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'Slow Fashion' busca minimizar impactos da moda no meio ambiente

Em oposição à fast fashion, movimento deseja mudar a produção e o consumo de roupas

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Paloma Varón
Salvador | RFI

Enquanto grandes marcas continuam com sua produção em massa, muitas vezes explorando a mão de obra e poluindo o ambiente, alguns designers, produtores, fabricantes e consumidores pensam a moda de maneira alternativa e ecológica: este é o ponto de partida da Slow Fashion, um movimento mundial para a desaceleração da indústria da moda.

É o caso da jornalista e consultora de moda Ana Fernanda Souza, criadora do coletivo Justa Moda, em Salvador, que prega a justiça social e ambiental em toda a cadeia de produção.

“O próprio nome, Justa Moda, é uma brincadeira com isso. Quando a gente compra uma roupa nova, na promoção, a gente diz 'paguei um preço superjusto’, que significa ‘paguei barato’. E a questão é: justo para quem? Uma calça de R$ 10 é um preço justo? Pode ser para quem compra, mas e para quem faz? Pra quem colheu aquele algodão? Pra quem está no balcão, para aquela vendedora que está ali há 12 horas em pé, vendendo aquela roupa? É muito importante que a gente pense na justiça como um valor para toda a cadeia da moda. Não apenas para quem está na ponta, consumindo. Alguém está pagando este preço que eu não pago”, afirma Ana Fernanda.

A troca, o compartilhamento, o remendo e até a reutilização de tecidos antigos: vale tudo para diminuir o impacto. Para consumir com mais responsabilidade e limitar seu impacto ecológico, alguns tomam a decisão de parar de comprar roupas novas e até mesmo usadas.

Ana Fernanda, criadora do Justa Moda, é negra de pele clara e usa óculos. Está com os braços cruzados dentro de uma loja de roupas de consumo sustentável
Adepta da Slow Fashion, Ana Fernanda Souza é criadora do Justa Moda e representante do movimento Fashion Revolution em Salvador - Marcus Socco/RFI/Divulgação

Revolução da moda

“A gente quer experimentar uma moda que não seja pela compra. E a moda hoje é muito associada à compra, mesmo que seja de segunda mão. Se a compra nos brechós não vier acompanhada da redução na compra de primeira mão, não vai resolver também. Se o brechó é só um espaço para eu desovar as minhas peças, para poder em seguida comprar novas peças, esta conta vai continuar sem fechar”, analisa Ana Fernanda.

A jornalista é também representante do movimento Fashion Revolution em Salvador, uma organização internacional que tem como manifesto: “Nós amamos a moda. Mas a gente não quer que nossas roupas explorem pessoas ou destruam nosso planeta. Nós demandamos uma mudança radical e revolucionária”.

Em Paris, a marca Les Récupérables valoriza o reaproveitamento de tecidos que serão descartados. A fundadora Anaïs Dautais Warmel imaginou este conceito no final de 2015 para criar uma economia circular com materiais existentes e uma confecção 100% francesa. A reutilização de materiais considerados como resíduos (como cortinas ou tecidos inutilizados) é primordial, de acordo com a empreendedora.

“Isso elimina um impacto porque, caso contrário, esses materiais são muito pouco explorados ou enviados para exportação. Então a ideia é mantê-lo no território francês e revalorizá-lo diretamente. E o impacto é absolutamente neutro, porque tudo já é produzido. A ideia é conter a hemorragia da superprodução", diz Anaïs.

Mudança de concepção

Segundo a Agência Francesa para o Meio Ambiente e a Gestão de Energia (Ademe, em francês), mais de 100 bilhões de roupas são vendidas no mundo. A produção duplicou entre 2000 e 2014. A indústria da moda emite 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa a cada ano. Para fazer uma camiseta, são necessárias o equivalente a 70 duchas de água.

A marca Les Récuperables busca mudar a concepção, a produção e também o consumo da moda. "É um método que é necessário porque há excedente de produção. E porque também é inerente à produção ter mais material que o que vai ser utilizado. Por outro lado, continua a ser uma solução de emergência. A solução é realmente o ecodesign, com um material inovador, o menos prejudicial para o meio ambiente possível, com uma duração máxima do produto. E o sonho seria poder plantar sua roupa no fundo do jardim e que ela sirva para alimentar a sua horta", defenda Anaïs.

Se a indústria têxtil, muitas vezes apresentada como a segunda mais poluidora do mundo, continuar sua ascensão, em 2050, ela representará 26% das emissões de gases de efeito estufa, de acordo com um relatório da Ellen McArthur Foundation publicado em 2017. Em oposição à fast fashion —que engloba a manufatura, a distribuição e principalmente o consumo em massa—, a Slow Fashion seduz cada vez mais.

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