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'Experimentei macarrão parafuso pela primeira vez', diz catadora sobre ajuda na pandemia

Pernambuca é beneficiária da iniciativa Renda Mínima pros Catadores, uma dos 30 premiadas do Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19, na categoria Ajuda Humanitária

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São Paulo

Marcia Maria Barbosa, 46, é catadora de material reciclável de Olinda (PE). Na pandemia, se viu sem o seu ganha-pão. No auge da crise, a ajuda chegou por meio da iniciativa Renda Mínima pros Catadores na Pandemia, lançada por Pimp my Carroça e Cataki.

A seguir, o depoimento da beneficiária pernambucana, uma das mais de 70 mil pessoas impactadas pela ação.

*

“Trabalho como catadora há 6 anos junto com meu marido, Josedilson. De vez em quando pego uma faxina, ele faz bico de pedreiro, mas no dia a dia vivemos da catação.

Quando começou a pandemia, em março, os ferros-velhos fecharam. Minha casa ficou parecendo um ferro-velho. Não tinha mais onde vender as coisas.

Moramos no bairro do Rio Doce, em uma casa de dois cômodos, com nossos dois filhos, Franciele, de 20 anos, e Hugo Henrique, de 16. O banheiro, de madeira, fica do lado de fora. Foi Josedilson quem construiu.

Chegamos a ter duas carroças. Mas meu marido desmanchou uma e usou o material para fazer outra mais larga. Eu preferia duas, a outra faz falta.

Renda Mínima pros Catadores na Pandemia - Pimp My Carroça - Divulgação

Em todo caso, na pandemia, a carroça ficou parada. Fiquei sem saber o que fazer. Nos tempos normais, a gente junta os produtos por duas semanas e vende tudo de uma vez. Consegue tirar uns R$ 20, R$ 30, por quinzena. Reciclamos tudo, menos vidro e papelão. Trabalhamos mais com latas, pet, panelas. Cobre é o que dá mais. O máximo que ganhamos de uma vez foi R$ 300 por 3 kg de cobre.

Um catador amigo nosso, Sebastião, me falou do Cataki há mais ou menos um ano. Minha filha colocou o aplicativo no celular dela. O meu aparelho é mais fraco. Assim fiquei cadastrada.

Na pandemia, uma moça do Pimp My Carroça [Carol Pires, diretora executiva da ONG] ligou para falar do cartão. Nunca tive conta em banco nem cartão. Eu e Fran, minha filha, fomos buscar o nosso com a moça, que explicou direitinho como usar.

Achei bom, veio em boa hora! Estou usando o valor aos pouquinhos. Todo mês, vou com minha filha na Caixa e tiramos o dinheiro. Ainda tem um pouco lá.

Logo que o cartão chegou, fiz uma primeira compra de arroz, feijão, essas coisas que achamos que ia faltar. Não pagamos aluguel, mas vivemos com dificuldade. Cozinho na lenha, porque o gás é caro [cerca de R$ 70 o botijão]. Mas não tenho fogão a lenha, não. Coloco uns tijolinhos em volta do fogo e dá para cozinhar.

Minha filha gosta de pesquisar receitas. Compramos umas coisas diferentes com o cartão do auxílio. Macarrão parafuso, por exemplo, eu nunca tinha comido. Ela fez com molho branco. Minha irmã também preparou uma lasanha, deu para experimentar umas novidades, né?

Porque a gente só comprava aquele macarrão normal fininho. Deu até para comprar um perfume da Avon que eu queria.

Aos poucos, voltamos a sair com a carroça, com máscara, tudo certinho. Mas os preços dos produtos caíram pela metade. A garrafa pet que custava R$ 1, está R$ 0,50. Espero que com o tempo volte ao normal.

Fran trabalha como auxiliar administrativo no Projeto Jovem Aprendiz e ajuda com o que pode. Ela colocou internet em casa, porque antes tinha que ir na casa de uma tia para conseguir estudar. Meu filho só estuda, por enquanto.

Meus filhos dizem que sentem muito orgulho do que faço. Por mais que seja um trabalho difícil, nunca deixei faltar nada para eles.

Nosso sonho agora é conseguir aumentar a nossa casa. Agradeço muito a ajuda do cartão. Pelo menos comida não faltou.”​

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