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Leandro Machado

Brasil, qual palavra melhor define 2020?

'Luto' foi definida como palavra do ano em pesquisa da consultoria Cause

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Janeiro chegou com notícias avassaladoras da China. Um surto do novo coronavírus se espalhava rapidamente, com mais de 7.000 casos, principalmente na cidade de Wuhan.

Eram mais de 100 mortos até o fim daquele mês. Parecia assustador, mas distante. Nenhum brasileiro imaginava que, meses depois, nosso país registraria mais de mil mortos por dia em decorrência das complicações da doença.

Dezembro chega à metade com mais de 180 mil mortos. 180 mil famílias vivem o luto dos entes que foram levados pela Covid-19 ao longo do ano. 180 mil famílias sentem saudade dos que se foram - e outros milhões sentem saudade de uma vida normal, dos encontros com amigos, das noitadas fora de casa, da sala de aula.

Não bastasse a pandemia, a humanidade ainda teve tempo de escancarar todo seu racismo com as mortes de George Floyd, nos Estados Unidos; e de João Alberto, em Porto Alegre. Isso para citar apenas dois casos de genocídio da população negra, entre tantos outros que ganharam menos atenção da mídia.

Ah, sim. Tivemos ainda recordes históricos de incêndios na Amazônia e no Pantanal. Que ano, hein, 2020?

Frente a todas essas notícias, qual a melhor palavra para captar o espírito de 2020? Difícil pensar em algo positivo, em um ano marcado por inúmeras tragédias.

Numa parceria da Cause com a Consultoria Ideia Big Data, convidamos 15 profissionais, entre jornalistas, ativistas, cientistas sociais e biofísicos, para a missão de sintetizar ao máximo esse ano. E eles chegaram a sete possibilidades: luto, resistência, desamparo, isolamento, queimada, saudade, antirracismo.

A palavra final, após pesquisa feita com 1.200 pessoas de todo o Brasil, é luto.

Luto pela perda significativa dos entes queridos levados pela Covid-19, pelos momentos perdidos ou adiados, pela ausência de despedidas.

Não que em anos anteriores a indicação do termo tenha sido mais feliz ou otimista. Em 2018, venceu a palavra “mudança” — afinal, muitos brasileiros apostaram nessa ideia quando confirmaram seus votos nas urnas.

No ano seguinte, a palavra escolhida foi: dificuldades. Dava para prever que uma mudança à la Bolsonaro traria mesmo complicações no ano seguinte, não?

A ideia dessas pesquisas, que acontecem há décadas no exterior, é dar voz ao sentimento dos brasileiros. Ou, melhor ainda, é uma chance de entendermos o que mais impacta nossa sociedade e engajar diversos públicos nessas discussões. E é curioso ver a diferença em cada nação.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o ano de 2017 foi marcado pela palavra “youthquake” — algo como “revolução promovida por jovens”. Parecia bom. Por aqui, a corrupção resumiu o ano dos brasileiros.

Dois anos antes, os norte-americanos elegeram uma palavra muito mais leve e positiva: fofo. Aqui não sabemos pois só começamos a pesquisa no ano seguinte.

Resta sonhar com palavras como a escolhida em 2015 nos Estados Unidos. Ou algo otimista e idealista, como “youthquake”. Mas nada, nada seria melhor do que finalizar 2021 com um resumo cheio de esperança e felicidade: vacina. Que esse tempo chegue logo!

Leandro Machado

Cientista político, é mestrando em administração pública na Harvard Kennedy School (EUA) e autor do livro “Como Defender Sua Causa” (ed. Nacional)

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