ONGs voltam a mobilizar empresas e pessoas físicas para novo socorro emergencial

Após boom de doações, que chegaram a R$ 6,5 bilhões no último ano, contribuições estacionaram, enquanto demanda volta a crescer na fase mais crítica da pandemia

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Deborah Bresser
São Paulo

Atualizado duas vezes por semana pela ABCR (Associação Brasileira dos Captadores de Recursos), o Monitor das Doações contabiliza um volume expressivo de R$ 6,5 bilhões em doações até a segunda semana de março, mas aponta também redução no ritmo e no volume de ajuda.

A maioria das contribuições ocorreu nos dois primeiros meses da pandemia e vem oscilando ao longo do tempo, com períodos em que o número de doações e os valores diminuíram drasticamente e até estacionaram.

O desafio agora é repetir o boom da filantropia e do investimento social privado, com destinação de recursos por parte de empresas, institutos e fundações para o enfrentamento da pandemia.

A exaustão por parte das pessoas e a insegurança financeira para as empresas podem explicar o vaivém das doações. Especialistas apontam o que fazer para reverter esse cenário de queda.

Pesquisa do Datafolha em parceria com a Ambev revelou que a falta de apoiadores financeiros (41%) é a principal queixa das ONGs, além de doações de materiais e equipamentos (13%) e voluntários para ajudarem a organização a se reerguer (11%).

Encontrar parceiros de negócios está cada vez mais complicado. Paula Fabiani, diretora-presidente do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), avalia que empresas estão destinando recursos e esforços para outras frentes. Ela cita a campanha Unidos pela Vacina. “Agora é preciso agilizar o processo de vacinação, eles estão se engajando de outras maneiras”, diz.

Em geral, explica Fabiani, o processo orcamentário no primeiro semestre tem muita incerteza. “Os empresários não sabem quanto vão perder. Não adianta doar dinheiro e mandar funcionário embora.”

As organizações, diz Fabiani, precisam entender os benefícios da filantropia. O relatório ‘Brasil Giving Report: Um Retrato da Doação no Brasil 2020’, do Idis, aponta que 86% das empresas devem apoiar as comunidades em que atuam e 81% são favoráveis a parcerias. Já 71%, dos entrevistados são mais propensos a comprar um produto de uma empresa que ajuda a comunidade local e investe na solução de questões sociais.

Entre as pessoas físicas, Fabiani identifica uma fadiga causada pela pandemia. “Está pior do que da primeira vez, o brasileiro está cansado, isso se reflete na falta de isolamento social e de engajamento, de buscar causas, fazer a doação."

Dados da pesquisa Omo/Datafolha, de outubro de 2020, mostram que 96% dos brasileiros buscam realizar ações para fazer o bem e promover um futuro melhor, mas muitas vezes não sabem como colocar essa solidariedade em prática. Apesar da intenção de ser mais solidário, apenas 27% efetivamente se envolvem em ações coletivas organizadas.

“Em parte a redução se dá porque a capacidade de doação é menor agora, e muita gente e empresas já doaram. Em parte porque outras causas foram se somando com o tempo, como as queimadas na Amazônia”, avalia João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR (Associação Brasileira dos Captadores de Recursos).

Carola Matarazzo, diretora-executiva do Movimento Bem Maior, também enxerga um esgotamento da sociedade. “As demandas foram escancaradas, a sociedade se mobilizou, o terceiro setor reafirmou sua vocação, mas há uma exaustão.”

Para ela, apesar do cansaço, é preciso olhar o próximo e ter responsabilidade, enxergar “que a gente como sociedade somos interdependentes, interligados”. Carola acredita numa recuperação dessa energia mobilizadora.

Se depender do novo perfil de doadores apontado no levantamento do Idis, há esperança do crescimento da cultura de doação. Em 2015, a palavra mais mencionada para falar sobre doação era ‘solidariedade’, agora a ‘empatia’ ocupou esse lugar.

Solidariedade soa mais como uma construção social, baseada em princípios morais, que visa o bem comum e gera compreensão, colaboração e participação. Já a empatia representa a capacidade psicológica de se colocar no lugar do outro. É uma resposta afetiva, baseada em um propósito interno e genuíno, que gera envolvimento, fusão e conexão.

Outra mudança em relação a 2015 são as causas mais populares. A proteção aos animais agora consta no grupo das prediletas, junto com crianças e idosos.

Em um segundo grupo estão saúde, calamidades, dependência química e moradores de rua. As duas últimas causas podem ter sido mais citadas pelo fato de os entrevistados serem da cidade de São Paulo. Em um terceiro grupo, em termos de preferência, aparecem educação, esportes e meio ambiente.

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