Escuta prévia orientou a destinação de recursos para 100 ONGs na crise

Instituto Coca-Cola se articula em rede para socorrer de Heliópolis à Amazônia e fomentar cozinhas solidárias com Fundo Estamos Nessa Juntos

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Daniela Redondo, finalista do Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19 na categoria Ajuda Humanitária, com o Fundo Estamos Nessa Juntos Renato Stockler

São Paulo

Fundo Estamos Nessa Juntos

  • Organização Instituto Cola-Cola Brasil em coalização com Instituto Phi, Gastromotiva, Unas Heliópolis e Região e mais 100 ONGs
  • Empreendedores Daniela Redondo, Luiza Serpa, David Hertz e Antonia Cleide Alves
  • Site https://www.cocacolabrasil.com.br/historias/estamos-nessa-juntos

Um botijão de gás, uma quentinha, gasolina para o barco chegar à comunidade ribeirinha, informações confiáveis. As demandas de comunidades urbanas e rurais espalhadas pelo Brasil durante a pandemia foram imensas e diversas. O ouvido apurado de Daniela Redondo, 45, guiou as ações do Fundo Estamos Nessa Juntos, criado pelo Instituto Coca-Cola Brasil.

“Ouvimos 86 líderes comunitários que nos disseram o que estavam precisando”, conta a diretora executiva do instituto, que mobilizou mais de R$ 13 milhões em ações de conscientização, proteção e saúde e segurança alimentar em regiões vulneráveis de 21 estados mais o Distrito Federal.

As mais de cem organizações beneficiadas tiveram autonomia para aplicar as doações a partir de suas reais necessidades, que iam desde promover conhecimento sobre a doença até acesso à alimentação básica. Cerca de 60% dos recursos foram alocados em segurança alimentar, 26% em prevenção de contágio, 8% em conscientização e 5% em apoio organizacional, diz a diretora.

Dani Redondo, como é conhecida, dividiu-se entre a força-tarefa que impactou mais de oito milhões de pessoas e as tarefas de casa, que incluíam cuidar de Lorenzo, seu bebê de um ano. O pequeno cumpriu quarentena nos braços da mãe, no Rio de Janeiro, enquanto a intraempreendedora ouvia o chamado de Gilson Rodrigues, presidente da Associação de Moradores de Paraisópolis, e de Antonia Cleide Alves, 56, líder comunitária de Heliópolis, duas das maiores favelas de São Paulo.

A presidente da União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (Unas) estava preocupada. “Achava que a população não seria solidária. Pensava ‘se a gente se contaminar, ninguém vai querer ficar perto”, conta Cleide.

Heliópolis abriga 220 mil pessoas, com ruas estreitas e casas insalubres, terreno fértil para contaminação pelo vírus. Uma das demandas detectadas pela Unas era a falta de informação confiável sobre a Covid-19. “Mapeamos as vielas para fazer chegar o carro de som com comunicação essencial e atualizada”, diz Dani Redondo.

Por meio do Coletivo Jovem, a Coca-Cola já atuava na comunidade há dez anos. O vínculo fortalecido fez chegar rapidamente cestas básicas, álcool em gel, sabonete, cartazes, entre outras doações para uma população de 20% de desempregados. O fundo atuou também com organização do programa o Água + Acesso, entre elas a Fundação Amazônia Sustentável e o projeto Saúde & Alegria.

Para garantir a capilaridade das ações em todo o país, o fundo teve apoio do Instituto Phi, que, além da gestão financeira pro bono, articulou as entregas de doações com as organizações sociais. "O Phi fez chegar ajuda a quem mais precisa de forma ágil, correta e transparente”, conta a diretora Luiza Serpa.

Os recursos do fundo e a troca de experiências ajudaram Cleide a enfrentar o momento difícil em Heliópolis. “De repente a violência, a desigualdade e a falta de perspectiva ficaram escancaradas, mas juntos nos fortalecemos. Acredito que ninguém é a mesma pessoa depois da pandemia”, diz.

Quem também pensa assim é David Hertz, 46. O chef fundador da Gastromotiva, organização que promove a inclusão através da gastronomia social, perdia noites de sono em março pensando em seu papel diante da crise humanitária.

Até que chegou email de uma ex-aluna. Milena Pimenta pedia apoio para cozinhar para pessoas de seu bairro em Guadalupe, no Rio de Janeiro. Ao ouvir o pedido, David estabeleceu a meta de criar 50 Cozinhas Solidárias e distribuir 80 mil refeições por mês. “Juntamos 16 anos de experiência e um desejo profundo de atuar com desenvolvimento local”, conta o vencedor do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2009.

As cozinhas dos ex-alunos formados pela ONG se tornaram centrais de produção de quentinhas nas comunidades. Com apoio do Fundo Estamos Nessa Juntos, a solução foi escalada para São Paulo e Curitiba, com geração de renda para os cozinheiros.

A doação tornou possível aplicar às cozinhas valores essenciais da Gastromotiva. Embalagens de isopor foram substituídas por recicláveis, cozinheiros receberam treinamento em EPI e uma nutricionista foi contratada para montar cardápios semanais. E as marmitas passaram a ter pelo menos um ingrediente orgânico. “Destinamos o recurso para apoiar produtores orgânicos que estavam passando por dificuldades”, diz o chef.

Em agosto, David visitou algumas Cozinhas Solidárias. Os cozinheiros contaram que a iniciativa havia mudado suas vidas pois não podiam mais ignorar pessoas em situação de rua que vinham pegar quentinhas na porta de casa.

Natália Rosa, 31, cuidava dos serviços gerais no Refettorio Gastromotiva e escutou o chamado de David. Decidiu cozinhar para a comunidade do Chapadão, na Pavuna, onde mora com quatro filhos e o marido, que estava desempregado. “No começo, não conseguia me esvaziar, era muita emoção, foi difícil”.

Eram trezentas refeições por semana. Natália quebrou algumas panelas e se queimou no fogão, mas acha que valeu a pena. “Atendi muitas meninas grávidas, solteiras, e também crianças que nunca comiam legumes, não tinham acesso à alimentação saudável.”

A rodada de escutas que começou na sala de Dani Redondo deu voz a líderes e articuladores sociais pelo Brasil inteiro, promovendo uma rede de solidariedade durante a pandemia. Um feito que o pequeno Lorenzo vai entender a dimensão no futuro.

*

Fundo Estamos Nessa Juntos

  • 8,4 milhões de pessoas impactadas
  • R$ 13,2 milhões em recursos mobilizados
  • 600 comunidades atendidas
  • 28 Cozinhas Solidárias consolidadas
  • 101 mil kits de prevenção
  • 400 mil kits de segurança alimentar
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