A equipe que sequenciou o genoma do novo coronavírus no Brasil foi coordenada por uma mulher negra, a cientista Jaqueline Goes de Jesus —pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP.
Dois dos maiores líderes no combate à pandemia nas periferias brasileiras, Preto Zezé (Central Única das Favelas) e Gilson Rodrigues (União dos Moradores de Paraisópolis e G10 das Favelas), também são negros. Além disso, geram impacto principalmente às vidas pretas, maioria nas favelas brasileiras.
A falta de políticas públicas que assegurem a igualdade de oportunidades aos negros vem desde a abolição da escravatura, que completa 132 anos nesta quarta (13) —pretos e pardos ainda são 75% entre os mais pobres do Brasil.
Índice este que já existia antes da pandemia da Covid-19, que arrasta o país à possível maior crise econômica de sua história e, consequentemente, ao aumento da desigualdade social.
"A abolição, da maneira como foi realizada, falhou e deixa um legado até hoje. Infelizmente errou ao não criar políticas públicas ou de inclusão social para quem estava sendo libertado” explica Liliane Rocha, CEO e fundadora da Gestão Kairós - Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade.
“Ou seja, daquela população foi tirado o acesso ao emprego, educação, moradia e saúde, que são condições básicas para sua sobrevivência, lacunas que permanecem até os dias atuais", completa a empreendedora social.
Em apoio aos empreendedores pretos, maioria no país, surgiram iniciativas como a coalizão Éditodos, que reúne expoentes do empreendedorismo negro no Brasil.
Para diminuir os impactos da pandemia nessa população, que tem maior taxa de mortalidade por Covid-19, a coalizão criou o Fundo Emergências Econômicas, que oferece apoio financeiro aos pequenos empreendedores.
São autônomos que em maioria não têm CNPJ, e lideram negócios muitas vezes com um só funcionário —eles mesmos. Com a política de isolamento social, que permite o funcionamento apenas dos serviços considerados essenciais,
A meta é angariar R$ 1 milhão via parcerias com empresas privadas, para assim poder apoiar com R$ 2.000 mensais os afroempreendedores mais vulneráveis ligados ao Vale do Dendê, em Salvador; à Agência Solano Trindade, Afrobusiness e Feira Preta, em São Paulo; à FA.VELA , em Belo Horizonte; e ao Instituto Afrolatinas, no Distrito Federal.
Até agora o Fundo arrecadou 80% do objetivo, e 60 empreendedores já foram beneficiados. As empresas que financiam a iniciativa são Itaú Unibanco, Itaú Social, Assai Atacadista, ICE, Arymax, Instituto C&A e Semente Ore.
Outra iniciativa é a Impactando Vidas Pretas, campanha do Movimento Black Money de caráter emergencial para atender, preferencialmente, famílias negras lideradas por mães solteiras e afroempreendedores durante a crise.
Interessados em receber o auxílio emergencial do Black Money podem se inscrever por meio de formulário na plataforma da campanha.
A cada R$ 1 doado à campanha por meio do Matchfunding Enfrente, a Fundação Tide Setubal doa mais R$ 2 à causa. Nesta terça-feira (12), o Movimento Black Money anunciou em seu Instagram o fim desta primeira fase da campanha, que ultrapassou a meta de arrecadação de R$ 60 mil. Mais informações sobre os próximos passos da ação serão divulgadas em breve pela organização.
A especialista e empreendedora negra Liliane Rocha defende que é impossível criar um país economicamente próspero e sustentável deixando mais da metade da população brasileira para trás, como acontece desde a abolição da escravatura e vem sendo reforçado durante a pandemia.
“Para ser um país competitivo, capaz inclusive de enfrentar uma pandemia, é essencial dar oportunidades iguais de trabalho a todos. Enquanto a população negra estiver sendo excluída ou tendo suas oportunidades reduzidas, o Brasil não alcançará o desenvolvimento”, completa.
São diversas as iniciativas e mobilizações de combate à pandemia, muitas voltadas ao abastecimento de pequenos empreendedores e periferias. Saiba como ajudar.
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