Descrição de chapéu Coronavírus

Doações em resposta à Covid-19 chegam a R$ 5 bilhões em dois meses

Bancos e empresas de alimentos e bebidas respondem por metade do volume doado e contribuem para melhor gestão dos recursos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A resposta à Covid-19 por meio de doações de empresas e pessoas físicas ultrapassou R$ 5 bilhões, nesta terça-feira (19).

Os setores financeiro (34%) e de alimentos e bebidas (15%) respondem por quase metade dos recursos contabilizados pelo Monitor das Doações ao longo dos últimos dois meses.

A plataforma atualizada diariamente pela ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos) computou na semana passada mais R$ 400 milhões anunciados pela JBS, terceira maior doação individual para o enfrentamento do novo coronavírus no Brasil.

O Itaú Unibanco lidera o ranking, com aporte de R$ 1 bilhão para a criação do Fundo Todos pela Saúde, seguido da Vale, que doou R$ 500 milhões.

Nesta terça, a Itaúsa, holding de investimentos que tem em seu portfólio empresas como Itaú Unibanco, Duratex, Alpargatas e NTS, anunciou a doação de R$ 50 milhões para combater os efeitos do coronavírus no país.

As famílias Villela e Setubal, acionistas controladores da Itaúsa, também doarão outros R$ 50 milhões. Os R$ 100 milhões serão destinados ao Todos pela Saúde.

“As iniciativas adotadas tanto pela holding quanto pelos controladores reforçam o nosso compromisso com o país e com os brasileiros”, afirma Alfredo Setubal, presidente da Itaúsa.

Outros destaques do período foram os R$ 25 milhões anunciados pela redes de farmácias Drogasil e Droga Raia e mais R$ 7 milhões destinados pelo banco Safra para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e outras entidades.​

“Numa emergência, as empresas têm mais recursos para doar rapidamente. Por isso, o peso delas é muito grande, com 262 contribuições”, explica João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR.

Ele chama a atenção também para a mobilização de 230 mil pessoas físicas que aderiram a 332 campanhas de financiamento coletivos mapeadas em todo o país. Juntas, contribuíram com R$ 330 milhões, ocupando o quarto lugar no ranking de doadores, após as gigantes do setor privado.

O Grupo JBS vai destinar R$ 330 milhões para construção de hospitais e ampliação de leitos e equipamentos médicos, além de doação de alimentos, em 162 municípios espalhados por 17 estados.

“Precisamos fazer mais numa emergência na saúde e social. Estamos presentes em cem municípios no Brasil, onde somos a principal atividade econômica. Conhecemos bem a realidade do interior do país, que não tem os mesmos recursos das capitais”, explica Gilberto Tomazoni, CEO da JBS.

Outros R$ 50 milhões vão financiar pesquisa e tecnologia. “É o nosso segundo pilar de atuação. Só vamos vencer essa batalha pela ciência”, diz o executivo. E mais R$ 20 milhões serão doados a 50 organizações sociais. “Vamos ajudar ONGs já estruturadas para chegar às comunidades mais vulneráveis.”

A pandemia trouxe para a filantropia um olhar sobre governança e gestão dos recursos. No caso da JBS foram constituídos três comitês, com nomes que são referências na área da saúde, na academia e no terceiro setor, para a definição das prioridades e da alocação emergencial de recursos.

O projeto Fazer o Bem Faz Bem é gerenciado por sete funcionários em posições seniores na companhia e em tempo integral, sob a coordenação de Joanita Karoleski, ex-CEO da Seara. As ações serão auditadas pela consultoria Grant Thornton.

“É preciso tomar decisões rápidas, sem burocracia. Podemos levar nossa logística, de ter cainhando andando de Norte a Sul do Brasil, para fazer a ajuda chegar rápido onde mais precisa”, diz Tomazoni.

O Itaú Unibanco foi precursor da ideia de montar um comitê técnico para nortear as ações de enfrentamento à Covid-19, ao anunciar o Fundo Todos pela Saúde.

“É aliar a capacidade de gestão e execução que o banco tem com o direcionamento estratégico de um grupo muito qualificado de profissionais de saúde”, explica Claudia Politanski, vice-presidente do banco.

Ela qualifica de superacertada a decisão de reunir especialistas com experiências diversas na área da saúde para identificar os focos de atuação logo na largada.

A maior instituição financeira do país colocou sua capacidade de gestão e governança a serviço de iniciativas coordenadas com o setor público, envolvendo as três esferas governamentais e gestores hospitalares.

Do fundo de R$ 1 bi já foram destinados 790 milhões para ações. Deste montante, R$ 594 milhões estão efetivamente contratados.

Um processo que está a cargo do superintendente do banco, Ricardo Giannini, que controla todas as iniciativas aprovadas pelos diferentes comitês.

O executivo lidera a equipe responsável pela execução das ações, contratação, logística e a parte financeira e contável das operações, que vão da compra de respiradores na China a distribuição de máscaras no metrô de São Paulo.

Com essa lógica foram carreados R$ 269 milhões para compra de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), R$ 250 milhões para aquisição de equipamentos médicos , especialmente respiradores, e R$ 150 milhões para centros de testagens.

Com quase 80% dos recursos doados já comprometidos, o Todos pela Saúde não tem prazo para terminar sua atuação ao longo da pandemia.

“A existência de recurso não é limitador. O banco fez a primeira contribuição e recebeu doações adicionais de pessoas físicas e jurídicas que se engajaram acreditando na nossa capacidade”, diz Cláudia.

Foram captados até o momento R$ 118 milhões de doações de pessoas físicas e outras empresas para o fundo criado pelo Itaú Unibanco. “Devem ser anunciados mais recursos nos próximos dias. Estamos em contato com clientes e empresas próximas que querem contribuir”, diz a vice-presidente.

O fundo também estruturou gabinetes de crise, ligados a centros de operações em cada um das secretarias de saúde estaduais, para identificar os hospitais a receberem as doações.

“Ajudamos o poder público na gestão da crise a partir de dados de leitos, equipamentos, EPIs e pessoal disponíveis”, explica a executiva.

A equipe de tecnologia do banco se engajou no desenvolvimento do sistema de dados a ser usados por hospitais e secretarias na tomada de decisões.

“Gestão e tecnologia podem ser legados pós-Covid-19. Temos governos analógicos em um momento em que dados são essenciais para salvar vida. É preciso forçar uma aceleração digital. Não temos tempo a perder”, afirma Regina Esteves, presidente da ONG Comunitas.

Ela bate na tecla de que a filantropia deve andar de braços dados com políticas públicas, para que seja mais efetiva e eficiente.

Nesse linha, o Todos pela Saúde inaugura nesta semana o primeiro centro de acolhimento para pessoas contaminadas pelo coronavírus.

Montado em uma escola estadual no bairro Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, fechada por conta da quarentena, segue o modelo feito em Paraisópolis, com apoio do hospital Albert Einstein.

O fundo vai investir R$ 30 milhões para abrir outros sete centros para abrigar 1.600 pacientes com sintomas leves de Covid-19 ou portadores assintomáticos que não teriam como fazer isolamento em favelas.

“É uma vitrine para que o poder público possa replicar em outras comunidades vulneráveis”, afirma a vice-presidente do Itaú Unibanco.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.