Descrição de chapéu Dias Melhores

Chefs promovem ações solidárias para combater a crise nas cinco regiões do Brasil

Pessoas em situação vulnerável e funcionários da linha de frente de hospitais públicos recebem doação de marmitas, que também movimentam a agricultura familiar

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São Paulo

O chef pernambucano André Saburó, um dos maiores especialistas em atum do Brasil, organizou uma força-tarefa para ajudar na batalha contra a Covid-19. Na cozinha de seu Quina do Futuro, prepara refeições para doar às equipes de linha de frente nos hospitais públicos do Recife.

Ele se inspirou em uma tradição japonesa, cultura da qual descende, para preparar as marmitas típicas do país oriental. "Os bentôs são tradicionalmente coloridos e bonitos, são como presentes. Levamos ao hospital no almoço para presentear os profissionais de saúde, para revigorar o espírito desses médicos e sua vontade de querer fazer o bem", diz Saburó.

O movimento, que começou com cerca de 60 marmitas por semana, envolve hoje outros restaurantes, empresas de food service e doações (em dinheiro e insumos) e gera 1.400 porções por semana, entregues a quatro hospitais --há outros cinco em uma fila de espera.

Saburó mantém a operação com investimento próprio até o fim de abril, quando prevê esgotar o estoque do restaurante que complementa com compras de produtos frescos de hortifruti.

Cada marmita individual japonesa exibe pelo menos cinco cores e inclui alimentos balanceados. São preparos como o atum à milanesa, cogumelos salteados em adocicado molho teriyaki, ovos cozidos marinados em shoyu temperado.

Para a chef Izadora Ribeiro, do Isla Café, em Pinheiros (SP), também é importante preparar receitas que "as pessoas possam lembrar". Ela lançou o projeto Cozinha de Combate, que ajuda comunidades carentes e, ao mesmo tempo, mantém o restaurante ativo, ainda que sem lucro.

Chefe com avental branco segurando marmita
A chef Izadora Ribeiro, do Isla Café, lançou o projeto Cozinha de Combate - Divulgação

Por meio de doações via site de financiamento coletivo, com todas as contas transparentes, ela arrecada dinheiro para fazer cerca de 150 marmitas por dia e distribuí-las a associações como a de mulheres de Paraisópolis, responsável pela alimentação de mais de 5.000 famílias.

"Falo todos os dias para a equipe: façam receitas que sejam incríveis de comer e coloquem beleza, cor, textura", diz a chef, cuja cozinha sempre esteve fincada em produtos sazonais e orgânicos.

O resultado são arrozes enriquecidos com tomate ou cúrcuma, saladas, raízes e preparos atraentes aos brasileiros, como carne de panela, farofa de banana, vinagrete e "um belo arroz e feijão".

"Os cozinheiros estão desenvolvendo novas habilidades, como fazer quantidades enormes de arroz e feijão, que talvez eles não tivessem chance de aprender em outro contexto."

Para a segunda etapa do projeto, com início na próxima sexta (dia 1º), três novos parceiros, o Mica, o Corrutela e o Cais, juntam-se ao Isla na produção que deve alcançar a meta de 9.000 marmitas em maio, a serem escoadas de um centro de distribuição na Barra Funda, sobretudo para o próprio bairro.

Parte dos insumos serão comprados do Instituto Ibiá, que apoia pequenos agricultores e faz a gestão do projeto Circuitos Agroecológicos, que reúne parceiros em estados sulistas, na Bahia, em Minas Gerais e no interior de São Paulo, e tem como meta formar e fidelizar um mercado e proporcionar autonomia de comercialização ao agricultor.

Com a pandemia, a venda para restaurantes e feiras minguou. "A situação no campo é muito séria. Primeiro porque os agricultores dependem da renda [arrecadada com a venda de suas produções]. Segundo porque tem havido desperdício em larga escala, os perecíveis estragam sem que sejam escoados", diz Gabriela Mattos, fundadora do Ibiá.

Para minimizar esses dois problemas centrais, ela acaba de lançar o Rangô, que pretende promover a união do campo e da cidade. "Com o dinheiro arrecadado o Ibiá compra alimentos da agricultura familiar, entrega para restaurantes parceiros, como Mocotó e Boto, que produzem marmitas orgânicas e entregam para a população em vulnerabilidade", conta.

Em Brasília, o chef e empresário Gil Guimarães, dono de casas badaladas como a Baco Pizzaria, a Casa Baco e a Parrilla Burger, também mira suas ações nos agricultores familiares.

Por meio da venda de vouchers de R$ 125, o cliente pode consumir o valor de R$ 150 em um dos restaurantes quando reabertos e R$ 25 será doado ao Instituto Proeza, que assiste mulheres e crianças em vulnerabilidade, e ao Movimento Cerrado no Prato, que apoia extrativistas e agricultores familiares e valoriza a biodiversidade do cerrado na gastronomia.

