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Rodrigo Baggio

A humanização da quarta revolução industrial

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Rodrigo Baggio

Empreendedor social, fundador da ONG de empoderamento digital Recode e membro do Catalyst 2030

Quando o isolamento social nos colocou em casa, ficou claro que só tínhamos um lugar para onde correr: a internet.

Tivemos que rapidamente nos adaptar ao trabalho remoto, às videoconferências, aos pedidos de entrega em casa, às videoaulas, ao streaming. Somos agora uma sociedade hiperconectada, e isso trouxe à tona um alerta o qual é preciso endereçar: a exclusão digital.

A partir de agora, quem não estiver conectado e, acima de tudo, capacitado para pilotar a vida digital, estará fora do mercado, do conhecimento e, principalmente, das oportunidades.

Teste para aula à distância pelo colégio Porto Seguro
Teste para aula à distância pelo colégio Porto Seguro - Divulgação

O primeiro alarme surgiu no debate sobre o adiamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Os estudantes brasileiros que vivem em comunidades pobres denunciaram, acertadamente, que estavam perdendo as já escassas condições que tinham para competir em algo próximo do que poderíamos chamar de igualdade de oportunidade.

Dados vindos de diversas fontes mostravam que a realidade brasileira era cruel com os jovens em vulnerabilidade social: mais de 60% daqueles em idade escolar haviam ficado sem acesso estável e de qualidade à internet, comprometendo o seu rendimento e preparação para as provas.

Isso não é algo novo para nós da Recode. Ao longo dos últimos 25 anos, temos nos mobilizado para garantir o acesso de toda a população às tecnologias da informação.

Não só garantir acesso à internet, mas também aos equipamentos e, fundamental, ao autoconhecimento, princípio básico do empoderamento, despertando essa consciência sobre o uso das tecnologias como ferramenta de transformação.

Vivemos, até pouco tempo, a terceira Revolução Industrial com a chegada dos computadores, internet e telefones inteligentes. Nossa vida mudou ali. Mas agora estamos em um novo momento, que estudiosos entendem como a quarta Revolução Industrial: inteligência artificial, internet das coisas, realidade virtual e aumentada, cidades inteligentes. E se não trouxermos todos para dentro desta revolução, os que ficarem para trás serão atirados ao abismo.

O mercado de trabalho será impiedoso com aqueles que não estiverem capacitados para lidar com as novas tecnologias. Empregos serão criados e eliminados dentro de uma mesma geração. Corremos o risco de, ao não prestarmos atenção na exclusão digital que se agiganta, acirrarmos ainda mais as desigualdades sociais. Lembro de uma velha expressão que usamos muito nos primeiros anos do nosso trabalho: apartheid digital.

E não estamos falando apenas de dar um computador conectado à internet aos nossos jovens. Precisamos formar indivíduos capazes de usar essa tecnologia para transformar as suas vidas e de suas comunidades, além de formar agentes de transformação que sejam capazes de um empreendedorismo social de impacto.

Esse novo mundo já é uma realidade nos chamados países desenvolvidos, onde o ensino de código é obrigatório em diversas escolas. E o mercado vai abrir cada vez mais vagas para desenvolvedores.

Essa é uma tendência em alta que não deve parar de crescer. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) mostram que em 2019 existiam 160 mil vagas não preenchidas nesse mercado de tecnologia.

Isso nos levou a pensar também em oferecer na Recode uma capacitação focada na formação de desenvolvedores full-stack. Em 2019, criamos a primeira turma do Recode Pro, nosso curso para desenvolvedores. Foi um grande sucesso, com uma procura muito acima do que esperávamos, o que nos sinalizou de que o caminho era o certo e que a demanda estava reprimida.

Por fim, precisamos urgentemente pensar na qualificação e na requalificação, no uso ético e cidadão das tecnologias da informação. Precisamos de um novo modelo mental, precisamos de uma disrupção. É preciso humanizar a quarta revolução industrial.

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