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A encruzilhada dos negócios de impacto e intermediários na Covid-19

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Vanessa Prata

Diretora de projetos e comunicação da ponteAponte, é mestre em letras pela Universidade de São Paulo e especialista em tradução e bacharel em comunicação social pela Faculdade Cásper Líbero

Rachel Añón

Pós-graduada em negócios socioambientais, relações internacionais e meio ambiente e sociedade, além de bacharel em comunicação social e história, é diretora de alianças da ponteAponte. Foi jornalista da Folha entre 1999 e 2010.

Cássio Aoqui

Mestre em administração pela Universidade de São Paulo e professor de empreendedorismo social e negócios de impacto da Fundação Instituto de Administração, é diretor-executivo da ponteAponte. Foi jornalista da Folha entre 1999 e 2010.

Os negócios de impacto social (NIS) e os intermediários que os fomentam –aceleradoras, incubadoras, consultorias etc.– formam sem dúvida um dos segmentos mais badalados do campo de impacto e inovação social nos últimos anos.

Aportes de recursos cada vez mais vultosos do ISP (investimento social privado), possibilidades de criação de marcos legais e políticas públicas voltadas para eles, inserção nos currículos das melhores escolas de negócios e matérias de capa dos principais jornais e revistas do país evidenciavam essa trajetória.

O advento da Covid-19, entretanto, não só colocou um freio abrupto nesse crescimento meteórico, conquistado pelo trabalho de diversos atores e lideranças do campo, como também mostrou que, para não sofrer retrocessos nas conquistas recém-obtidas, ainda há muito a se avançar antes que esse modelo se consolide.

Essa é a conclusão do relatório “Cenários e tendências sobre o campo de negócios de impacto e intermediários frente à Covid-19", pesquisado e redigido pelos autores deste artigo e lançado nesta semana, no último dia 31.

O estudo contou com o mapeamento e a análise de mais de cem iniciativas ligadas aos NIS e intermediários entre março e maio deste ano, bem como consultas a 28 atores do ecossistema de maio a julho, entre empreendedores sociais e as principais lideranças no tema no Brasil.

O objetivo do relatório, encomendado e cocriado com a Rede Temática de Investimentos e Negócios de Impacto do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), foi apresentar, a partir de uma visão macro e sistêmica, reflexões e proposições práticas para o ecossistema de impacto como um todo. Neste artigo, abordaremos as reflexões sobre os cenários de curto a longo prazos.

O levantamento aponta que o cenário de curto prazo é pessimista, com forte impacto negativo, devido à queda de receitas e doações, congelamento dos investimentos, interrupção de atividades (sobretudo para os que atuam com varejo e serviços) e, consequentemente, inadimplência e enxugamento das equipes.

No entanto, alguns NIS e intermediários encontraram oportunidades, como startups da área de healthtech, gestores de fundos filantrópicos, plataformas de crowdfunding e NIS que já tinham um canal de vendas online estruturado ou que conseguiram se adaptar rapidamente a essa realidade.

No médio prazo, a perspectiva tende a ser de pessimista para neutra, mas com muitos desafios ainda de readequação aos novos contextos, possível fechamento de intermediários e endividamento de NIS e dos potenciais clientes e beneficiários, sobretudo os periféricos.

Já na transição para o longo prazo, a maioria dos consultados apresenta uma visão mais neutra para otimista, acreditando no surgimento de mais NIS, maior sensibilização e engajamento do setor privado para a resolução de grandes desafios globais (por ex., em saúde), aumento de sensibilização à agenda de impacto, principalmente com políticas públicas estruturantes, provável aumento de doadores/investidores e fortalecimento dos NIS que resistirem ao baque do vírus.

Vale ressaltar, contudo, que alguns atores ouvidos mantêm uma visão mais neutra para pessimista mesmo no longo prazo, com possível fechamento de organizações, como as voltadas para mercados populares em fase de desenvolvimento ou expansão, devido à baixa demanda em razão da situação econômica das famílias mais vulneráveis, maior dificuldade de comercialização para modelos B2B ou B2G por conta de maior restrição orçamentária e maior dificuldade para intermediários acessarem recursos privados ou públicos.

Nessa encruzilhada, o que vai direcionar o campo de NIS e intermediários para uma posição de centralidade na reconstrução da economia, como atores relevantes da sociedade civil organizada, decerto passa pelo desafiador poder de se ressignificar e convergir para criar espaços de diálogo e novas iniciativas entre atores dos setores público e privado. Sobre isso trataremos no próximo artigo, em que consolidaremos as principais proposições do estudo.

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