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150 pessoas trabalharam sem trégua para entregar anexo de hospital em SP

Obra hospitalar mais rápida da história do Brasil foi concluída em 36 dias, seis a menos que o previsto inicialmente

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São Paulo

Da mesma forma que operários, engenheiros e arquitetos chineses surpreenderam o mundo ao erguer em dez dias um hospital temporário de mil leitos em Wuhan, uma equipe brasileira se lançou ao desafio de construir uma unidade médica permanente em 36 dias na zona sul de São Paulo.

A obra hospitalar mais rápida da história do Brasil é resultado do engajamento de 150 pedreiros, eletricistas, engenheiros e gestores de um consórcio de empresas que se uniram à prefeitura para entregar na segunda-feira (27) um anexo de 1.388 m² ao Hospital Municipal M’Boi Mirim.

Com cem leitos, a estrutura é voltada ao atendimento de pacientes com sintomas leves da Covid-19.

A gestão do projeto e os R$ 10 milhões necessários ficaram em maior parte por conta da Ambev, que designou a engenheira Juliana Fernandes Alves, 42, para assumir a liderança da missão.

Como gerente corporativa de projetos da cervejaria, ela contou com um engajamento inédito dentro da empresa. “A gente não precisava pedir para as pessoas virem trabalhar na ação, eram elas que nos pediam para ir.”

Além de se voluntariarem para fazer parte do processo de expandir o número de leitos voltados à emergência sanitária, a engenheira se viu diante de uma disposição notável de todos para cumprir a meta.

“A qualquer momento do dia, se eu ligasse para alguém da Ambev ou das empresas parceiras para falar sobre o hospital, a pessoa parava na hora o que estava fazendo para tocar aquilo”, ela diz, referindo-se também aos funcionários da Brasil ao Cubo, Gerdau e Hospital Israelita Albert Einstein.

Até os fins de semana se tornaram indispensáveis. Juliana e os outros líderes do projeto se reuniam por videoconferência todos os dias, inclusive sábados e domingos.

Decisões importantes, que em outros tempos levariam de dias a semanas para serem avaliadas e aprovadas por todos os envolvidos, eram tomadas em algumas horas via Zoom, aplicativo de ligações em vídeo.

Mesmo com a pressa para entregar o complexo a tempo, as medidas de prevenção ao coronavírus não podiam ser deixadas de lado. A engenheira conta que desde o primeiro dia todos os envolvidos na obra tinham de usar máscaras e lavar as mãos com frequência, além de usar álcool em gel.

"Também fizemos medição de temperatura antes dos turnos, monitoramento das condições de saúde de cada um, limpeza e desinfecção frequente de ambiente e veículos", relata a gerente corporativa.

Para não serem expostos aos riscos de contágio no transporte entre casa e trabalho, os profissionais ficaram hospedados em hotéis da região do M’Boi Mirim.

Além da determinação e disponibilidade da equipe, outro fator preponderante para a velocidade se deve à Brasil ao Cubo, construtech parceira do projeto que usa a técnica da construção modular.

Era uma espécie de Lego gigante, feito em uma operação logística envolvendo três estados brasileiros. Os módulos foram desenhados pelo time de engenharia e manufaturados em Tubarão (SC). De lá, foram enviados para um parceiro em Curitiba, que concluiu a pré-montagem. E, então, chegaram para a montagem em São Paulo.

O aço, matéria prima para o método construtivo adotado, foi doado pela Gerdau. E o Hospital Israelita Albert Einstein se responsabilizou pela gestão do atendimento aos pacientes dos novos leitos.

Um espírito colaborativo traduzido nos discursos e salva de palmas ao encerrar do projeto, em homenagem a todos os membros da equipe operacional, que se arriscaram e colocaram a mão na massa pela causa. “Não conseguiríamos fazer nada sem eles”, afirma a engenheira e líder do projeto.

O prazo foi sempre o maior desafio, diante do crescimento diário do número de infectados e mortos pelo novo coronavírus.

Segundo Fernanda Fróes, gerente de projetos do centro de engenharia da Ambev que também participou da ação, era visível o aumento no movimento do hospital conforme crescia o número de casos confirmados da Covid-19 no Brasil.

"No começo [da obra], o hospital ainda não estava tão cheio, mas nos últimos dez dias todo mundo viu o movimento aumentar, e isso nos pressionou", conta.

Juliana completa a colega e afirma que a equipe queria ter os cem leitos prontos no momento em que a região precisasse, o que explica a mudança de datas e a entrega com antecedência.

"Inicialmente, a data prevista para inauguração era 3 de maio, mas decidimos nos desafiar a terminar até dia 30 de abril. No final, inauguramos os leitos em 27 de abril", relata a engenheira.

Seis dias que fazem diferença em tempos de pandemia. A todos os profissionais envolvidos no projeto ficou também o agradecimento pintado na fachada do anexo do hospital recém-inagurado: o grafite "Amor Puro", do artista Mena.

Fachada do anexo construído no Hospital Municipal M’Boi Mirim
Grafite "Amor Puro", do artista Mena, na fachada do anexo construído no Hospital Municipal M'Boi Mirim. A arte é em homenagem aos profissionais da saúde à frente do combate à pandemia - Marcelo Pereira/Secom

Para Juliana, todos os profissionais envolvidos no projeto queriam estar ali e, ao final, receberam mais do que doaram. “Somos [equipe da Ambev] uma empresa brasileira e, por isso, temos o compromisso de fazer o que estiver em nosso alcance para contribuir com o país”, defende.

Ao final do projeto, Fernanda percebeu que o principal motor da obra e a razão de seu sucesso era a motivação individual dos que fizeram parte.

"Estar lá fazia a gente entender o quão importante era esse projeto", diz. "Eu sempre vou encher o peito de orgulho para falar que fiz parte dessa obra, de dizer que eu estava lá."

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