a boas escolas e universidades, estudei na Universidade de Oxford, e tudo isso me deu uma visão sobre o que é possível no mundo e o que pode ser feito. Isso me motivou e me inspirou pessoalmente.

Como você avalia o movimento do empreendedorismo social? Olhando para todos os fellows Ashoka, que são quase 4.000 ao redor do mundo, Bill Drayton [fundador da Ashoka] viu que o DNA desses indivíduos está [fundamentado] em algo de sua mentalidade e de suas habilidades. E chamamos isso de mentalidade e habilidades transformadoras. 

Então, a visão de apenas apoiar empreendedores sociais passou a ser imaginar um mundo onde cada criança cresça aprendendo essas habilidades transformadoras. A natureza dos trabalhos está mudando. Antes, as pessoas tinham uma habilidade e sobreviviam para o resto de suas vidas dependendo dessa habilidade. Hoje, está mudando. Em toda a indústria, a cada três, quatro anos, as habilidades demandadas estão mudando.

E para sobreviver nesse contexto são necessárias habilidades que possam ajudar a gerenciar essa mudança rápida. É por isso essa necessidade de ser um transformador. Então, não é suficiente ter alguns empreendedores sociais no mundo, porque Ashoka apoia 4.000 empreendedores sociais e ainda há muito problemas, todos podemos concordar. Mas como endereçar esse problema? Fazendo com que todos sejam um indivíduo transformador.

Para isso, é preciso começar a trabalhar com eles desde crianças. E foi assim que tivemos essa ideia.

Que projeto é esse? A ideia é simples. Por que toda criança brasileira cresce gostando de futebol? Porque eles têm exemplos a seguir. Similarmente, quais são os indivíduos transformadores exemplos para os jovens?

Então, para esses Young Ashoka Changemakers, estamos reconhecendo dez jovens transformadores mais poderosos, sendo trazidos de diferentes partes do país. Eles vão vir aqui [a São Paulo] e conhecer alguns dos mais poderosos fellows Ashoka e empreendedores sociais, alguns dos parceiros mais próximos e, como um grupo, vão pensar e desenvolver um plano e ideias para como criamos um ecossistema no Brasil em que cada jovem cresça para ser um transformador.

Como esse programa vai funcionar e por que focar os jovens? Assim como tem o programa de fellows da Ahsoka para empreendedores sociais, esse é um programa para jovens transformadores. E a razão que focamos jovens é porque, no ciclo humano, o segundo desenvolvimento biológico da nossa mente e de nossas habilidades acontece entre 13 e 19 anos. Se alguém se tornar um transformador nessa idade, a chance de continuar sendo para o resto de suas vidas é muito alta.

Quase 80% dos fellows Ashoka, quando olhamos para o início de suas vidas, descobrimos que, quando adolescentes, eram transformadores, estavam fazendo algo na escola ou em suas comunidades. E agora dizemos: que tal construir um programa que foca esses adolescentes para que influenciem outros jovens?

Porque, se eu ou você formos para as redes sociais e dissermos: 'É bom para os adolescentes se tornarem transformadores', esses adolescentes não vão nos escutar. Não estamos dizendo para esses jovens estarem no Instagram, e eles ainda estão lá porque sabem que seus amigos também estão.

Então, a ideia é, trazendo esses dez jovens, trabalhar com eles para influenciarem outros jovens porque isso não pode ser feito por adultos. Adolescentes querem apreender de seus pares, eles são seus exemplos, suas próprias influências.

Construir uma comunidade desse tipo, e isso não é uma atividade [para ser feita] de uma vez, é só um começo. A ideia é trabalhar por meio deles para construir essa sociedade onde todos pensam que ser um indivíduo transformador é o único jeito de se ter uma sociedade sustentável.

Como se dá a construção dessa sociedade? Uma coisa que estamos vendo é que governos podem controlar empreendedores sociais, podem limitá-los e ir atrás deles. Mas quando toda a pessoa é um indivíduo transformador, como controlar isso?

É importante entender a definição do que é um indivíduo transformador. É preciso ter quatro habilidades: ter empatia; querer resolver problemas; saber trabalhar em equipe; e ser um líder colaborativo. E a única solução de longo prazo e sustentável é preparar toda uma geração que pensa de uma maneira muito empática. Então, amanhã, seus representantes eleitos também serão indivíduos transformadores empáticos.

O que estamos tentando criar é essa demanda. Uma vez que você tiver essa demanda, as instituições vão precisar mudar, os líderes vão precisar mudar. Hoje, um líder diz algo sobre uma comunidade particular e ainda é eleito porque eles sabem que isso vai vender, que as pessoas vão gostar. Imagina um mundo em que todos perguntam qual vai ser a mudança positiva que você vai trazer e todos estão no mesmo nível de habilidades e mentalidade. É um jogo totalmente novo que esses líderes políticos não serão capazes de jogar.

Os jovens são mais esperançosos? Vejo globalmente que a única esperança são os jovens. Eles não hesitam. Em segundo lugar, eles não têm tantos preconceitos. Hoje, você fala para uma pessoa de 30, 40 anos fazer algo de tal jeito, ela vai dizer que não funciona. Com 13, 14 anos, eles ficam empolgados.

E esse não é um programa só para jovens ou empreendedores sociais. Esse é o lançamento de um movimento de todos serem indivíduos transformadores. Queremos ideias. Como se constrói um movimento? Trazendo cada vez mais integrantes para o time. É assim que todos os grandes movimentos no mundo começaram, e o centro de todo movimento de sucesso são os jovens. 

Quais são os desafios esperados para essa iniciativa? Um dos maiores desafios é conseguir espaço na mídia. Às vezes, a mídia está atrás de histórias rápidas, de zero a herói. Esse é um jogo para o longo prazo. Outro, é como comunicamos para as pessoas para que consigamos o máximo possível de interessados. O sucesso disso depende do quão rápido conseguiremos o máximo de pessoas para serem integrantes e contribuam para o movimento.

Queremos que esses jovens realmente influenciem os mais velhos, que cresceram numa mentalidade em que discriminação por idade é um grande problema. Eles pensam que a sabedoria e as melhores ideias só vêm da experiência. Então, como criamos rapidamente um ecossistema em que esses jovens que realmente querem ter ideias brilhantes não são limitados? Esses são os principais desafios, mas acreditamos que podem ser trabalhados. 


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Yashveer Singh

Graduado em economia pelo Instituto de Tecnologia e Ciência Birla (Índia), possui MBA em administração pela Universidade de Oxford (Reino Unido). Há quase quatro anos na Ashoka, é diretor da área de Jovens Transformadores da ONG na Índia e cofundador e diretor global do programa Ashoka Young Changemakers.

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