Em artigo publicado nesta Folha em 4 de setembro, abordamos os cenários e desafios que o ecossistema de impacto social terá pela frente à luz da pandemia. Uma vez feita a análise de conjuntura, é hora de trazermos uma visão mais prospectiva para o campo.
Retomamos assim as principais reflexões do relatório “Cenários e tendências sobre o campo de negócios de impacto e intermediários frente à Covid-19", pesquisado e redigido pelos autores deste artigo para a Rede Temática de Investimentos e Negócios de Impacto do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas).
Encerramos o último artigo defendendo a ressignificação do campo de negócios de impacto e intermediários em uma posição de centralidade na reconstrução da economia, como atores relevantes da sociedade civil organizada.
A seguir, consolidamos 15 proposições —de ações concretas a mudanças de paradigmas— que o estudo aponta como necessários para o ecossistema se potencializar no pós-pandemia:
- Ampliar o ecossistema e torná-lo mais inclusivo e menos segmentado, com interlocução com mais setores, para que deixe de ser um “nicho promissor”;
- Promover advocacy articulado em âmbito federal, estadual e municipal e nas ações e políticas públicas estruturantes;
- Trabalhar em rede e com diversidade em suas múltiplas possibilidades, inclusive com o poder público e entes a ele relacionados e a cooperação internacional;
- Estimular recursos públicos e de ISP (investimento social privado) para todo tipo de NIS (negócio de impacto social) e OSC em geral com modelos híbridos (grants, recursos não reembolsáveis, capital paciente etc.);
- Estimular o ISP a apoiar NIS em fases iniciais a entender o problema que visa resolver de forma sistêmica, fechar seu modelo de negócio, elaborar sua tese de impacto e medir resultado;
- Abrir parcerias (financeiras) com maior tempo de execução e temáticas fora da Covid-19;
- Direcionar mais recursos para intermediários para fortalecer sua atuação;
- Estimular maior atuação de NIS em campanhas de arrecadação, por exemplo, nas plataformas de crowdfunding e crowdequity;
- Promover maior integração com modelos complementares como a economia solidária, negócios de impacto periféricos, cooperativas e negócios comunitários ou rurais;
- Incluir mais comunidades de maior vulnerabilidade e com diversidade geográfica;
- Promover NIS e intermediários como atores da retomada econômica como sociedade civil e do cumprimento dos objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU;
- Buscar ações estratégicas na mídia --mudança de narrativa de inovação social, com maior foco em soluções de negócios de impacto periféricos e negócios de impacto em saúde e tecnologia contra a Covid-19;
- Navegar por uma narrativa de NIS como atores-chave da sociedade civil para uma nova economia e mudança de paradigma no pós-pandemia;
- Gerar mais informações qualificadas e confiáveis e que levem a ações concretas;
- Reinventar-se: os negócios de impacto, em digitalização, mudança de atuação e modelo de negócio, por exemplo; os investidores sociais, em sua cultura de fomento e de mindset, com mais abertura à experimentação e ainda mais trabalho coletivo; e os intermediários nos papéis exercidos e real valor agregado ao ecossistema, bem como no desafio de se estruturar melhor financeiramente.
A nosso ver, para que os cenários mais otimistas prevaleçam, essas proposições não cabem a uma liderança isolada nem a um setor em específico. Será necessária ainda mais colaboração de múltiplos atores e lideranças do campo, nos mais diversos setores e esferas de atuação.
Desde o início da pandemia, muito já começou a ser feito nesse sentido, o que nos leva a crer que não se trata de um efeito “castelo de areia”, mas, sim, de uma construção de longo prazo de um campo emergente que, se potencializado de maneira colaborativa, crítica e responsável, tem muito a contribuir com a redução das desigualdades que tanto —e agora ainda mais— assolam nosso país.
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