Além da morte de milhões de pessoas, a pandemia trouxe outra consequência tão dramática quanto: o aumento da pobreza extrema em todo o mundo.
Não faltam pesquisas sinalizando esse efeito lá fora e aqui no Brasil. No final de janeiro, a Folha trouxe reportagem mostrando que o país começou 2021 com mais miseráveis do que há uma década.
Segundo a FGV Social, com o fim do auxílio emergencial, 27 milhões de brasileiros passaram a viver com menos de R$ 246 ao mês neste começo de ano. Esse número representa 12,8% da população. É um percentual maior do que o registrado no início de 2019 (11%) e também acima do calculado no começo da última década (12,4%).
No outro extremo, os muito ricos têm ficado mais ricos. Levantamento publicado pelo banco suíço UBS mostrou que o montante em poder dos bilionários atingiu um novo pico, chegando a US$ 10,2 trilhões em julho de 2020. É um valor maior que os US$ 8,9 trilhões registrados no final de 2017.
No Brasil, a fortuna na mão dos bilionários subiu de US$ 127 bilhões, em 2019, para US$ 176 bilhões em 2020.
O que se vê é que a Covid-19 exacerbou as diferenças, mostrando que após a recessão vista no início de 2020, a economia tem tido uma “recuperação em K”, ou seja, com o topo da pirâmide social ficando cada vez mais longe da base.
A solução para este problema exige que todos os setores da sociedade assumam sua responsabilidade.
Historicamente atribuímos ao governo o dever de resolver as questões de desigualdade social. Mas o fato de pagarem impostos não tira das grandes companhias o dever de fazerem mais pela sociedade.
Após a globalização e com o surgimento de grandes multinacionais, há corporações que têm valor de mercado superior ao PIB de muitos países. Quer um exemplo? O market cap da Apple superou o PIB do Brasil em agosto do ano passado.
O segundo setor tem condição de fazer mais para ajudar na solução e será cada vez mais cobrado por consumidores e investidores. E é por isso defendo os investimentos de impacto.
As companhias precisam olhar não só o lucro, mas também os efeitos que suas decisões têm sobre a sociedade e sobre o meio ambiente. Não quero tirar do governo sua responsabilidade em buscar soluções, é também importante que ele assuma o seu papel. Da mesma forma, o terceiro setor precisa seguir fazendo sua parte.
Somente com a ação de todos que a pobreza será definitivamente eliminada. Esta é uma missão de todos nós. E meu desejo é que esta pandemia sirva de gatilho para iniciarmos a virada, olhando para o coletivo em primeiro lugar.
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