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'Para cada momento da vida, a gente tem uma melodia', diz bordadeira que vende versos

Integrante do Versinhos de Bem-Querer, um dos 30 destaques do Empreendor Social do Ano na categoria Ajuda Humanitária, garantiu renda na pandemia com o projeto

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Deborah Bresser
São Paulo

Marli de Jesus Costa, 41, foi uma das "cantadoras de versos" selecionadas para atuar no Versinhos de Bem-Querer, projeto de geração de renda voltado às bordadeiras do Vale do Jequitinhonha, que ficaram sem trabalho na pandemia. Ao resgatar a tradição cultural e criar plataforma online para venda dos poemas, a iniciatativa garantiu o sustento das bordadeiras e socorreu famílias de oito comunidades.

A iniciativa é uma das 30 premiadas no Empreendedor Social do Ano, na categoria Ajuda Humanitária. A seguir, a história da bordadeira Marli e seus versinhos.

*

"Meu pai é um cantador de versos, aprendi cantar com ele. Fazíamos a fogueira para assar banana, mandioca, e cantar em volta, rodando na ciranda, pulando a fogueira.

Vinha gente da vizinhança, era isso toda noite. Hoje em dia ele está de idade, não faz mais. Mas a gente ia para lavoura jogando verso na ida e na volta. Era tradicional. Eu mantenho a tradição, acho muito bonito.

Eu nasci em São Paulo, mas pai e mãe se casaram em Minas e se mudaram pra lá, mas me trouxeram de volta com 2 anos e hoje vivo na comunidade do Cortume. Eu participava do grupo de mulheres do Vale do Jequitinhonha, era o grupo de bordadeiras do Cortume.

Elisângela Pedroso, Karem Ferreira, Marli de Jesus Costa, Nalva Sousa e Viviane Fortes, são líderes e integrantes do projeto Versinhos de Bem-Querer, finalista do Empreendedor Social 2020 na categoria Ajuda Humanitária - Renato Stockler

Dei uma parada, quando a Viviane [Fortes, assistente social] me fez o convite para cantar, jogar verso. Eu topei. Mas ela disse que não sabia se ia funcionar, que era pra gente não ficar 'xoxinha' se não desse certo.

Desde criança, eu me adapto a qualquer cantiga. Não é o verso tradicional, que já guarda na cabeça, que fala de natureza, dos pássaros.

Os Versos de Bem-Querer tinham de descrever a personalidade de quem estava pedindo o verso. Vinha uma descrição, eu lia e ia pondo o ritmo, cantava. Já me acostumei e faço o verso rapidinho. Tem verso que depende da pessoa. Se for idosa, por exemplo, tem de ter coisas de acordo com tempo da pessoa. Para cada momento na vida da gente, tem uma melodia diferente.

Teve a história da filha do Chico Buarque, Helena, que encomendou dois versos. A Viviane pediu para eu mandar um verso para ele, só para agradar. Disse que era um cantor famoso. Eu cantei, mas não esperava uma resposta. Ele foi muito educado, agradável, respondeu com um vídeo e um verso muito bonito.

O projeto me trouxe mais confiança, uma forma de enxergar um mundo melhor. Quando a pandemia explodiu, vi que o verso pode levar amor, paz, tranquilidade. Você esquece das coisas lá fora ao ouvir alguma coisa que dá leveza na alma da gente.

Em primeiro lugar, sinto gratidão pelo projeto. É uma coisa simples que leva amor para as pessoas, reflete coisas boas. O verso levou esperança. É muito gratificante poder fazer parte e com coisas pequenas levar felicidade através da cantiga.

Pra mim também foi muito bom. Sou pobre. Minha casa estava bem ruinzinha, pude fazer minha cozinha, que ficou maravilhosa. Comprei fogão, arrumei por fora, botei telha, dei uma ajeitada.

E o projeto também pode angariar fundos para famílias mais carentes, que corriam o risco de não ter alimento nem ter remédio. Foi criado para ajudar essas famílias e conseguimos ajudar."

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