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Paulistano cria sensor e alerta para evitar desastres na chuva

Estação pluviométrica eficiente e barata ganha periferias e chancela da ONU

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São Paulo

Filho da terra da garoa, Diogo Tolezano transitou por todas as regiões de São Paulo em seus 35 anos. Nasceu na zona leste, cresceu na norte, passou a adolescência na sul e mora na zona oeste.

É uma relação de amor e ódio, especialmente quando se fala de chuva e desigualdade social. Formado na Escola de Engenharia Mauá e com especialização em administração no Insper, Diogo tentou seguir os caminhos do pai, executivo de multinacional. 

Arriscou-se numa consultoria. “Quando comecei no mundo corporativo, caiu a ficha: para que estou usando isso? É para dar mais dinheiro para quem já tem muito, aumentar esse buraco social.”

Nascido no boom dos jogos na década de 1980, o gamer inveterado foi estudar o terreno para gerar mais impacto.

Colecionou parceiros na jornada, seguindo a lógica do videogame —no modo “multiplayer”, com vários jogadores, e não “singleplayer”, sozinho. “Envolvendo mais pessoas, com diversidade, consegue-se conquistas maiores.”

Assim chegou em 2011 à Artemisia, que apoia soluções inovadoras. Participou da Usina de Ideias. Testou-se em negócio de educação, onde ele e sócios abusaram dos erros. “Dava para montar aquelas listas do que não fazer.” 

Os jogos o ensinaram que derrota é chance para tentar de novo. Mais experiente, voltou a apostar em um negócio de nome pomposo: Jogos Educacionais para Transformação Social. Era algo promissor, diz ele, mas tampouco avançou.

Maure Pessanha, diretora-executiva da Artemisia, diz que Diogo “está sempre buscando aliar propósito com impacto e olhar para as pessoas.”

Tolezano acreditava que ia passar de fase. Tornou-se sócio em um delivery de orgânicos. De novo bateu na trave. Em 2015, reconectou-se com um amigo da época da consultoria, Pedro Godoy, engenheiro civil, que também buscava uma guinada com propósito. Ambos se matricularam em um curso de futurismo.

Em meio às revoluções em genética, robótica, inteligência artificial, Tolezano encontrou inspiração em uma história contada por um professor da Universidade Singularity. 

Trata-se da película colocada nos vidros de carros para mapear radiação após o vazamento da usina de Fukushima, no Japão. A tecnologia open source (livre distribuição e replicação) desmentiu o governo, que minimizava o perigo. O risco de radiação no país foi revisto.

Ideias fervilharam nas cabeças dos futuros sócios. Em um happy hour tiveram o insight. Imaginaram a quantidade de dados ocultos no Brasil.

Decidiram estudar a questão da água que vinha dos céus, enquanto São Paulo estava em estado de emergência em meio à crise hídrica.

A dualidade ditou a próxima jogada de Tolezano. A seca paulistana fez os amigos mergulharem no tema, mas foi a enchente anual que deu o pontapé para criar a Pluvi.On.

“Essa relação de amor e ódio com São Paulo tem muito a ver com a Pluvi.On”, diz Tolezano, sobre a gênese da iniciativa. A cidade das oportunidades é também onde famílias perdem tudo em enchentes.

A capital paulista registrou uma morte a cada três dias por causa das chuvas do verão. Moradores da Vila Itaim, ao lado ao Jardim Pantanal, na zona leste, conviveram com o bairro submerso por 65 dias.

”Chuva aqui é como se alguém gritasse ‘Incêndio! Fogo!’. É como se a gente fosse bicho, subindo tudo o que é possível salvar”, conta a assistente social Sônia Ferreira, 65. “Microondas, você luta e compra outro. Mas e as recordações? Não tenho foto do meu marido, falecido, para mostrar para meu neto.”

Saber com antecedência de uma chuva é ter o direito de se preparar. O Jardim Pantanal é um dos primeiros da região a contar com medição da Pluvi.On. “Nossa premissa é que todo ano ocorre enchente e deslizamento”, diz o empreendedor social. “E, se tem padrão, consegue-se antecipar via tecnologia e salvar vidas.”

Assim Tolezano pôs na cabeça que precisaria inovar para superar o desafio, já que a importação da estação pluviométrica sai por R$ 25 mil, onerando investimentos no setor.

A Pluvi.On criou sua própria estação pluviométrica, que mede velocidade e direção do vento, volume de chuva, umidade do ar e temperatura. Dados que vão beneficiar moradores de regiões vulneráveis e também agricultores. Hoje a startup conta com 160 estações em sete estados.

A meta é chegar a mil neste ano e, em três anos, se tornar a maior rede do país, com mais de 5.000 instalações. A primeira versão da estação foi aprimorada com o dedo da namorada de Tolezano, a designer Mari Marcílio. Desde então, foram sete versões até a atual, que custa R$ 4.550, 18% do valor da importada.

Quanto mais estações, melhor a qualidade dos dados e mais beneficiados. O estudante Chevran Pedral, 15, construiu o sistema em sala de aula para monitorar Madureira, na capital fluminense, palco de mortes devido a dilúvios.

A solução da Pluvi.On contribuiu para Campinas ser primeira colocada no Ranking Connected Smart Cities. Já a estação do negócio social foi incluída na plataforma United Smart Cities da ONU, que lista soluções inovadoras para as cidades do século 21.

É a primeira startup do mundo no rol, motivação para os sócios. Hugo Santos, por exemplo, passou a infância com medo de alagamentos na casa da tia onde morava em Diadema. “Já vivi na pele o que era um dia ter tudo e no outro não ter nem roupa.” 

Além de conectada com suas histórias, a  Pluvi.On se orgulha de “andar com a cabeça nas nuvens” e dados à mão para que chuvas tragam boas-novas, e não tragédias.

Pluvi.On

Fundação

2016

Formato

Negócio de impacto social

Área de atuação

Monitoramento climático

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