Ao final de 1995, eu estava prestes a concluir o meu mestrado em ciências da engenharia ambiental pela Escola de Engenharia da USP de São Carlos e buscava oportunidades para trabalhar.
Emendar o doutorado era uma opção. Mas o desejo era botar a mão na massa e poder aplicar o que eu havia aprendido na pós-graduação e na graduação de engenheiro agrônomo, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo.
Em uma conversa com o então professor Virgilio Viana fiquei sabendo do Imaflora, que havia sido fundado um ano antes por ele e outras pessoas da área de florestas do Brasil.
O Virgilio sugeriu que eu falasse com o Tasso (Azevedo), conhecido colega da engenharia florestal da Esalq, também fundador e secretário executivo da nova organização.
A conversa foi excelente e o Tasso me propôs liderar a criação de uma área de agricultura do Imaflora, uma vez que a parte florestal já estava desenhada e ativa. A premissa, pioneira na época, era que uma agricultura sustentável era condição para a conservação de florestas.
A segunda, ainda mais inovadora, era que a certificação socioambiental poderia catalisar mudanças e fomentar inovação rumo à sustentabilidade e que colaboraria para o aprimoramento da governança florestal e agrícola.
O desafio proposto foi fazer uma prospecção das principais culturas brasileiras com potencial para a certificação. Assim, bem no começo de 1996, comecei a minha incrível jornada no Imaflora.
Até o final de 1998 desenvolvemos os primeiros padrões para a certificação da cana-de-açúcar, em um processo que mobilizou usineiros, pesquisadores, sindicatos de trabalhadores, produtores de cana, ambientalistas.
A iniciativa foi o embrião da certificação agrícola socioambiental no Brasil e uma das sementes para a criação da Rede Agricultura Sustentável, hoje uma organização global.
Concluído este trabalho, me afastei do Imaflora por quatro anos para a realização do meu doutorado no programa de fitotecnia da Esalq, onde estudei os sistemas agroflorestais ou SAFs.
Em 2003 voltei ao ninho e assumi a posição de secretário executivo adjunto do Imaflora, que havia crescido, já tinha uma sede própria e se aproximava dos seus 10 anos de atuação.
Neste ano, a primeira fazenda de café havia sido certificado e eu tinha participado da equipe de auditores, ainda antes de voltar ao Imaflora. Em 2005 sucedi ao Andre de Freitas e me tornei o terceiro secretário executivo da instituição.
Fiquei na posição até 2010, quando passei a faixa ao jovem engenheiro florestal Mauricio Voivodic. O Imaflora chegava ao seu quarto secretário executivo, seguindo a tradição de todos terem menos de 40 anos e serem corintianos.
Nesta transição tive o privilégio de experienciar um sabático por seis meses, fazer as malas e ir com a família para a Inglaterra, onde fui pesquisador visitante do Centro de Florestas Tropicais da Universidade de Oxford.
No retorno, em janeiro de 2011, voltei a apoiar a certificação agrícola, mas também contribuí com as atividades de políticas públicas e comecei uma iniciativa mais estruturada de pesquisas para fortalecer a contribuição institucional do Imaflora. Em 2012, fui finalista do Prêmio Empreendedor Social da Folha e passei a integrar a família da Rede Folha de Empreendedores Sociais.
Desde 1996 foram mais de 20 anos incríveis no Imaflora, uma organização que me deu muitas oportunidades de desenvolvimento profissional e pessoal e me permitiu fazer parte da super sociedade civil organizada brasileira, que luta pela garantia de direitos, pela democracia e pela sustentabilidade e equidade na muito desigual sociedade brasileira.
Também pude participar de ideias e iniciativas para fomentar mudanças e inovação nos setores florestal e agrícola no Brasil e no mundo. Uma realização pessoal indescritível. Conheci, trabalhei, aprendi e me diverti diariamente com pessoas incríveis, conheci muitos lugares do Brasil e do mundo e a grande diversidade e as profundas contradições da agricultura e das florestas do nosso país.
Após 20 anos de casa e me aproximando dos 50 anos, aceitei o tentador convite de mudar de ares e participar da linda trajetória da SOS Mata Atlântica, uma organização histórica e fundamental para a conservação das florestas do Brasil e para o fortalecimento da sociedade civil e defesa de direitos e da democracia no país.
A minha paixão pela Mata Atlântica vem de muito tempo e interage com a minha carreira, onde sempre estive com um pé na agricultura e outro na floresta.
Na graduação em agronomia fiz a iniciação científica estudando a ecologia de um fragmento de mata atlântica no interior do campus da Esalq. Em seguida fiz a conclusão de curso em um estágio na Estação Ecológica Jureía-Itatins, um dos paraísos da Mata Atlântica que restaram no Brasil. Sempre admirei o trabalho e as pessoas da SOS Mata Atlântica, com quem me relacionei todo este tempo.
Assim, é com grande alegria e entusiasmo que parto para uma nova etapa da minha vida e carreira na SOS Mata Atlântica. Mudo de tribo, mas sigo na mesma aldeia.
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