Casal de idosos sentado em um banco de madeira
Dona Ana e Seu Zilas no Parque Olhos D’Água em Brasilia-DF no dia de lançamento do projeto Cerrado no Prato - Divulgação

Este, aliás, firmou outra parceria com um padeiro francês, no Distrito Federal. Guillaume Petitgas, da La Boulangerie, lançou e colocou à venda por delivery três receitas que levam ingredientes do cerrado. Compra os insumos, movimento o mercado, e ainda doa parte da renda gerada com a tartelete de cajuzinho, o pão com linguiça de porco e pimenta-de-macaco e o cookie de baru, uma amêndoa brasileira.

Pãos francês recheado com linguiça
Pão de pimenta-de-macaco, do chef Guillaume Petitgas, da La Boulangerie - Divulgação

Também carrega DNA brasileiro a campanha Quentinhas do Amor, encabeçada pela chef consultora Marina Araújo, em Fortaleza. São preparos como um feijão de caldo grosso, bem temperado com louro, alho, cebola; farofa de mandioca com ovos caipiras; uma feijoada, um picadinho, um frango ensopado. "Fazemos uma quentinha saborosa, com comida de mãe, para acolher essas pessoas. É essa afetividade que me move", diz ela.

Em parceria com a Auê Feira Criativa, realizada em praças da cidade para movimentar a economia criativa, a ação que começou com 180 porções feitas em um restaurante hoje alcançou mil, e passaram a ser produzidas na cozinha da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco.

"Eu, como cozinheira, não consigo me ver em outro lugar nesse momento. Meu papel é trabalhar numa frente ativa para reduzir os danos da pandemia na sociedade", diz chef.

Também praticam o mínimo de desperdício no processo, que começa às 9h e é finalizado às 17h, quando as quentinhas são entregues a uma equipe de logística, que faz a distribuição. "Todo resíduo orgânico vira um sopão, e o que é reciclável a gente destina às cooperativas."

Em Manaus, capital do Amazonas na qual o sistema de saúde está quase colapsado, a chef Debora Shornik, do restaurante Caxiri, lidera uma força-tarefa que envolve ainda a Expedição Katerre e o hotel de luxo Mirante do Gavião, dos quais faz parte.

É em seu restaurante manauara, no casarão histórico com vista para o teatro Amazonas, que recebe e organiza doações, somadas às contribuições de seu próprio estoque.

A chef se responsabilizou por mapear necessidades básicas de comunidades indígenas e montar combos apropriados para o cenário. "Queremos fazer cestas equilibradas, com perecíveis, para também beneficiar o agricultor."

Entre os destinatários, estão as integrantes da associação de mulheres do povo Sataré Mawe, cuja renda vinda da comercialização de seus artesanatos indígenas, em lojas e na rua, ficou paralisada com a crise desencadeada pela Covid-19. Para tentar se recolocar no mercado e não depender somente das doações, elas passaram a costurar máscaras de pano --mas faltam compradores.

No Paraná, um grupo de mulheres liderado por Manu Buffara, uma das chefs brasileiras com maior alcance internacional, distribui cerca de 500 refeições por semana nos restaurantes populares de Curitiba, com apoio da prefeitura.

O projeto Mulheres do Bem começou antes da pandemia nos restaurantes de cada cozinheira, como Rosane Radecki, do interior do estado, e Gabriela Carvalho, que há 12 anos está à frente do restaurante Quintana, na capital.

Com o isolamento social, elas transferiram a produção para as próprias casas. Manu, assim, ganhou duas assistentes mirins: suas filhas de 3 e 5 anos, que decoram as embalagens de comida.

O projeto recebe doações via instagram e de grandes empresas para insumos como arroz, macarrão e açúcar. Itens de hortifruti são comprados dos pequenos produtores da região.

A partir disso, saem marmitas com receitas como o risoto de linguiça Blumenau e vinagrete de feijão, a moqueca de banana e a farofa de cebola, além de saladas, legumes, cookies, pães e bolos assinados pelas principais chefs de Curitiba, com acento brasileiro.

COMO AJUDAR NAS CINCO REGIÕES DO BRASIL

LINHA DE FRENTE PERNAMBUCO
Instagram @linhadefrentepe

COZINHA DE COMBATE
www.abacashi.com.br

RANGÔ
benfeitoria.com/rangosp

É POSSÍVEL DAR AS MÃOS
cupomart.com.br/product/baco-pizzaria-copia/

QUENTINHAS DO AMOR

Doações em dinheiro:

Banco 260 Nu Pagamentos S.A.
Ag. 0001
CC.: 22298377-9

Marina Marques Ferreira
CPF.: 658.842.303-97

*Também aceitam doações de insumos e equipamentos de segurança

MULHERES DO BEM
Instagram @mulheres.do.bem

MANAUS

Restaurante Caxiri

Banco Itaú
Agência 8128
Conta corrente: 44696-3
Cnpj 24.514.378/0001-71

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