Startup oferece catálogo digital de livros para alunos da rede pública

Com o uso da tecnologia, a Árvore leva a escolas acervo de 30 mil obras para apoiar leitura e ensino a distância na pandemia

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João Leal, fundador da Árvore e finalista do Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19, na categoria Legado Pós Pandemia

João Leal, fundador da Árvore e finalista do Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19, na categoria Legado Pós Pandemia Renato Stockler

Ana Paula Franzoia
São Paulo

Árvore de Livros

  • Organização Árvore
  • Empreendedores João Leal e Danielle Gobbi Brants
  • Site https://arvore.com.br

Serviços de streaming e jogos eletrônicos estão no topo da preferência de crianças e adolescentes e costumam ser motivo de estresse entre pais e filhos na hora de estudar.

Para a Árvore, empresa social focada em educação, os dois modelos de entretenimento serviram como inspiração na construção de ferramentas de estímulo à leitura.

Com mais de 30 mil livros em seu catálogo digital, a startup usou inteligência artificial para fazer indicações baseadas nos interesses de cada aluno ou professor, assim como a Netflix faz com os filmes e séries.

Com gamificação criou desafios a serem superados a cada obra lida, que podem ser disputados por grupos de alunos, em uma divertida competição de aprendizagem.

Fundada há um ano, essa espécie de “Netflix de livros” oferece às escolas soluções tecnológicas criadas para professores e alunos.

Com a pandemia, os sócios viram a chance de aumentar o raio de ação chegando a escolas públicas de todo o Brasil para dar suporte ao aprendizado em meio às dificuldades do ensino a distância.

“A urgência da situação nos levou a melhorar as funcionalidades e criar outras para facilitar o acesso para quem está offline”, conta a administradora Danielle Brants, 36. Há um ano, ela se tornou sócia de João Leal, 36, administrador e fundador da Árvore.

Graças aos apoios institucionais e às parcerias firmadas com secretárias de Educação de estados e municípios, 1 milhão de alunos e 63 mil professores de 3.300 escolas puderam ter acesso a mais de 30 mil livros e conteúdos de atualidades, além de assessoria pedagógica.

Entre os resultados alcançados pela iniciativa em tão pouco tempo se destacam a média de leitura por aluno participante: quatro livros, enquanto a média nacional está em 2,5 livros.

Foram mais de 470 mil textos acessados pela plataforma neste ano por estudantes e professores. “Temos mais de 500 editoras parceiras, jornais e conteúdo de atualidades que permitem a leitura dos títulos indicados pelos professores e também de qualquer outro tema, a partir do celular, tablet ou computador, online ou offline,sem limitações”, explica Leal.

Uma das beneficiadas neste ano letivo sem aulas presenciais foi a Escola Municipal Guerino Massolini, em Serafina Corrêa (RS). A diretora, Daniela Ferrari, 39, conta que todos os alunos do ensino fundamental foram inscritos.

“Eles oferecem muitas atividades e apoio aos professores, além do acesso a um catálogo de livros bem diversificado. Até mesmo crianças que não gostam de ler estão estimuladas com os jogos.”

Frente à dificuldade de muitos alunos em acessar a internet, segundo a diretora, é fundamental que os livros possam ser lidos offline.

Danielle e Leal ficam animados com o retorno das escolas. “A pandemia impactou mais de 1,6 bilhão de alunos pelo mundo e acelerou o processo de digitalização das escolas. É gratificante ver como os professores dos mais diversos lugares se movimentaram para aprender a usar a tecnologia e manter o interesse dos alunos”, diz Danielle.

Para Leal, a plataforma é um facilitador no ensino remoto. “Reforçamos o suporte aos professores, que já recebiam capacitação e contavam com o apoio de equipes para criar projetos. Estamos ainda mais acessíveis.”

Além dos relatos e números animadores, as histórias que chegam aos ouvidos da equipe da Árvore emocionam, como a do aluno Samuel Erhart Robinson, 9, morador de Novo Hamburgo (RS), que escreveu e publicou seu primeiro livro, “O Menino e a Casa na Árvore: entre Sonhos e Pesadelos”.

A obra do autor mirim foi disponibilizada na plataforma e serviu de base para um projeto de leitura desenvolvido pela equipe pedagógica da Árvore na pandemia.

Aplicado por algumas escolas parceiras, entre elas o Colégio Regina Pacis, em Sinop (MT), uma professora chegou a realizar uma videochamada para que o autor e seus alunos pudessem conversar sobre o livro.
Em apenas uma semana a obra teve 300 leituras.

Filho de uma professora e de um vendedor de livros, Leal sempre foi estimulado a ler muito, assim como Danielle, filha de imigrantes que vieram para o Brasil pós-guerra.

Antes de se tornarem sócios, cada um tinha uma iniciativa na área. Leal já empreendia com a Árvore de Livros, enquanto Danielle estava na Guten, plataforma digital de leitura com foco em conteúdo jornalístico.

Juntaram forças. “Sabemos que no Brasil a falta de leitura é um problema grave, o que influencia o desenvolvimento de crianças e adolescentes”, afirma Leal.

Os planos de crescimento da sociedade acabaram sendo acelerados com o fechamento das escolas em razão da crise sanitária e as novas necessidades criadas para manter o ensino a distância de todo o Brasil.

“Tivemos a oportunidade de chegar bem longe. A Árvore está em escolas no Amazonas e também em colégios de elite em São Paulo”, afirma Danielle, sobre modelo de negócio em que escola ou secretarias pagam R$ 9,90 por aluno/mês, valor decrescente conforme a escala, para acesso liberado.

A palavra árvore permite múltiplas figuras de linguagem —sementes, raízes, galhos e principalmente frutos—, metáforas perfeitas para a importância da leitura e da multiplicação do conhecimento.

O nome é sugestão da mãe de João. Ela montava barraca debaixo de uma árvore frondosa numa feirinha na praça do bairro em que a família morava, no Rio. Daí o conceito da empresa cujos galhos foram longe na pandemia.

“O mundo passou a ser outro”, diz Leal. “Ficamos ainda mais próximos das escolas para entender as novas necessidades e nos adaptamos.”

*

Árvore

  • 1 milhão de alunos impactados
  • R$ 15 milhões em recursos mobilizados
  • 3.319 escolas atendidas
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