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Hugo Bethlem

Um novo capitalismo é possível

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Recentemente nos Estados Unidos, mais de 180 CEOs de grandes companhias americanas como Amazon, JP Morgan, Apple, Pepsi, Walmart, entre outras, assinaram um manifesto para declarar que os lucros das corporações devem vir junto com ações de sustentabilidade, impactos positivos nas comunidades e no meio ambiente onde estão inseridas, gerando bem-estar social para todas as partes envolvidas com as marcas e empresas.

Ou seja, um claro rompimento com as afirmações reinantes durante décadas, por Milton Friedman, onde o único compromisso da empresa e seus líderes era maximizar o retorno ao acionista. Enquanto isso, aqui no Brasil, o Instituto Capitalismo Consciente Brasil chegava a 88 associados —crescimento de 80% nos últimos seis meses—, com a meta de chegar a cem associados, entre empresas e pessoas físicas, até o final do ano.

Esse movimento crescente das corporações por procurar novas práticas reforça a crença de que apenas os negócios vão solucionar os problemas da humanidade.

O que já é uma verdade comprovada há mais de 200 anos. O capitalismo gerou inúmeros benéficos neste período —reduziu a pobreza extrema de 90% da população mundial em 1800 para menos de 10% hoje em dia, reduziu nesta mesma proporção o analfabetismo, aumentou a renda per capita em mais de 13 vezes, promoveu a revolução tecnológica e gerou prosperidade em todo planeta, entre outros benefícios.

Hugo Bethlem é diretor-geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil
Hugo Bethlem é diretor-geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil - Divulgação

Por outro lado, nas últimas décadas, trouxe algumas mazelas como a desigualdade de renda —1% da população detém 82% da riqueza mundial—, e uma concorrência desenfreada aliada com a busca por acumulação sem fim, o que tem criado inúmeros problemas para as pessoas que trabalham e para o nosso planeta. Portanto, mais do que nunca, é preciso um novo capitalismo que ajuste essas distorções.

E a jornada para essa nova prática está, entre outros movimentos, no capitalismo consciente, sob os quatro pilares básicos, que se adotados por parte das empresas poderá mudar a visão do capitalismo pela população e gerar resultados ainda mais impressionantes e benéficos para a humanidade.

São eles: ter um propósito maior, que responda à pergunta "por que essa empresa existe?", uma liderança consciente que abrace o propósito cuidando e amando as pessoas com quem trabalha e a quem serve, uma interdependência dos stakeholders, sabendo que todos são importantes e não apenas o acionista e ter valores e cultura que permitam ser exemplos para as futuras gerações e perpetuem os princípios do fundador.

Nascido nos Estados Unidos em 2008 pelas mãos dos empresários John Mackey, cofundador e CEO do Whole Foods Market, e Raj Sisodia, professor emérito em Babson College, o movimento Capitalismo Consciente sintetiza uma forma de pensar os negócios sob uma perspectiva mais ampla, ao considerar o impacto econômico, social e ambiental que as empresas geram nas comunidades ao seu redor. No Brasil, o ideal do Capitalismo Consciente chegou em 2013, com a criação do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB).

Internalizar os pilares do Capitalismo Consciente para transformá-los em ações práticas, consistentes, combinadas e permanentes que possam impactar positivamente todo o ecossistema que está na órbita da empresa é o meio para uma maior e melhor justiça social.

Um negócio é bom porque cria valor, é ético porque é baseado na troca voluntária, é nobre porque pode elevar a nossa existência e é heroico porque tira as pessoas da pobreza e gera prosperidade. Mas esses princípios só são válidos se os pilares do capitalismo consciente forem praticados no dia a dia da empresa.

Para isso, pressupomos um ambiente competitivo de livre mercado. Capitalismo Consciente não abre mão do resultado, meritocracia, entrega e empenho, mas faz isso olhando o médio e longo prazos e de uma forma humanizada. Por isso, é preciso que a empresa seja rentável, tenha lucro. Partindo desse pensamento fica a pergunta: fazer tudo isso dá maior retorno ao acionista? A resposta curta e rápida é sim.

Em 2007 e depois em 2011 foi feito e refeito um estudo nos Estados Unidos da América com empresas que acreditam e praticam esses pilares e comparado com empresas pares, comprovou que as empresas conscientes geraram retorno aos seus acionistas de 1.681% em 20 anos, contra um retorno no mesmo período de apenas 118% das empresas que estão com o mindset no capitalismo tradicional de busca apenas pelo lucro, a qualquer custo e no curto prazo. As empresas conscientes também se mostraram muito mais resilientes em épocas de crise. Esse estudo foi publicado no livro “The Firms of Endearment 2.0” (traduzido no Brasil como “Empresas Humanizadas”).

Legal. Mas esses resultados são dos “gringos” num mercado berço do capitalismo onde o Livre Mercado é precondição. E no Brasil funciona? Um país fechado para a economia mundial? Onde fazer negócios é muitíssimo difícil com tanta ingerência estatal? Mas a nossa conclusão foi que sim. 

Lançamos esse desafio de comprovação para o Prof. Pedro Paro, doutorando de Engenharia de Produção da USP de São Carlos, como seu trabalho de doutoramento e, sim, os resultados foram incríveis e serão publicados em livro até o final do ano.

Posso adiantar que as empresas consciente brasileiras, ou melhor as Empresas Humanizadas do Brasil, em períodos longos, de 4 a 16 anos de análise, chegam a gerar um retorno aos seus acionistas 2 ou mais vezes superior à média das 500 maiores empresas do país. As Empresas Humanizadas do Brasil também alcançam junto aos clientes uma satisfação 240% superior, e os índices de engajamento e bem-estar dos colaboradores chega a ser 225% maior, quando comparadas com empresas comuns.

Por isso, praticar o Capitalismo Consciente gera mais felicidade e engajamento dos colaboradores, mais fidelidade dos consumidores e fornecedores, mais orgulho da comunidade, mais retorno aos acionistas, promove a distribuição de renda e a justiça social, e, principalmente, faz bem para o Planeta.

Então, por que poucas empresas estão nessa jornada? Pela pressão e pela tirania do curto prazo, pela pressão dos investidores especulativos, pelas conclusões superficiais e tendenciosas de alguns analistas financeiros, pelos incentivos de bônus aos executivos desalinhados com objetivos humanos e sustentáveis de médio e longo prazo, pelo ego de seus líderes, enfim, por acreditarem que comando e controle são mais importantes que cuidar e amar

E é exatamente por conta desse cenário que o Instituto Capitalismo Consciente Brasil existe e segue sua jornada pelo Brasil: ajudar a transformar o país por meio da inspiração de negócios conscientes, sustentáveis e inovadores, buscando fazer e ser diferente; ajudar a ligar os pontos entre o propósito, que responde por que sua empresa existe, alinhado com a sua visão estratégica, que responde como a empresa ganha dinheiro; gerando seu impacto social, que responde qual a diferença essa empresa faz no mundo.

Enfim, não é fácil, e nada muda se você não mudar, mas dá para mudar isso.

Hugo Bethlem

Presidente do conselho do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB)

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