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Ecossistema de impacto: dos castelos de areia à solidez da construção coletiva no longo prazo

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Rachel Añón

Pós-graduada em negócios socioambientais, relações internacionais e meio ambiente e sociedade, além de bacharel em comunicação social e história, é diretora de alianças da ponteAponte. Foi jornalista da Folha entre 1999 e 2010.

Vanessa Prata

Diretora de projetos e comunicação da ponteAponte, é mestre em letras pela Universidade de São Paulo e especialista em tradução e bacharel em comunicação social pela Faculdade Cásper Líbero

Cássio Aoqui

Mestre em administração pela Universidade de São Paulo e professor de empreendedorismo social e negócios de impacto da Fundação Instituto de Administração, é diretor-executivo da ponteAponte. Foi jornalista da Folha entre 1999 e 2010.

Em artigo publicado nesta Folha em 4 de setembro, abordamos os cenários e desafios que o ecossistema de impacto social terá pela frente à luz da pandemia. Uma vez feita a análise de conjuntura, é hora de trazermos uma visão mais prospectiva para o campo.

Retomamos assim as principais reflexões do relatório “Cenários e tendências sobre o campo de negócios de impacto e intermediários frente à Covid-19", pesquisado e redigido pelos autores deste artigo para a Rede Temática de Investimentos e Negócios de Impacto do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas).

Encerramos o último artigo defendendo a ressignificação do campo de negócios de impacto e intermediários em uma posição de centralidade na reconstrução da economia, como atores relevantes da sociedade civil organizada.

Empreendedores sociais participantes de workshop de impacto colaborativo realizado em novembro de 2019, em comemoração aos 15 anos do Prêmio Empreendedor Social. Participaram do evento integrantes das redes Folha e Schwab, além de convidados-chave do ecossistema de impacto social no Brasil - Marlene Bergamo/Folhapress

​A seguir, consolidamos 15 proposições —de ações concretas a mudanças de paradigmas— que o estudo aponta como necessários para o ecossistema se potencializar no pós-pandemia:

  1. Ampliar o ecossistema e torná-lo mais inclusivo e menos segmentado, com interlocução com mais setores, para que deixe de ser um “nicho promissor”;
  2. Promover advocacy articulado em âmbito federal, estadual e municipal e nas ações e políticas públicas estruturantes;
  3. Trabalhar em rede e com diversidade em suas múltiplas possibilidades, inclusive com o poder público e entes a ele relacionados e a cooperação internacional;
  4. Estimular recursos públicos e de ISP (investimento social privado) para todo tipo de NIS (negócio de impacto social) e OSC em geral com modelos híbridos (grants, recursos não reembolsáveis, capital paciente etc.);
  5. Estimular o ISP a apoiar NIS em fases iniciais a entender o problema que visa resolver de forma sistêmica, fechar seu modelo de negócio, elaborar sua tese de impacto e medir resultado;
  6. Abrir parcerias (financeiras) com maior tempo de execução e temáticas fora da Covid-19;
  7. Direcionar mais recursos para intermediários para fortalecer sua atuação;
  8. Estimular maior atuação de NIS em campanhas de arrecadação, por exemplo, nas plataformas de crowdfunding e crowdequity;
  9. Promover maior integração com modelos complementares como a economia solidária, negócios de impacto periféricos, cooperativas e negócios comunitários ou rurais;
  10. Incluir mais comunidades de maior vulnerabilidade e com diversidade geográfica;
  11. Promover NIS e intermediários como atores da retomada econômica como sociedade civil e do cumprimento dos objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU;
  12. Buscar ações estratégicas na mídia --mudança de narrativa de inovação social, com maior foco em soluções de negócios de impacto periféricos e negócios de impacto em saúde e tecnologia contra a Covid-19;
  13. Navegar por uma narrativa de NIS como atores-chave da sociedade civil para uma nova economia e mudança de paradigma no pós-pandemia;
  14. Gerar mais informações qualificadas e confiáveis e que levem a ações concretas;
  15. Reinventar-se: os negócios de impacto, em digitalização, mudança de atuação e modelo de negócio, por exemplo; os investidores sociais, em sua cultura de fomento e de mindset, com mais abertura à experimentação e ainda mais trabalho coletivo; e os intermediários nos papéis exercidos e real valor agregado ao ecossistema, bem como no desafio de se estruturar melhor financeiramente.

A nosso ver, para que os cenários mais otimistas prevaleçam, essas proposições não cabem a uma liderança isolada nem a um setor em específico. Será necessária ainda mais colaboração de múltiplos atores e lideranças do campo, nos mais diversos setores e esferas de atuação.

Desde o início da pandemia, muito já começou a ser feito nesse sentido, o que nos leva a crer que não se trata de um efeito “castelo de areia”, mas, sim, de uma construção de longo prazo de um campo emergente que, se potencializado de maneira colaborativa, crítica e responsável, tem muito a contribuir com a redução das desigualdades que tanto —e agora ainda mais— assolam nosso país.

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