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Inclusão produtiva passa por pequenos empreendedores de periferias urbanas e áreas rurais

Fundação Arymax, B3 Social e Instituto Veredas conduzem pesquisa com 300 referências e 19 atores-chave na pandemia

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Vivianne Naigeborin

Superintendente da Fundação Arymax.

Elizabeth MacNicol

Superintendente da B3 Social.

Vahíd Vahdat

Diretor de projetos e articulação institucional do Instituto Veredas.

O conceito de inclusão produtiva, em síntese, envolve um conjunto de intervenções destinadas a inserir pessoas em situação de vulnerabilidade econômica no mundo do trabalho, diminuindo sua exclusão social e aumentando a produtividade no país.

Para entender melhor como a temática dialoga com a cena contemporânea, sob uma perspectiva de impacto social, a Fundação Arymax e a B3 Social convidaram o Instituto Veredas para conduzir o estudo "O Futuro da Inclusão Produtiva no Brasil: da emergência social aos caminhos pós-pandemia".

Com uma visão analítica e propositiva, por meio de um amplo processo de revisão de evidências que abarcou mais de 300 referências, além de entrevistas com 19 atores-chave, o estudo identificou estratégias promissoras para auxiliar o país a encontrar oportunidades dignas e adequadas de trabalho e geração de renda para seus cidadãos.

Essas oportunidades propõem apoiar o crescimento do país, beneficiando-se do potencial produtivo de um contingente expressivo de brasileiros que atualmente está excluído do mercado. A ótica empregada é apostar na potência criativa e criadora desta população e das soluções que podem ser criadas para superar esse desafio.

Um dos recortes extraídos da pesquisa analisa, à luz da pandemia, os obstáculos enfrentados pelos empreendedores de pequenos negócios, tanto na área urbana como na área rural e possíveis caminhos para a superação desse momento desafiador.

​As pequenas empresas, em sua maioria, não contavam com reservas suficientes para se manterem, durante a pandemia, para além de um período de 21 dias, de acordo com o Banco Mundial. À medida que os meses passaram, tornou-se fundamental que aquelas que se mantinham empresas em atividade pudessem se adaptar ao contexto digital. No entanto, para muitas faltou a habilidade e os meios necessários para realizar a digitalização da gestão e das vendas. Houve, ainda, um desafio expressivo para fazer as entregas de produtos a partir de áreas mais isoladas, como as periferias.

Com tantas dificuldades, na prática, o que se observou foi o fechamento permanente de mais de 715 mil pequenos negócios e na demissão de 5,8 milhões de pessoas, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da primeira quinzena de junho de 2020.

Adicionalmente, com a redução das oportunidades de emprego, o empreendedorismo se tornou a única alternativa disponível para um número crescente de pessoas. Esse novo contingente de empreendedores por necessidade dispõe de pouco conhecimento e —assim, como aqueles que já possuem seus negócios—, precisam de suporte e orientação para os novos desafios trazidos pela mudança de contexto.

O estudo "O Futuro da Inclusão Produtiva no Brasil: da emergência social aos caminhos pós-pandemia" aponta que, para tornar o apoio aos empreendedores efetivo, é importante atentar para três âmbitos de ação: 1) o empreendedor; 2) o negócio; e 3) o ambiente no qual ele se insere​. Um olhar integrado para essas dimensões é requisito para que os empreendedores possam prosperar. Destacamos, abaixo, os três contextos e respectivas recomendações para a criação de planos de ação mais efetivos nesse apoio.

Fortalecer o empreendedor

​As dificuldades e as tensões geradas pela pandemia ​e a precariedade do acesso à saúde —enfrentadas pelos empreendedores— fizeram com que muitos ficassem com a saúde emocional debilitada. Evidências recentes indicam que treinamentos que buscam desenvolver iniciativa pessoal e o imaginário dos empreendedores podem ser ferramentas importantes para que eles consigam ter a resiliência necessária para reconhecer o caráter temporário da pandemia, desenvolver planos de contingência e identificar passos que permitiriam uma recuperação rápida. Uma outra estratégia relevante é a apresentação de ​role models (exemplos) para os empreendedores. Nesse sentido, é importante que sejam pessoas parecidas com o grupo em consideração, que foram capazes de enfrentar os desafios atuais e que, por essa razão, poderiam ser modelos a serem seguidos. Soma-se a essa estratégia, o desenvolvimento de capacidades técnicas e de gestão que são pertinentes ao negócio.

Aumentar a produtividade dos pequenos negócios

De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (2020), os pequenos negócios possuem um nível de produtividade muito inferior às empresas médias e grandes. A pandemia criou novas exigências e trouxe mais complexidade à sobrevivência dos pequenos. Frente a esses desafios, duas possibilidades emergem: fazer o esforço necessário para que os negócios possam sobreviver até que a pandemia passe —com o risco que as empresas não sobrevivam— ou promover de maneira consciente a transformação para que se adequem ao novo contexto. Neste segundo caso, é possível desenhar programas que ofereçam acompanhamento e um apoio integrado aos empreendedores, já considerando a nova realidade.

Os programas precisam incluir assistência técnica para se adaptar à novas condições (o que pode incluir o desenvolvimento de novos produtos e serviços), acesso a recursos financeiros, assessoria para obter novos benefícios, pagar impostos e renegociar contratos e apoio à digitalização na medida do necessário. Por meio desses serviços, os negócios podem aprimorar a gestão, a capacidade de planejamento e as habilidades de comunicação e conexão com novos mercados. Para que os programas sejam efetivos, também é importante que reconheçam a heterogeneidade existente entre os pequenos negócios, nos quais nem todos têm a expectativa de crescer.

Criar o ambiente para o desenvolvimento de pequenos negócios​

Com frequência, os pequenos negócios não encontram o tipo de ambiente que permite seu pleno desenvolvimento. Os serviços financeiros disponíveis não se adequam às possibilidades e necessidades do pequeno empreendedor urbano ou rural. As exigências e os custos implicados tornam a formalização do empreendimento pouco viável; a distância dos consumidores dificulta as entregas; e há barreiras para poder vender produtos para grandes compradores, sejam públicos ou privados. Para superar esses desafios, é preciso aproveitar algumas das inovações já existentes e criar novos instrumentos para desafios já conhecidos como o acesso a crédito e a novos mercados, inclusive o de compras públicas.

​Por mais que o período pós-pandemia esteja repleto de desafios, ele também é uma oportunidade de inovar nas abordagens, acelerar transformações que já estavam em curso e criar novos caminhos. As mudanças sociais desencadeadas pela pandemia sugerem a existência de um espaço crescente para discutir o propósito da atividade econômica – não com um fim em si mesma, mas como um poderoso meio pelo qual a sociedade pode lidar com as necessidades de seus cidadãos e avançar na construção de um projeto partilhado de desenvolvimento inclusivo e sustentável. A íntegra do estudo será disponível para download no site: www.arymax.org.br/conhecimento/inclusaoprodutivanobrasil

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